Mulheres ficam pouco tempo no hospital após o parto

Ter alta antes das 24 horas, como acontece no Egipto, tem vantagens económicas e desvantagens médicas
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Há um número significativo de mulheres a nível mundial que não permanece no hospital o tempo necessário após o parto. Portugal até é um bom exemplo, mas há países onde as mulheres que têm parto normal recebem alta antes de passarem as 24 horas, o período em que ocorrem mais complicações. Segundo um estudo publicado na revista Plos Medicine, os países devem rever as suas políticas, para que sejam prestados serviços de saúde pós-parto adequados às mães e aos recém nascidos.

A duração do internamento pós-parto varia muito consoante os países. No Egito, por exemplo, é de meio dia nos partos normais, enquanto na Ucrânia é de 6,2 dias. Entre os países com rendimentos mais elevados, a investigação indica que o Reino Unido é aquele onde a permanência no hospital para partos vaginais era mais curta.

Durante a estadia pós-parto, o objetivo é "monitorizar a saúde materna e do bebé, fornecendo informação sobre amamentação" e problemas que podem surgir. Quando a mulher que acabou de ser mãe não fica no hospital o tempo que deveria, pode não ser possível dar-lhe o apoio que ela necessita.

Citada pelo jornal espanhol ABC, Oona Campbell, co-autora do estudo, diz que "os dados são preocupantes, sobretudo em países com menos recursos económicos, onde o acesso aos cuidados depois de ter sido dada alta é, com frequência, limitado." Para a professora de Epidemiologia e Saúde Pública na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, "é crucial assegurar que as mulheres permanecem no hospital o tempo suficiente para que elas e os recém nascidos possam beneficiar de atenção especializada e de vigilância e tratamento eficaz."

Inglaterra e Holanda ficam aquém

Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF), confirma que "há países na Europa, como Inglaterra e Holanda, onde o tempo de internamento após o parto é quase sempre inferior a 24 horas, o que é muitíssimo curto." Este tipo de prática, prossegue, tem "vantagens económicas e desvantagens médicas", uma vez que "o risco de hemorragia pós parto ocorre nas primeiras 24 horas" depois de a mulher dar à luz.

Por muito que a mulher tenha frequentado as aulas de preparação para o parto e até se sinta preparada, "não está preparada - sobretudo quando é mãe pela primeira vez - para ao fim de meia dúzia de horas ir para casa com um recém-nascido, que ainda nem sequer se habituou à mama". Na opinião de Luís Graça, "não há nada que justifique que a mulher saia do hospital antes de completar 24 horas após o parto." Até porque, reforça, "as vantagens económicas acabam muitas vezes por se revelam contraproducentes", uma vez que surgem complicações, o que faz com que tenham de existir reinternamentos, com um risco maior de infeções.

Em Portugal, quando o parto é normal e ocorre sem qualquer tipo de complicações, a mulher fica, "em média, 36 horas" no hospital "para dar cobertura do risco de hemorragia pós-parto e permitir que haja o início da lactação." De 36 a 48 horas é, segundo o obstetra, o "aceitável" e aquilo que é seguido na maior parte dos países da Europa. Já quando ocorre uma cesariana, a mulher fica internada, em média, pelo menos três dias. "É uma intervenção cirúrgica, na qual se entra dentro do abdómen. Quer pela dor, quer pelo estabelecimento do trânsito intestinal, a necessidade de vigilância é mais apertada", explica o presidente da SPOMMF. No que diz respeito à medicina materno-fetal, Luís Graça lembra que "Portugal está entre os dez melhores do mundo."

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