Esta "foi a campanha mais caótica e estranha de sempre em Espanha". Quem o diz é Maria Val, politóloga e assessora de campanha da socialista Lara Méndez López, presidente da Câmara de Lugo - município da Galiza com 98 mil habitantes. "Ao longo destas duas semanas, os galegos têm observado, surpreendidos e algo desiludidos, a viragem e as consequências da mudança de liderança no Partido Popular" diz ao DN, acrescentando que após "a repentina saída de Mariano Rajoy do governo espanhol e da política, seguida da eleição de Pablo Casado como presidente do Partido Popular, muitas galegas e galegos de centro que sempre votaram no PP sentem-se órfãos". Isto porque Casado, que venceu em julho as primárias dos populares frente a Soraia Sáez de Santamaría e Dolores de Cospedal, tem apostado numa viragem mais à direita, abandonando o centro e o centro-direita que tão bons resultados eleitorais deu a Rajoy, entre 2011 e 2018..O número de indecisos para as eleições deste domingo é o maior de sempre: no início da campanha situava-se nos 42% e agora parece ter descido para os 30%. As mulheres são quem mais pode pesar, pois segundo a sondagem de março do Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS), elas compõem 45% dos indecisos. A crispação entre candidatos - e por vezes nas ruas - é maior do que nunca. "O PP tem na Galiza o seu bastião, já que nunca até agora perdeu nesta comunidade autonómica galega nenhuma eleição, seja para o Parlamento regional seja para as legislativas", recorda aquela politóloga.."É por isso que o próprio presidente do governo autónomo da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, um homem de centro, próximo de Rajoy, que não comunga da ideia de uma viragem à direita no PP, está a participar ativamente nesta campanha. Não é que seja propriamente candidato, mas sabe que sem a sua presença os populares podem perder votos decisivos, quer para o Ciudadanos quer para o PSOE", acrescenta a mesma responsável galega. O PP, que anteriormente se chamava Aliança Popular, foi fundado em janeiro de 1989 por um outro galego, Manuel Fraga Iribarne (falecido em 2012), um dos pais da Constituição espanhola. Maria Val recorda que "o partido tem em Feijóo, que não quis avançar para a liderança nacional do partido, depois da saída do poder de Rajoy, um dos seus trunfos para ganhar, tanto em popularidade como em número de votos"..Voto feminino decisivo.Nas últimas semanas, a agenda de Marta González, vice-secretária de Comunicação do PP e primeira na lista do seu partido pela província d'A Corunha, tem sido agitada por inúmeras viagens e comícios eleitorais por toda a Espanha. Em Santiago de Compostela, de onde é natural, tal como Rajoy, a responsável falou ao DN à margem de um debate sobre conciliação no trabalho entre mulheres e homens, organizado pela Associação Mujeres en Igualdad. Esta é presidida por Ana Isabel López Lorenzo, também militante do PP, que afirma: "Todos os partidos, PP incluído, deveriam olhar muito mais para nós, mulheres, que estamos aqui, na Galiza, um excelente exemplo de matriarcado e de luta diária em defesa do nosso papel na sociedade e de uma conciliação que ainda não temos.".É por isso que, sublinha a responsável daquela associação, "nós temos a chave destas eleições tão complexas e diferentes das anteriores". Também Marta González considera que "o voto das mulheres galegas, que maioritariamente têm apoiado o PP, vai ser decisivo". Para a vice-secretária de Comunicação do PP outra das chaves do resultado é "o voto encoberto, que sempre beneficiou a direita na Galiza, bem como os indecisos"..Questionada sobre o papel da mulher nesta campanha e sobre os direitos e políticas sociais que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, tem defendido nestes dez meses de governo, González não tem dúvidas: "É falso que o PSOE seja o único partido que tem feito alguma coisa pela conciliação familiar e pelas políticas sociais em Espanha. Nas listas do PP somos 44% de mulheres face a 46% de homens." A responsável popular acrescenta: "Lembro que a Galiza, em 2004, quando eu era diretora-geral da Igualdade da Xunta da Galiza, com Manuel Fraga, foi a primeira comunidade autonómica espanhola a aprovar uma lei pela igualdade e concedemos as primeiras licenças de paternidade, que depois foram aprovadas em toda a Espanha a partir de 2007.".A política galega constata também, com preocupação, a atenção dada à questão da Catalunha, em detrimento das outras regiões. Algo que se comprovou, aliás, nos dois debates televisivos desta semana entre Pedro Sánchez, Pablo Casado, Albert Rivera e Pablo Iglesias..Sem Rajoy PP caça com Feijóo.Rajoy não tem participado em muitos eventos partidários a nível nacional. Para além da Galiza. O silêncio do ex-primeiro-ministro contrasta com o protagonismo do seu antecessor, José María Aznar, que não se cansa de elogiar Casado. Das poucas vezes em que Rajoy quebrou esse silêncio - que mantém desde que foi afastado do poder pela moção de censura de Sánchez e aliados - foi para participar, com Feijóo, em comícios com os militantes regionais..No dia 12 de abril, numa ação de apoio à candidata Ana Pastor em Pontevedra, cidade onde cresceu, Rajoy alertou para as nuvens negras que pairam sobre a economia espanhola. "Ainda que queiram fazer parecer que isso não importa e estejam mais interessados em falar de Franco." Feijóo tem feito, por isso, enorme esforço físico para estar nos eventos do PP na Galiza. "Porque sabe que a única coisa que pode evitar a derrota do PP na Galiza neste domingo é ele próprio", conclui a politóloga Maria Val..*Correspondente da rádio Cadena Cope e do jornal La Voz de Galicia