Mulheres do PSD recebem formação, mas estão divididas sobre estatuto autónomo no partido
A Academia de Formação Política para Mulheres é assim que se chama. Tem a primeira edição este final de semana e destina-se a preparar as militantes do PSD para a atividade política. O líder do PSD, Rui Rio, associa-se à iniciativa num jantar-debate.
A iniciativa é promovida pelo Instituto Francisco Sá Carneiro, o PSD e as Mulheres Social-Democratas (MSD), em parceria com a Fundação Konrad Adenauer. A formação destina-se a um máximo de 30 militantes e será semelhante à que é feita nas áreas da juventude, trabalho e autarquias.
"As destinatárias da primeira formação são as mulheres social-democratas, membros do PSD, que pretendem potenciar a sua capacidade de intervenção e participar de forma mais ativa, não apenas no espaço do PSD, mas sobretudo na vida política, económica e social do país", refere a proposta de inscrição.
A Academia, que é dirigida por Lina Lopes, coordenadora do MSD, que terá vários formadores na área da política, da liderança, de economia e das questões de género, começa esta sexta-feira e prolonga-se durante o fim de semana.
Este é mais um passo para a ambição das Mulheres Social Democratas virem a ser reconhecidas nos Estatutos do PSD como estrutura autónoma, à semelhança do que acontece com a JSD, os TSD e os ASD. Nas propostas de revisão de estatutos - que foram adiadas para o próximo Conselho Nacional, em novembro - está a consagração desse organismo, até agora informal.
Mas este reconhecimento não é pacifico e divide as próprias mulheres dentro do partido. Ao DN, a presidente da concelhia do PSD de Sintra, Ana Isabel Valente, entende que "a criação de uma organização especial dentro do Partido para defender os interesses das mulheres é espartilhar o debate, é colocá-lo numa caixinha. O tempo das manifestações de mulheres em defesa dos direitos cívicos está datado. É do princípio do século passado".
Aquela dirigente reconhece que existem problemas na sociedade quanto à igualdade de género, "O facto de biologicamente eu ter dois cromossomas X em vez de um cromossoma X e um cromossoma Y não pode justificar eu ter um salário mais baixo, não pode justificar que eu seja preterida para cargos de direção, não pode justificar a violência doméstica, não pode justificar a violência com origem religiosa ou cultural sobre as meninas e mulheres, não pode justificar o maior número de horas de trabalho não remunerado para as mulheres e por aí fora. Poderia estar aqui muito tempo a enumerar o que não pode ser justificado por esta diferença biológica. Isto, em pleno século XXI, com a alvorada dos robots e da inteligência artificial."
Mas sublinha, que em matéria da igualdade o PSD não pede meças a ninguém. "Temos no nosso seio militantes ilustres que se bateram e batem arduamente pelos direitos das mulheres". Lembra que Leonor Beleza tomou posse como secretária de Estado e como Ministra e não como secretário de Estado e ministro, porque assim o exigiu. A Engª Lurdes Pintassilgo, em contrapartida, tomou posse e assinava como primeiro-ministro. O PSD foi o primeiro Partido em Portugal a ter como líder e candidata a primeira-ministra, uma mulher, Manuela Ferreira Leite. E que foi o único partido a indicar uma mulher, Assunção Esteves, para presidente da Assembleia da República.
Também a maior estrutura das MSD, a distrital do Porto, coordenada por Maria da Trindade Vale, rejeitou recentemente ter o mesmo estatuto que a JSD, ASD e TSD. E no último Conselho Nacional do partido, em setembro, entregou um comunicado no qual defende que a ideia de equiparar as MSD a estruturas como a JSD, os TSD ou os ASD é uma "proposta esvaziada de conteúdo" e acrescenta que as mulheres se devem impor no PSD pelo "mérito e competência".
No texto argumentavam que as mulheres sociais-democratas são iguais aos homens sociais-democratas e que devem ser tratadas como tal. "Querer tratá-las como uma organização especial dentro dos estatutos do partido era criar um estigma de uma espécie de capitis deminutio, reconhecendo, institucionalmente, uma capacidade diminuída às mulheres, o que, se deverá evitar".