Moukoko. O miúdo de 15 anos que pode alterar as regras do futebol alemão
Chama-se Youssoufa Moukoko, tem apenas 15 anos (feitos em novembro), joga nas camadas jovens do Borussia Dortmund, farta-se de marcar golos e muito por sua causa o futebol alemão pode em breve vir a mudar as regras.
As duas principais ligas alemãs só permitem que um jogador atue a nível profissional se tiver 18 anos ou então jogue com regularidade pela equipa de sub-19 do respetivo clube. Foi esta última exceção que permitiu a Nuri Sahin, futebolista turco nascido na Alemanha, estrear-se no campeonato alemão em 2005, com 16 anos e 334 dias. Curiosamente, também pelo Dortmund. Foi o mais novo até hoje.
Agora, a reboque da discussão em torno de Moukoko, que dá nas vistas desde os 12 anos, a situação vai levar mesmo os responsáveis alemães a rever as regras. E a proposta para que um jogador possa jogar a nível profissional com 16 anos, sem precisar de regras de exceção, será discutida numa reunião que está agendada para março onde irão participar os clubes da I e II liga germânica.
O Dortmund está obviamente a favor desta alteração da lei, até porque assim poderia incorporar Youssoufa Moukoko na equipa principal já na próxima temporada, a partir de novembro, quando o avançado completa 16 anos. Isto apesar de já estar a jogar pelos sub-19.
"Neste momento estamos em desvantagem em relação a outros campeonatos e em competições internacionais, porque não podemos integrar nas equipas profissionais os jovens com talentos excecionais", defendeu o diretor das categorias de base do Borussia Dortmund, Lars Ricken. "Há diversos casos de jogadores que não quiseram vir jogar na Bundesliga porque sabiam que poderiam jogar profissionalmente antes em outros países", acrescentou.
Mas nem todos os treinadores estão a favor desta alteração, como é o caso de Julian Nagelsmann, técnico do RB Leipzig, de apenas 32 anos. "Não sou muito apologista desta proposta. Se subo os jogadores mais cedo, eles ficarão mais cedo sob pressão e sob o foco dos media. Não sou cientista e não estudei isso à exaustão, mas acho difícil de acreditar que seja bom para o desenvolvimento de um jovem poder jogar na Bundesliga com 16 anos", acrescentou.
Também a favor da alteração desta lei está o Borussia Mönchengladbach. "Os tempos mudaram. Se um miúdo de 16 anos é bom jogador por que é que não pode atuar ao mais alto nível? Na Alemanha temos sido demasiado rigorosos com esta questão. Obviamente que lançar um miúdo na equipa principal com esta idade dá-nos mais responsabilidade e é preciso sermos mais sensíveis do que com um jogador de 20 anos. Mas há talentos excecionais e que merecem oportunidades", defendeu Max Eberl, diretor desportivo do G'ladbach.
Moukoko é um prodígio. E não é de agora. Aos 12 anos já era internacional sub-16 pela Alemanha e atuava pelos sub-17 do Dortmund. Aliás, nesta categoria foi um dos grandes responsáveis pelo título conquistado pela sua equipa, com 46 golos marcados em apenas 25 jogos.
O jogador, nascido nos Camarões, passou a vida a queimar etapas. E em agosto de 2019, ainda com 14 anos, já ao serviço da equipa de sub-19 do Dortmund, voltou a deixar o futebol alemão de boca aberta, quando na estreia na categoria apontou seis golos. Neste momento, com 14 jogos disputados, já leva 22 golos apontados.
À semelhança de outros prodígios africanos que se destacam desde muito novos, surgiram dúvidas sobre a real idade do futebolista que chegou à Alemanha com 10 anos e começou a jogar no St. Pauli.
Uma polémica que inicialmente foi alimentada pelo seu treinador dos sub-16 do Dortmund, que de forma inocente chegou a dizer que talvez o jovem fosse um ou dois anos mais velho, mas que não tinha culpa disso. Estas declarações tiveram na altura uma enorme projeção, mas foram de pronto desmentidas pelo diretor das camadas jovens do Dortmund e pelo próprio pai de Moukoko: "Logo que ele nasceu, registei-o no consulado alemão em Yaoundé [Camarões]. Ele não podia ser mais velho, até porque a mãe só tem 28 anos", defendeu na altura o progenitor, quando Moukoko já brilhava nos relvados com apenas 12 anos. Mas o pai sempre recusou fazer testes relacionados com a idade do filho.
Em dezembro, o Dortmund anunciou que o avançado estava finalmente disponível para poder treinar com a equipa principal. E também neste caso foi necessário resolver questões burocráticas, relacionadas com o seguro, que no seu caso, por ser menor, apenas era válido ao serviço dos escalões jovens.
Os números de Moukoko são impressionantes e não é por acaso que o jogador é acompanhado de perto pelo treinador Lucien Favre e que o Dortmund está a fazer todos os possíveis para alterar os regulamentos atuais para o poder lançar às feras. Desde que se mudou do St. Pauli para o Dortmund, em 2016, marcou mais de 100 golos em cerca de meia centena de jogos.
"Quero tornar-me profissional ao serviço do Dortmund, conquistar uma Liga dos Campeões pelo clube e vencer a Bola de Ouro", disse recentemente numa entrevista ao Bild. Apesar de já ter representado os escalões jovens da seleção alemã, o facto de ter nascido nos Camarões torna-o elegível pelo país africano para a seleção principal.
Mas também esta situação já está a ser tratada ao mais alto nível. Recentemente, o selecionador germânico, Joachim Löw, confirmou que já falou do assunto com os responsáveis do Dortmund. "Toda a gente envolvida está bem avisada e documentada. Vamos esperar e deixá-lo crescer em paz", referiu.
As grandes atuações e todo o mediatismo em seu redor já chamaram a atenção de vários clubes. Mas não só. De acordo com o jornal alemão Bild, no ano passado a marca desportiva Nike assinou um contrato com Youssoufa Moukoko (tinha na altura 14 anos) no valor (para já) de um milhão de euros. Mas o acordo, válido por vários anos, contempla outras cláusulas e pode chegar aos 10 milhões de euros. Uma das condições é precisamente que o avançado se torne profissional.
E é assim, debaixo de todo este mediatismo, mas protegido pelos responsáveis do Dortmund, que Moukoko vai evoluindo, ele que em novembro, quando completou 15 anos, recebeu uma prenda especial: uma camisola autografada por Lionel Messi, o seu maior ídolo no futebol, que tal como ele é canhoto. Outro dos seus ídolos é Cristiano Ronaldo. E foi por isso em que em agosto, depois de marcar seis golos num jogo dos sub-19, imitou os festejos de CR7.