Motoristas. Grevistas começam a dar sinais de cedência

O Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas começou o dia, ontem, a prometer que "hoje ninguém vai fazer nada" e acabou-o a disponibilizar-se para dialogar com a Antram - que só o fará se a greve for suspensa. Governo recusou alargar requisição civil. PSD interrompeu silêncio.
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O dia começou, ainda antes da oito da manhã, com o porta-voz do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) a ameaçar radicalizar a greve, iniciada na segunda-feira.

"Ninguém vai cumprir nem serviços mínimos nem requisição civil, não vão fazer absolutamente nada", dizia, em Aveiras de Cima, Pardal Henriques, afirmando ser esta a forma de os grevistas se solidarizarem com outros (14) que foram notificados pelas autoridades por não terem cumprido a requisição civil (algo que pode levar à acusação de desobediência, crime passível de pena de prisão até dois anos).

Quase nove horas depois, cerca das 16.00, a retórica sindical ainda era agressiva - mas na verdade a substância da proposta apontava num sentido de tentativa de aproximação de posições.

"Queria lançar aqui um desafio público ao Dr. André Almeida, à Antram [associação do patronato do setor], para que amanhã [hoje, 15 de agosto], às 15.00, possa estar na DGERT [Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho] para falar connosco", disse Pardal Henriques, em declarações aos jornalistas, em Aveiras de Cima.

O porta-voz do SNMMP desafiava, assim, os responsáveis do patronato a sentarem-se à mesa das negociações, para encontrar uma proposta que agrade a ambas as partes para fazer terminar a greve. "Cabe à Antram dar um passo atrás para evitar o caos em Portugal. A tendência é piorar."

Para Pardal Henriques, se não houver entendimento, a responsabilidade do que poderá acontecer no futuro caberá ao governo e à Antram. O advogado pediu ainda aos governantes para terminar, com o que considera ser "uma palhaçada". "A responsabilidade do que virá daqui para a frente cabe única e exclusivamente à Antram, ao governo e ao Dr. André Almeida [porta-voz da Antram], que tem proferido expressões lamentáveis contra estes motoristas."

Quase às 23.00, a Antram respondeu ao desafio, dizendo com a exigência habitual: só fala com os sindicatos grevistas se estes suspenderem a greve. Antes tinha anunciado um acordo "histórico" com a Fectrans, a estrutura sindical, próxima do PCP, que não alinhou na greve, sobre um novo contrato coletivo para os trabalhadores do setor. O governo, pelo meio, apelou às partes em confronto para efetivamente iniciarem um caminho de diálogo. A Fectrans, pelo seu lado, dizia que este acordo esvaziaria parte importante dos motivos da greve.

Pela hora do almoço, o ministro do Ambiente procedia a um novo balanço sobre os efeitos da paralisação, admitindo aí que os limites da requisição civil poderiam ser alargados. Havia expectativa de que a situação de falta de produtividade na Companhia Logística de Combustíveis (CLC), em Aveiras de Cima, "ainda" se viesse a resolver.

Ao fim da tarde, o Ministério do Ambiente esclarecia "não ser necessária, neste momento, a revisão dos termos da requisição civil em vigor". O SNMMP denunciou que dois grevistas haviam sido detidos por desobedecer à requisição civil - algo que a GNR depois desmentiria. Os trabalhadores foram apenas notificados de que incorriam no crime de desobediência - e terão decidido então voltar ao trabalho.

"Feita a avaliação do cumprimento dos serviços mínimos, conclui-se que, até às 19.00 de quarta-feira, 14 de agosto, estes foram genericamente cumpridos", lia-se no comunicado.

O qual dizia ainda: "Os únicos casos de incumprimento dos serviços mínimos registados prendem-se com o transporte de JET para os aeroportos de Lisboa e de Faro, situações que já estão abrangidas pela requisição civil em vigor. Neste momento, 18 equipas das Forças de Segurança e das Forças Armadas estão a fazer o transporte de combustível para o aeroporto de Lisboa e seis equipas da GNR a fazer serviço idêntico para o aeroporto de Faro."

O dia serviu também para a direção nacional do PSD interromper um silêncio que já durava há dias (Rui Rio está de férias). David Justino, vice-presidente do partido, aconselhou o governo a apostar todos os recursos "no restabelecimento das negociações" em relação à greve dos motoristas, inclusivamente a suspender a requisição civil desde que as outras partes abandonem as suas "posições irredutíveis".

Segundo disse, o governo "e as forças que o apoiam" estão "num beco sem saída e sem condições para recuos". "Neste contexto, o PSD aconselha o governo a apostar todos os seus recursos no restabelecimento das negociações, mesmo que para tal seja necessário suspender a requisição civil e desde que as posições irredutíveis dos sindicatos e dos representantes do patronato possam ser superadas, nomeadamente pela suspensão da greve - tal como já foi recentemente sugerido pelo presidente do PSD - e pela negociação sem condições prévias."

Ou seja, "não há outra solução para resolver a atual crise" que não passe pela negociação. "Ou há negociação e as partes têm a coragem de abdicar dos seus instrumentos de influência para se sentarem à mesa e tentarem encontrar uma solução, ou então não há nenhuma solução."

Para o executivo ficou ainda uma acusação: a de "dramatizar" a situação "na esperança de conseguir dividendos políticos".

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