Economia. Moscovici alerta que UE deve estar "vigilante"

O comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros defendeu esta quarta-feira que a União Europeia (UE) deve estar "vigilante" em relação à situação económica, admitindo ser possível que o crescimento volte a abrandar, sem equacionar, porém, uma recessão.
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Em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, Pierre Moscovici afirmou que "a situação [económica na zona euro e na UE] exige vigilância e vontade política para recorrer a todos os instrumentos disponíveis para manter o crescimento".

"Estou vigilante. Penso que a UE está agora numa posição sólida, há crescimento a acontecer em todos os Estados-membros, mas não podemos ignorar que os riscos apontam para um abrandamento e, nesse caso, teremos de ser capazes de criar recursos políticos estratégicos", insistiu o responsável francês.

Prestes a terminar o mandato, Pierre Moscovici fez um retrato da atual situação económica na UE, apontando que "há crescimento [económico] em todo o lado", e aludiu a indicadores como o emprego e o desemprego para, respetivamente, falar num "recorde" e em "níveis mínimos desde 2008".

"Apesar disso, não significa que tudo esteja bem", admitiu, referindo estar "consciente de que a Europa está exposta a incertezas económicas a nível mundial, no que toca a tensões comerciais, pressões geopolíticas e também ao elevado risco de uma saída sem acordo do Reino Unido da UE".

Pierre Moscovici apontou que nas próximas previsões económicas que a Comissão Europeia vai apresentar, no início de novembro, os números podem revelar a mesma tendência prevista por outras instituições, de um abrandamento nos próximos anos, situação que não lhe parece ser "irrealista".

Ainda assim, o comissário europeu rejeitou estar em causa uma recessão. "Um abrandamento não nega o facto de a economia na zona euro estar robusta", vincou.

Nas previsões económicas intercalares de verão, as mais recentes e que foram divulgadas em julho, a Comissão Europeia antecipou que a zona euro cresça 1,2% este ano, tal como já estava estimado, mas reviu em baixa o crescimento do próximo ano para 1,4%.

Na entrevista à Lusa, Pierre Moscovici destacou os casos de Alemanha, França e Itália. No que toca à Alemanha, defendeu que, como o país está muito "exposto às flutuações do comércio mundial", nomeadamente no setor automóvel, deve "fazer mais para investir na sua própria segurança, mas também na estabilidade da UE como um todo". Relativamente a França, sublinhou que o país deve "manter os seus esforços para terem contas equilibradas".

Segundo Pierre Moscovici, o mesmo se aplica a Itália, país relativamente ao qual assinalou que "a Comissão está a trabalhar, de forma positiva, com o novo governo em relação ao novo orçamento", nomeadamente após Bruxelas ter suspendido o procedimento por défice excessivo.

Para o comissário europeu, "a política monetária não pode ser a única em jogo, devendo ser complementada com política orçamental apropriada", segundo afirmou à Lusa, citando o presidente do Banco Central Europeu (BCE) em funções, Mario Draghi. "Se houver um abrandamento [da economia], isto será absolutamente necessário", reforçou.

Ainda assim, realçou que, "tal como Portugal deve muito a António Costa e a Mário Centeno [respetivamente, o primeiro-ministro e o até agora ministro das Finanças], a Europa deve prestar um tributo a Mario Draghi". "Sem ele, a integridade da UE já estaria danificada e penso que ele fez um grande trabalho no BCE", concluiu.

Antigo ministro francês das Finanças, Pierre Moscovici está prestes a terminar o mandato de comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, cargo que assumiu em 2014, dado não fazer parte do novo executivo comunitário liderado pela alemã Ursula von der Leyen e que entra em funções no início de novembro.

Portugal devia ter orgulho em Centeno

O comissário europeu defendeu também que Portugal "deveria estar orgulhoso" por ter Mário Centeno à frente do Eurogrupo, mas apontou que o responsável português tem como desafio criar um "orçamento ideal" para a zona euro.

Prestes a terminar o mandato, o socialista francês apontou ter trabalhado, nestes cinco anos, "em condições bastante favoráveis" com Mário Centeno, tanto enquanto ministro português das Finanças, como na liderança do Eurogrupo, que assumiu em dezembro de 2017.

Questionado se considera Centeno como o "Ronaldo das Finanças", como já foi apelidado, Pierre Moscovici afirmou não ser "comentador desportivo". Mas, acrescentou, "é claro que ele já marcou alguns golos".

"Quando um país tem sucesso, isso deve-se, em primeiro lugar, às pessoas, aos portugueses, que são formidáveis e sabem receber muito bem", mas também "à liderança de António Costa [primeiro-ministro] e também à boa conduta de Mário Centeno", observou.

O comissário francês acrescentou que "sem políticas fiscais e de incentivo ao investimento Portugal não estaria como está", análise que disse ser imparcial, apesar de ambos os responsáveis -- Costa e Centeno -- serem seus "amigos pessoais".

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