Morte de David Sassoli. Bandeiras a meia haste num "dia triste para a Europa"

Sassoli estava em Berlim em 1989 e foi testemunha da reunificação da Alemanha.
Publicado a
Atualizado a

As bandeiras da União Europeia foram na manhã desta terça-feira colocadas a meia haste, nas instituições em Bruxelas, em sinal de luto pela morte do presidente do Parlamento Europeu.

A presidente da Comissão Europeia expressou o seu voto de pesar "num dia triste para a Europa", pelo desaparecimento de David Sassoli, "um homem bom e de sorriso fácil" que também foi jornalista e testemunha da história europeia.

"Em 1989 ele estava em Berlim, entre os jovens europeus, quando caiu o muro", lembrou a presidente da Comissão, vincando que "desde então [Sassoli] esteve sempre do lado da democracia e da Europa Unida".

"Hoje a nossa União perde um europeísta convicto, um democrata sincero e um homem bom", afirmou em italiano, considerando que mais tarde, enquanto político, Sassoli conservou o mesmo perfil.

"Durante uma década no parlamento europeu, ele defendeu constantemente a nossa união e os valores. Mas Ele também acreditou que a Europa deve lutar por mais", frisou, apontando que ele "queria que a Europa fosse mais unida e próxima das pessoas, mas fiel aos nossos valores.

"Este é o legado dele, e é assim que vou lembrar-me dele: como um campeão de justiça e solidariedade, e como um querido amigo", afirmou numa mensagem vídeo, em que aparece vestida de negro.

David Maria Sassoli foi eleito presidente do Parlamento Europeu em 3 de julho de 2019. No seu discurso de posse expressou preocupação com o "vírus" do nacionalismo, assumindo-se como um europeísta, com uma receita para o futuro comunitário.

"Temos de recuperar o espírito dos pais fundadores do espírito de Ventotene daqueles que souberam pôr de lado as hostilidades da guerra para pôr fim aos fracassos do nacionalismo, dando-nos um projeto capaz de combinar paz, democracia, direitos de desenvolvimento e igualdade" afirmou.

Destacando a importância da memória histórica da Europa, Sassoli apelava à responsabilidade das futuras gerações de políticos, "aos filhos e netos daqueles que conseguiram encontrar o antídoto para essa degeneração nacionalista que envenenou nossa história".

"Se somos europeus é também porque estamos todos apaixonados pelos nossos países. Mas o nacionalismo que se torna ideologia e idolatria produz vírus e pode produzir conflitos destrutivos", alertou.

Há menos de um mês, na última aparição pública, na cimeira de 16 e 17 dezembro, David Sassoli afirmava que a abordagem europeia será agora a resposta para o vírus sanitário da covid -19, que afeta a Europa desde o início de 2020.

"Dissemos no início da pandemia que não poderíamos sair desta crise sem uma política europeia de saúde humana, (...) o que se fez é muito tardio porque muitos países querem fazer outros países por conta própria", criticou, considerando que o resultado é que "temos uma Europa desigual, temos uma Europa que reage com medidas diferentes".

A concluir o relato sobre a sua derradeira intervenção perante os 27, numa cimeira europeia, Sassoli expressou o desejo por uma Europa que "não nos pare".

"Ter uma Europa que inova, protege", é ao mesmo tempo "um farol, porque não encontramos o modelo democrático europeu com muita frequência em todo o mundo", afirmou.

Sassoli morreu esta terça-feira aos 65 anos, num hospital na cidade italiana de Aviano, onde estava internado desde o dia 26 de dezembro, devido a "complicações graves", causadas por uma "disfunção do sistema imunitário".

A sua morte causou consternação nas instituições europeias. De imediato vários responsáveis em Bruxelas reagiram ao "desaparecimento prematuro" de David Sassoli.

"Um líder democrático e um europeísta. Um homem claro, generoso, alegre e popular", foi assim que o comissário da Economia, o italiano Paoli Gentiloni recordou o presidente do Parlamento europeu, dizendo que este "é um dia terrível para todos em Itália".

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que acolheu David Sassoli no arranque das cimeiras, descreveu o italiano como "um europeu sincero e apaixonado, caloroso e de grande generosidade".

O antigo comissário europeu e mais recentemente negociador do Brexit, Michel Barnier lembrou David Sassoli como um político que presidiu o Parlamento Europeu "com autoridade e tolerância", sendo "um democrata esclarecido", de quem "não esquece confiança amigável na negociação do Brexit".

O vice-presidente da Comissão europeia, Frans Timmermenas despediu-se do amigo dizendo que "a bondade dele foi uma inspiração para todos que o conheciam".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt