Morta no México primeira mulher chefe de polícia
Ainda não cumprira dois meses à frente da polícia municipal da cidade de Meoqui, no estado de Chihuahua, fronteiriço aos Estados Unidos, e dirigia-se ontem para mais um dia de trabalho, quando o seu automóvel foi interceptado por dois outros veículos, forçada a sair e alvejada à queima-roupa com sete tiros de AK-47.
Chamava-se Hermila Garcia Baeza, tinha 38 anos e era uma das quatro mulheres a chefiar as forças de segurança municipais neste estado mexicano, considerado o mais violento no país.
É em Chihuahua que se situa Ciudad Juárez, onde já morreram 2700 pessoas este ano, devido ao conflito entre os cartéis de Juárez e de Sinaloa. Conflito que se estende a todo o estado e envolve outros cartéis no combate pelo controlo dos trajectos de entrada de estupefacientes nos Estados Unidos.
O presidente do Município de Meoqui garantiu que Garcia Baeza, ou A Chefe como preferia ser chamada, nunca lhe disse ter recebido ameaças de morte e não investigava qualquer caso ligado ao narcotráfico. A Chefe não era casada nem tinha filhos. Foi a primeira mulher em funções de chefia das forças de segurança a ser morta pelo narcotráfico.
Uma justificação para este assassínio, indicavam alguns media mexicanos, poderia ser a retaliação pela detenção de dirigentes do narcotráfico e pela captura de carregamentos de estupefacientes.
Com a morte da chefe da polícia municipal de Meoqui, apenas três mulheres dirigem estas forças de segurança no estado de Chihuahua: Olga Herrera Castillo, de 43 anos, Verónica Ríos Ontiveros, de 31 anos, e Marisol Valles, de 20 anos, que não terminou ainda os estudos de criminologia. A razão para estas mulheres assumirem funções de chefia policial resulta da ausência de candidatos masculinos, amedrontados com o nível de risco na profissão e, por outro lado, com os baixos salários. A título de exemplo, um oficial da polícia municipal ganha cerca de 230 euros por mês, um "soldado" dos cartéis recebe mais de mil euros.
Um exemplo macabro da guerra de cartéis foi revelado quase em simultâneo com a notícia da morte de Garcia Baeza. As autoridades anunciaram a descoberta de 18 corpos em avançado estado de decomposição em 11 valas, nos arredores de Puerto Palomas, cidade fronteiriça com o Novo México.
Os corpos apresentavam marcas de bala, encontrando-se a seu lado projécteis de 9 e 45 mm; pelo estado de decomposição aparentavam terem sido mortos há oito semanas, segundo a polícia.
A existência das valas foi revelada na passada semana por cinco indivíduos capturados pelos militares em Puerto Palomas, em resultado de denúncia anónima. Os detidos tinham consigo 176 quilos de marijuana, granadas e munições, mas nenhuma arma.
A polícia referiu estarem a decorrer exames ao ADN dos mortos para saber se algum integra as mais de 40 pessoas raptadas em Chihuahua, entre elementos dos cartéis e empresários. Estes são muitas vezes feitos reféns pelo narcotráfico como forma suplementar de financiamento.
No plano do combate ao narcotráfico, a polícia anunciou ainda a detenção do líder de um cartel menor, o da Família Michoacana, baseado neste estado do Sul do México.