Morreu Odete Santos, antiga deputada do PCP. Tinha 82 anos

Estava desde 1974 no PCP, partido que a recorda como "mulher de Abril, destacada deputada e dirigente comunista". Marcelo lembra-a como "uma das mais carismáticas" do Parlamento.
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Morreu Odete Santos, antiga deputada do PCP, aos 82 anos, informou esta quarta-feira o partido. "Mulher de Abril, destacada deputada e dirigente comunista", enalteceu o PCP.

"É com profundo pesar que o Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português cumpre o doloroso dever de informar o falecimento de Odete Santos aos 82 anos de idade e transmite à família as suas condolências", lê-se no comunicado do PCP enviado às redações.

Membro do partido desde 1974, Odete Santos integrou a Comissão Concelhia de Setúbal, a Direção da Organização Regional de Setúbal e o Comité Central do PCP, do qual fez parte de 2000 a 2012.

Foi deputada da Assembleia da República, de novembro de 1980 a abril de 2007. "Destacou-se em áreas dos Direitos, Liberdades e Garantias, na defesa dos direitos dos trabalhadores e dos direitos das mulheres", recordou o PCP, destacando a intervenção de Odete Santos "na conquista de novos direitos para as mulheres, nomeadamente o combate ao aborto clandestino e pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez de que foi principal rosto na Assembleia da República."

Maria Odete Santos nasceu a 26 de abril de 1941, na freguesia de Pêga, concelho da Guarda. Estudou no Liceu de Setúbal, licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo exercido advocacia durante anos, como refere o PCP.

Uma mulher de cultura que, "desde muito jovem, teve intervenção cultural e antifascista em associações de cultura e recreio do distrito de Setúbal, nomeadamente no Clube de Campismo de Setúbal. Foi esse ativismo e intervenção que suscitaram a perseguição da PIDE/DGS, a polícia política do regime fascista", recordou o PCP.

Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, Odete Santos fez parte da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Setúbal. "Entre muitas das suas intervenções na nova vida democrática do concelho está o seu papel como principal impulsionadora da criação do Teatro de Animação de Setúbal (TAS), onde representou conhecidos dramaturgos", indicou o partido.

"É autora dos livros "Em Maio há cerejas" (Ausência, 2003) e "A Bruxa Hipátia - o cérebro tem sexo?" (Página a Página, 2010), e de uma colectânea de poesia (jornal Público) "A argamassa dos poemas", onde Odete Santos através de autores que 'amava' prestou homenagem aos que fizeram da poesia uma das mais belas e fortes armas de intervenção", segundo refere o comunicado.

PCP lembrou que "nas ruas de Setúbal" Odete Santos "disse poesia de Bocage". "Sucessivas gerações ouviram e recordam a força que imprimiu ao declamar "Calçada de Carriche" de António Gedeão. Teve ainda participação nos anos de 2004 e 2005 em Teatro de Revista no Parque Mayer", destacou o partido comunista.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte da comunista Odete Santos, lembrando-a como uma das deputadas mais carismáticas do parlamento e enaltecendo a sua "coerência, coragem e irreverência".

"Foi com profundo pesar que o Presidente da República tomou conhecimento da morte de Odete Santos", lê-se numa nota publicada no site oficial da Presidência da República.

O chefe de Estado lembra Odete Santos como "uma das deputadas mais carismáticas da Assembleia da República, reconhecida por todas as bancadas pela coerência e coragem com que assumia posições, bem como pela irreverência e energia com que defendia os valores em que acreditava".

Na nota é referido que Odete Santos "exerceu o mandato durante 27 anos, entre a II e a X Legislaturas, empenhando-se, especialmente, na defesa das minorias, na proteção dos direitos humanos, dos trabalhadores e das mulheres".

"Ao longo da sua vida teve ainda tempo para se dedicar, com igual empenho, à vida autárquica, à cultura (quer publicando livros, quer como atriz, levando ao teatro, para a verem atuar, personalidades de diferentes quadrantes políticos) e, ainda, à resolução alternativa de litígios (sendo de sublinhar o importante papel que desempenhou nos Julgados de Paz)", lê-se na nota.

O Presidente da República apresentou à família, amigos e ao Partido Comunista "as mais sentidas condolências".

O primeiro-ministro, António Costa, manifestou hoje o seu pesar pela morte da ex-deputada comunista Odete Santos, que classificou como "notável parlamentar", endereçando as suas condolências ao PCP, à família e amigos.

"Neste momento de pesar recordo a competência, a acutilância e o humor de Odete Santos. Juntos discutimos e construímos, por exemplo, os Julgados de Paz. Uma saudosa e notável parlamentar que fica na memória", escreveu António Costa na sua conta na rede social X (antigo Twitter).

Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, lamentou a morte da "destacada deputada" comunista Odete Santos.

"Lamento a morte de Odete Santos, que foi uma destacada deputada à Assembleia da República em várias legislaturas. Apresento condolências à sua família e ao Grupo Parlamentar do PCP", lê-se na conta oficial da segunda figura institucional do Estado na rede 'X' (antigo Twitter).

Ana Catarina Mendes, ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, lamentou a morte de Odete Santos e recordou o seu "profundo contributo" para a "construção da democracia".

"Foi com profunda tristeza que soube do falecimento de Odete Santos", disse em nota enviada à comunicação social. "Enquanto ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, é incontornável recordar hoje o profundo contributo de Odete Santos para a construção da democracia e o brilhante papel que desempenhou enquanto deputada à Assembleia da República durante quase três décadas", afirmou.

A ministra Adjunta lembra a antiga dirigente comunista como "uma incansável lutadora não só pelos direitos dos trabalhadores, como sobretudo pela igualdade de género e pelos direitos das mulheres em Portugal".

"Recordo hoje com orgulho as batalhas em que tive a sorte de a acompanhar, como foram os casos da aprovação das uniões de facto a casais do mesmo sexo ou pelo direito à interrupção voluntária da gravidez", acrescentou.

O presidente do PSD, Luís Montenegro, manifestou o seu pesar pela morte da antiga deputada Odete Santos, lembrando que tiveram diferenças de opinião, "mas envolvidas num respeito intelectual e político únicos".

Numa mensagem na rede social X (antigo Twitter), Montenegro apresenta condolências ao PCP e à família da antiga deputada e dirigente comunista, cuja morte aos 82 anos foi hoje anunciada pelo Secretariado do Comité Central do PCP.

"Partilhei com ela centenas de horas de trabalho legislativo, carregadas de diferenças de opinião mas envolvidas num respeito intelectual e político únicos. A democracia é isso: Convicção e Tolerância", defendeu Montenegro.

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