Morreu este sábado em Lisboa o sociólogo Paquete de Oliveira, provedor do leitor do Público e ex-provedor do telespectador da RTP.
Ao longo de uma carreira multifacetada, o sociólogo, que foi vítima de cancro, ficou conhecido do grande público quando se tornou comentador residente do programa Casos de Polícia, da SIC, entre 1992 e 1997. A comunicação social foi sempre o seu campo de ação privilegiado, apesar de ter passado as últimas décadas ligado à docência. Jubilara-se do ISCTE em 2006.
O velório de Paquete de Oliveira está a decorrer na Basílica da Estrela. A missa de corpo presente realiza-se domingo, pelas 14.15. O funeral sairá pelas 15.30 para o cemitério dos Olivais, onde o corpo será cremado.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte de Paquete de Oliveira, sublinhando que é "uma perda para a comunidade académica e para o mundo da comunicação social portuguesa". "Paquete de Oliveira deixa um contributo incontornável no jornalismo, na universidade, na investigação relativa aos 'mass media'", refere a mensagem publicada no site da Presidência da República.
Madeirense, natural do Funchal, José Manuel Paquete de Oliveira iniciou a carreira como jornalista em 1959 na ilha natal; entrou na redação do Jornal da Madeira aos 23 anos, como padre e chefe de redação. "Tive grandes problemas com a censura", disse ao DN quando deixou o último dos seus cargos públicos, como provedor do espectador da RTP, em abril de 2011. Na Madeira, começara no jornalismo num período conturbado e, com o arranque do Concílio Vaticano II, foi rapidamente desviado para Roma, em Itália, onde frequentou a Universidade Gregoriana. Estudou sociologia, um curso que, à data, não existia sequer em Portugal.
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Regressou a Portugal só em janeiro de 1974. Desvincula-se da igreja e, depois do 25 de abril, preparava-se para embarcar para o Brasil com uma bolsa do Banco Mundial. Mas acabou por regressar aos jornais: dirigiu o Diário de Notícias da Madeira durante o PREC (Período Revolucionário em Curso) e chegou a admitir que, na altura, fora considerado "um perigoso comunista".
Dois anos depois, em 1976, demitiu-se do jornal e mudou-se para Lisboa. Foi nessa altura que entregou a carteira profissional e iniciou uma vida sempre ligada à docência. Primeiro no Ministério da Educação, depois no Instituto de Ciências Sociais e Políticas e no Instituto Superior de Economia, mais tarde no ISCTE e também no Centro de Estudos Judiciários. Porém, nunca deixou os jornais: escreveu para o Expresso, Jornal de Notícias, Diário de Notícias e para o Diário de Lisboa, entre outros.
Na sua "nova vida social" em Lisboa - como a descrevia - acabou por ser considerado para o cargo de provedor do espectador da RTP devido ao extenso currículo, que aliava o exercício profissional com o percurso académico. "Foi o meu último exame oral", disse ao DN, recordando a prova após a qual assumiu o cargo. Estávamos em 2006. Deixou a RTP em 2011 mas, apesar de manifestar a vontade de passar nessa altura "a acordar sem agenda", aceitou o convite do Público e, em 2013, tornou-se o provedor do leitor do jornal, assinando todas as semanas uma crónica naquele diário.
Paquete de Oliveira era casado com Céu Neves, grande repórter do Diário de Notícias, e pai de dois filhos.
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Com Susete Francisco