É oficial. Morreu o médico chinês que denunciou o coronavírus

Está confirmada a morte de Li Wenliang no hospital onde estava internado, infetado com o coronavírus, O Hospital Central de Wuhan diz, em declaração oficial, que morreu às 2.58 da madrugada, hora da China, apesar de todos os esforços para o salvar.
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É oficial. O médico chinês que tentou emitir os primeiros alertas sobre o surto mortal de coronavírus e denunciou que não estavam a ser tomadas as medidas urgentes necessárias morreu devido à infeção com este vírus, confirma o Hospital Central de Wuhan, onde estava internado, que durante o dia tinha dado conta que o óbito não estava confirmado, que ainda lutavam para o reanimar.

A confirmação coloca um ponto final numa sucessão caótica de notícias com origem na China. Agora o hospital admite que Li Wenliang morreu e divulga mesmo a hora da morte, 2.58 da madrugada (hora chinesa), noticia o South Morning Post e outros media chineses.

Antes, após a morte ter sido avançada, o hospital tinha desmentido. "Na luta contra a epidemia de pneumonia da nova infeção por coronavírus, o oftalmologista do nosso hospital, Li Wenliang, infelizmente foi infetado. Ele está atualmente em estado crítico e estamos fazendo o possível para ressuscitá-lo", afirmou o hospital de Wuhan na sua conta oficial do Weibo, uma espécie de Twitter chinês.

Vários meios de comunicação chineses estatais, incluindo Beijing News e Global Times, tinham noticiado a morte de Li, levando a uma manifestação de luto e homenagem tanto nas redes sociais chinesas como até na Organização Mundial de Saúde, que mais tarde veio a público esclarecer que só foram expressas condolências em resposta a uma pergunta mas a OMS, na realidade, não tinha informação sobre o estado de saúde de Li Wenliang.

Uma jornalista do South Morning Post resumiu no Twitter o sentimento nas redes sociais chinesas, onde o médico é agora visto como um herói. Após se saber que Wenliang teve uma paragem cardíaca mas ainda se faziam esforços para o salvar, as mensagens dos chineses eram de fé e esperança. "Esta noite não dormimos, mas o Li tem que acordar", era a frase que dominava na internet.

Li Wenliang trabalhava como oftalmologista no Hospital Central de Wuhan quando enviou um alerta sobre o vírus a colegas médicos em 30 de dezembro. Depois, a polícia abordou Wenliang e pediu que parasse de divulgar a informação, enquanto as autoridades tentavam manter as notícias em segredo.

O oftalmologista divulgou a sua história no site Weibo, quando já estava numa cama de hospital, um mês depois de fazer o alerta.

Li, 34 anos, havia notado sete casos de um vírus que inicialmente julgou ser SARS - o vírus que levou a uma epidemia global em 2003. Em 30 de dezembro, o médico enviou uma mensagem a um grupo de colegas, alertando-os para usar roupas de proteção para evitar infeções.

Quatro dias depois, foi convocado para o Serviço de Segurança Pública, onde pediram para assinar uma carta, em que era acusado de "fazer comentários falsos" que "perturbaram severamente a ordem social".

Wenliang foi uma das oito pessoas que a polícia disse que estavam a ser investigadas por "espalhar boatos". As autoridades locais mais tarde pediram desculpas ao jovem médico.

Na semana passada, o Supremo Tribunal Popular da China publicou um documento sobre informações falsas e boatos, tendo abordado o caso do médico e dos seus colegas. Salientava que, embora estar em causa uma nova estirpe de vírus (o coronavírus) e não SARS, a génese da informação era verdadeira, criticando a atuação policial.

"Embora a nova pneumonia não seja SARS , o conteúdo publicado não é completamente fabricado. Se o público tiver ouvido esse "boato" na época e adotado medidas como usar máscara, fazer uma desinfeção rigorosa e evitar ir ao mercado de animais selvagens com base no pânico sobre a SARS, essa poderá ter ser a melhor maneira de prevenir e controlar novas pneumonias hoje. Felizmente", escreveu o tribunal.

O oftalmologista tornou-se um herói nacional, um símbolo da luta contra o silêncio do governo. Disse ao site Caixin que temeu por retaliações do hospital, que o punissem por "espalhar boatos", mas sentiu-se aliviado depois do tribunal superior criticar publicamente a polícia. "Acho que deveria haver mais de uma voz numa sociedade saudável e não aprovo o uso do poder público para interferências excessivas", disse Li.

No seu post no Weibo, descreveu como em 10 de janeiro começou a tossir, no dia seguinte estava com febre e dois dias depois estava no hospital. Foi diagnosticado com o coronavírus em 30 de janeiro.

O coronavírus já matou mais de 560 pessoas e infetou mais de 28000 na China e em mais de 20 países.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) chegou a comentar a morte do médico. Esta quinta-feira, um diretor da OMS expressou tristeza com a notícia da morte. "Estamos muito tristes ao saber da perda de Li Wenliang", disse Mike Ryan, diretor do programa de Emergências em Saúde da OMS, quando questionado sobre a morte do médico durante uma conferência de imprensa sobre o coronavírus, em Genebra. "Deveríamos celebrar a sua vida e lamentar a sua morte", acrescentou Ryan.

Mais tarde, a OMS esclareceu que Ryan deu como certas as informações dos jornalistas mas a verdade é que a OMS desconhece em que condições se encontra o médico chinês.

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