Morreu o embaixador denunciante da manipulação na guerra do Iraque
O antigo embaixador dos EUA Joseph Wilson, que desencadeou uma tempestade política ao contestar informações da espionagem norte-americana usadas para justificar a invasão do Iraque em 2003, morreu na sexta-feira, com 69 anos, informou a ex-mulher.
Wilson morreu em Santa Fé, detalhou a ex-mulher, Valerie Plame, cuja identidade como operacional da CIA foi revelada pela Casa Branca dias depois das críticas que fez aos serviços de informações norte-americanos, que asseguravam que o antigo líder iraquiano Saddam Hussein procurava comprar urânio.
A exposição de Plame foi um escândalo para o governo de George W. Bush, que conduziu à condenação de Lewis "Scooter" Libby, assessor do vice-presidente Dick Cheney, por mentir aos investigadores e obstrução à justiça.
O atual Presidente norte-americano, Donald Trump, perdou Libby em 2018.
Plame, que está a concorrer a um lugar no Congresso pelo Partido Democrata, classificou o seu ex-marido como "um verdadeiro herói norte-americano, um patriota, com um coração de leão". Plame e Wilson mudaram-se para Santa Fé em 2007, com dois filhos, e divorciaram-se em 2017.
Em 2002, Wilson deslocou-se ao Níger para investigar alegações de que Saddam Hussein estava a procurar comprar urânio, que podia ser usado para produzir armas nucleares.
A relação de Plame com a CIA foi revelada em uma coluna de um jornal dias depois de Wilson assinar um artigo de opinião no The New York Times, em que dizia que o governo de Bush estava a usar informações antigas para justificar a promoção da guerra. Mais tarde, Wilson acusou membros do governo de colocarem a sua família em risco.
Natural do Estado do Connecticut e graduado pela Universidade da Califórnia em Santa Barbara, a carreira diplomática de Wilson incluiu postos em vários Estados africanos. Wilson foi o diplomata principal em Bagdade durante a primeira guerra do Golfo, entre 1990 e 1991, e foi o último representante dos EUA a reunir-se com Saddam Hussein antes da ofensiva militar, designada Tempestade do Deserto.
Plame fez o livro "Fair Game" sobre a denúncia da sua condição de agente da CIA que veio a ser levado ao cinema em 2010, protagonizado por Sean Penn e Naomi Watts.
Num vídeo de lançamento da sua campanha eleitoral, Plame realçou o fim da sua carreira na CIA e a decisão de Trump perdoar o seu denunciante: "A minha carreira foi acabada quando o meu próprio governo me traiu. E, senhor Presidente, temos umas contas para acertar".