Morreu o ator José Lopes. "Morreu sozinho numa tenda onde vivia, sem meios para se sustentar"

Amigos do ator, com carreira no teatro e no cinema, anunciaram a morte nas redes sociais e estão a pedir donativos para o funeral.
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O ator José Lopes morreu aos 61 anos, tendo sido encontrado por um amigo na tenda onde vivia. "Aos 61 anos, este andarilho da cultura foi encontrado morto na tenda onde dormia (desde que a Segurança Social lhe cortara o rendimento mínimo), nos arrabaldes de Sintra, junto a uma estação de comboios... Não se sabe a hora nem o dia em que tal facto aconteceu. Dizem que morreu de causa desconhecida...", escreve um amigo no Facebook.

Outros amigos partilharam esse texto e outros, apelando aos donativos para se ajudar a pagar o funeral. O velório será na Igreja de São Cristóvão, na Mouraria, nesta quarta-feira, entre as 17.00 e as 23.00, com o funeral a partir na quinta-feira às 15.00 para o Cemitério da Ajuda", segundo as informações partilhadas no Instagram pela atriz Ângela Pinto.

"Morreu sozinho numa tenda onde vivia, sem meios dignos para se sustentar", escreveu a atriz Carla Vasconcelos, também no Facebook, acrescentando: "Temos de ser corajosos para ser artista nesta merda a que chamamos país e ainda manda o politicamente correcto que nele haja orgulho."

O escritor Rui Zink dá também conta da morte do ator no seu Facebook. "E agora vem a notícia de que o Zé Lopes também já foi, encontrado no tugúrio onde morava por um amigo um par de dias depois de morrer. Agora há um pedido de donativos solidários para lhe pagar o enterro, e não escapa a muitos de nós que melhor teria sido tal ser feito em vida. Não o funeral, mas o donativo solidário, para viver. Para não ser enterrado em vida, precisamente."

Segundo o texto do amigo António Alves Fernandes, José Manuel Lopes nasceu a 31 de março de 1958. "Casapiano, frequentou o curso de Antropologia Social, mas cedo se interessou pelo teatro", enumerando entre as peças que entrou Os Negros, de Jean Genet, ou Vida e Morte de Bamba, de Lope de Vega. No cinema, entrou em filmes como Adeus Lisboa, de João Rodrigues, ou Longe, de José Oliveira. Colaborou com Luís Miguel Cintra na disciplina de Direção de Atores na Escola Superior de Teatro e Cinema.

"A vida proporcionou-lhe aplausos nos palcos de teatro, nas salas de cinema, nos convívios culturais, mas também se atravessou com muitos espinhos: um divórcio muito complicado, uma precariedade que afeta os verdadeiros artistas que não se vendem por 'dá cá aquela palha', um desemprego de longa duração, o fado português de o mérito artístico não ser reconhecido, a doença e a pobreza extrema", escreve António Alves Fernandes, explicando que durante muito tempo recusou ajuda e, apesar de doente, perguntava sempre pela saúde dos outros.

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