Morreu ex-presidente de Israel e Nobel da Paz Shimon Peres
O ex-presidente de Israel e Nobel da Paz Shimon Peres morreu hoje. O estadista de 93 anos morreu por volta das 03:00 (01:00 em Lisboa), semanas depois de ter sofrido um AVC, a 13 de setembro.
Peres era o último sobrevivente da geração dos "pais fundadores" de Israel e foi um dos principais artesãos dos acordos de Oslo, assinados com os palestinianos em 1990, o que lhe valeu a atribuição do Nobel da Paz em 1994.
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Artífice da segurança de Israel - sem nunca ter sequer passado pelo exército - Shimon Peres ocupou todos e cada um dos cargos possíveis, a partir dos quais deixou um indelével contributo para o desenvolvimento tecnológico, económico e militar do seu país.
[destaque:Peres nasceu na Polónia, mas foi ainda criança para a Palestina, então sob mandato britânico]
Peres nasceu na Polónia a 2 de agosto de 1923, e chegou ainda criança, com a sua família, à Palestina, então sob mandato britânico. Com menos de 20 anos, foi descoberto pelo fundador de Israel, David Ben Gurion, ao lado do qual viveu a criação do Estado judeu em 1948, dirigiu o Serviço Naval e liderou a missão do Ministério da Defesa israelita nos Estados Unidos, enquanto estudou em Harvard e em Nova Iorque.
O seu contributo mais reconhecido internacionalmente foi o de impulsionar da aproximação entre palestinianos e israelitas que culminou, em 1993, com o reconhecimento israelita da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o início de um processo de negociações que aproximou como nunca ambas as partes no sonho da paz e que deveria ter conduzido à criação de um Estado palestiniano.
Apesar de a paz ter sido 'truncada' em 2000 pela Segunda Intifada e de as partes não terem conseguido voltar a encarrilar um diálogo frutífero, Shimon Peres continuou a erguer a bandeira da solução de dois Estados e tornou-se numa voz conciliadora em prol da paz numa região submersa num conflito que dura há mais de um século.
[destaque:Peres era um defensor da ideia dos dois Estados]
Shimon Peres foi o israelita que mais tempo exerceu a função de deputado, após entrar para o Parlamento em 1959 e servir ininterruptamente até 2007, altura em que foi eleito Presidente.
Um dos primeiros cargos políticos de Shimon Peres foi o de subdiretor-geral do Ministério da Defesa, nos anos 1950, tutela a que regressaria como ministro duas décadas mais tarde. Nesta primeira etapa da sua carreira política, Peres é reconhecido por ter estabelecido uma crucial aliança com a França, que concedeu a Israel a sua histórica supremacia aérea regional e o seu programa nuclear.
Shimon Peres contribuiu com Ben Gurion para a reunificação dos movimentos socialistas no Partido Trabalhista, pelo qual exerceu o cargo de ministro em cinco pastas desde 1969 até à disputa pela liderança do partido, em 1974, em que foi derrotado pelo mais carismático Isaac Rabin.
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Após a demissão de Isaac Rabin, três anos mais tarde, devido a um escândalo político, Peres foi por um breve período de tempo, primeiro-ministro, cargo que deixaria ao sair perdedor das eleições de 1977 diante do conservador Menahem Begin.
Nas duas décadas seguintes, continuou na liderança do Partido Trabalhista e as suas tentativas para chegar ao governo (em 1981, 1984, 1988 e 1990) foram infrutíferas. Isto apesar de ter sido primeiro-ministro entre 1984 e 1986 no âmbito de um acordo de rotatividade com Isaac Shamir do Likud.
Contra a posição de Isaac Shamir, Shimon Peres lançou durante aqueles anos uma campanha de contactos com líderes árabes e abriu um canal de comunicação informal com figuras palestinianas.
Uma manobra política em falso - fez cair um governo confiando no apoio de partidos ultraortodoxos que depois o negaram -, a par com a rivalidade que mantinha com Rabin e a crescente influência de este levaram-no a voltar a perder a liderança trabalhista em 1992, começando a criar-se a sua fama em Israel de "eterno perdedor".
Rabin, o seu rival más acérrimo, nomeou-o nesse mesmo ano ministro dos Negócios Estrangeiros, o que daria lugar a um período de cooperação fora do comum entre ambos e que abriu caminho aos acordos de Oslo, assinados com os palestinianos em 1990, que os levaria a partilhar o Nobel da Paz, a par com o ex-presidente palestiniano Yasser Arafat.
Peres investiu o dinheiro do prémio na criação do Centro Peres para a Paz, para promover a coexistência entre árabes e judeus.
Depois do assassínio de Rabin, em 1995, voltou a assumir a chefia do Governo até ser derrotado por Benjamin Netanyahu em maio de 1996, deixando depois o partido nas mãos do general retirado Ehud Barak.
Falhou a presidência em 2000, quando perdeu para o então quase desconhecido Moshe Katsav, mas alcançou-a finalmente em 2007. Como chefe de Estado, cargo que abandonou em 2014, aos 91 anos, viveu a sua época dourada, em que rivais e aliados lhe reconhecem méritos, ganhando o mais elevado reconhecimento da cidadania israelita.
Em sete décadas de carreira, foi primeiro-ministro por duas vezes, ministro em 16 governos, deputado durante 48 anos e chefe de Estado ao longo de sete.
Shimon Peres sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) a 13 de setembro e encontrava-se hospitalizado desde então. Internado na unidade de cuidados intensivos, estava sedado e com respiração assistida. Morreu hoje, aos 93 anos, no hospital, onde o seu corpo deve permanecer até quinta-feira, altura em que o corpo deverá ser transferido para Jerusalém, passando pela aldeia de Benshemen, onde estudou, que fica no caminho entre o hospital e a cidade santa, de acordo com a rádio pública israelita.
Vai a enterrar na sexta-feira na secção reservada aos "grandes da Nação" do cemitério do Monte Herzl, em Jerusalém, numa cerimónia de Estado.