Morreu ex-deputada do PS Maria Carrilho

A ex-eurodeputada do PS e socióloga morreu aos 78 anos devido a uma leucemia fulminante.
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A ex-eurodeputada socialista Maria Carrilho morreu na madrugada deste domingo no Hospital CUF Tejo, em Lisboa, onde se encontrava internada há cerca de três semanas.

António Costa Pinto foi dos primeiros a assinalar no Facebook o falecimento da socióloga, especializada em assuntos de Defesa. O politólogo recordou o percurso de Maria Carrilho, que também foi deputada do PS durante largos anos.

"Exilada política em Itália durante a última fase da Ditadura, escreveu inicialmente sobre as lutas de libertação nas colónias portuguesas e esteve próxima do Partido Comunista Italiano", escreveu António Costa Pinto, que foi seu colega no ISCTE e de quem era "amigo".

"A sua obra sobre o papel dos militares na mudança política em Portugal foi pioneira, dedicando-se a seguir ao estudo das Forças Armadas. Foi membro da direção do Partido Socialista e deputada ao Parlamento Europeu, mas foi sobretudo uma das mulheres de maior sensibilidade e cultura artística que conheci. Teve uma vida cheia e soube sobretudo aproveitá-la, o que nem todos conseguem fazer", acrescentou ainda Costa Pinto.

Maria Carrilho foi deputada do PS durante os governos de António Guterres e José Sócrates, foi membro do Secretariado Nacional do PS e deputada ao Parlamento Europeu entre 1999 e 2004. A socialista chegou a ser modelo.

O Presidente da República também publicou uma nota no site oficial de Belém a homenagear Maria Carrilho. Marcelo Rebelo de Sousa evoca o seu percurso académica, que classifica de "notável", aliado "a uma relevante experiência política como deputada à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu, conseguiu uma articulação virtuosa entre pensamento e ação, vanguardismo analítico e coerência ideológica, em especial nas áreas a que dedicou a sua vida, a Defesa, os Negócios Estrangeiros e os Direitos Humanos."

Marcelo recorda que a socialista deixa uma obra "incontornável" sobre o estudo das relações civis e militares no século XX português, sobre o papel de Portugal nos sucessivos contextos internacionais, sobre o papel da mulher nas Forças Armadas e ainda" um contributo singular para uma avaliação sistemática da opinião pública às grandes questões da segurança e defesa no Portugal democrático."

O presidente da Assembleia da República recordou Maria Carrilho como uma das "maiores especialistas na área da Defesa", com um "longo percurso de vida dedicada à causa pública".

Em comunicado, Eduardo Ferro Rodrigues disse ter sido "com tristeza" que teve conhecimento "do falecimento, esta madrugada, aos 78 anos, de Maria Carrilho", que caracterizou como sendo uma das "maiores especialistas na área da Defesa e das Forças Armadas" em Portugal.

Ferro Rodrigues disse que a "forte ligação e amizade" que o unia a Maria Carrilho - assim como ao seu marido, Afonso de Barros, "também desaparecido nos anos 90 do século passado" - constituía para ele "motivo de grande honra e alegria".

"À sua família e amigos, assim como ao grupo parlamentar do Partido Socialista, endereço, em meu nome e em nome da Assembleia da República, as mais sentidas condolências", frisou.

O ministro da Defesa Nacional lembrou-a como uma "pioneira" e "uma mulher sempre comprometida com a Europa e o futuro europeu de Portugal".

"Maria Carrilho foi uma pioneira, sendo a primeira mulher em Portugal a dedicar-se a temas da Defesa e das Forças Armadas. Muito respeitada academicamente, ela teve a ousadia de investigar temas que, à época, eram considerados reservados a homens, muito enriquecendo esta área de estudos", frisou João Gomes Cravinho, numa nota enviada à agência Lusa.

Segundo o ministro, Maria Carrilho "foi também uma mulher sempre comprometida com a Europa e com o futuro europeu de Portugal".

"Deixou-nos uma importante e significativa obra sobre a relação entre a Europa e os Estados Unidos no domínio da Defesa", referiu.

A diretora do Instituto de Defesa Nacional, Helena Carreiras, considerou que a antiga deputada foi uma académica conceituada e abriu novos horizontes nas questões de Defesa, antes quase só reservadas a homens.

"Iniciou em Portugal os estudos sociológicos e políticos sobre os militares e sobre a relação das Forças Armadas com a sociedade civil. Saliento também o papel ao nível da entrada das mulheres nas Forças Armadas", apontou a diretora do Instituto de Defesa Nacional.

Sobre a evolução registada pelo país ao longo das últimas décadas, a diretora do Instituto de Defesa Nacional deixou ainda mais uma nota: "Abordou temas que eram reserva de homens". "Maria Carrilho esteve na oposição ao Estado Novo, foi uma lutadora e uma mulher que abriu novos horizontes", acrescentou.

Professora Catedrática do ISCTE, Maria Carrilho licenciou-se em sociologia pela Universidade de Roma, tendo feito doutoramento em sociologia política pela Universidade Técnica de Lisboa, e era coordenadora do mestrado em Estudos Europeus no ISCTE.

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