Morreu Olivia de Havilland aos 104 anos. A última estrela clássica de Hollywood

Atriz de "E Tudo o Vento Levou", mas também "A Herdeira", de William Wyler, e "As Aventuras de Robin dos Bosques", de Michael Curtiz, Olivia de Havilland, venceu dois Óscares e era o último grande nome da era de ouro de Hollywood. Morreu em Paris aos 104 anos.
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Depois da morte de Kirk Douglas no passado mês de fevereiro, aos 103 anos, só restava do tempo da Hollywood clássica uma figura de topo: Olivia de Havilland. Morreu este domingo, na sua casa em Paris, "pacificamente durante o sono", segundo confirmou a sua agente Lisa Goldberg à publicação Entertainment Weekly. Contava 104 anos. Agora sim, apagaram-se as luzes da era de ouro da indústria cinematográfica americana.

Irmã de outra estrela de Hollywood, Joan Fontaine (1917-2013), e apesar de discreta nos aspetos da vida pessoal, a imprensa sempre procurou alimentar a rivalidade entre as duas, como se fosse uma questão de estatuetas douradas (Fontaine venceu apenas uma por Suspeita, de Hitchcock). Uma certa imagem distorcida que pegou, e que se vislumbra na minissérie de Ryan Murphy, Feud (2017), a qual desagradou a atriz pelo modo como se viu retratada. Mas a sua longa vida e uma carreira bem gerida é o que deve ficar na memória, para além do grande talento.

Foi pelo seu papel secundário, Melanie, em E Tudo o Vento Levou (1939) que De Havilland recebeu a primeira de várias nomeações para o Óscar, tendo vencido dois com as interpretações em Lágrimas de Mãe (1946), de Mitchell Leisen, e A Herdeira (1949), de William Wyler, essa que é das suas personagens mais emblemáticas, desde logo porque foi um papel escolhido pela própria depois de ter visto a adaptação ao palco do texto de Henry James, Washington Square. No filme, De Havilland protagoniza uma mulher a debater-se com as questões à volta do amor e de uma fortuna que lhe foi deixada pelo pai. Por coincidência, A Herdeira passou neste último sábado na Cinemateca.

Outros papéis de destaque encontram-se em filmes como o magnífico noir O Espelho da Alma (1946), onde assume a pele de duas irmãs gémeas, ainda Com a Maldade na Alma (1964), de Robert Aldrich, a contracenar com o "monstro" Bette Davis, ou a comédia de Raoul Walsh, Uma Loira com Açúcar (1941), em que oferece um belíssimo contraste com a femme fatale Rita Hayworth

Começou o seu percurso no grande ecrã ligada à imagem da "rapariga em apuros" salva pelo herói nos filmes de aventuras protagonizados por Errol Flynn e realizados por Michael Curtiz - O Capitão Blood (1935), A Carga da Brigada Ligeira (1936), As Aventuras de Robin dos Bosques (1938) - mas foi uma mulher forte que saiu dessas primeiras experiências. De Havilland ficou conhecida sobretudo pela sua firmeza contra a lógica do "studio system" que, basicamente, tornava os atores marionetas da vontade dos grandes estúdios, estes que lhes escolhiam os papéis e orientavam a carreira. Assim, em 1943, processou a Warner Bros., venceu, libertou-se das artimanhas do contrato e abriu um precedente, conseguindo em 1945 a aprovação de uma lei que desobrigou outros atores das condições aprisionadoras dos estúdios (a famosa "The De Havilland Decision").

Olivia Mary de Havilland nasceu em Tóquio a 1 de julho de 1916, filha de um advogado e de uma atriz, sendo ela e a Joan Fontaine levadas a seguir os seus passos. Mudou-se aos 3 anos para os Estados Unidos, Califórnia, juntamente com a mãe e a irmã, e a sua primeira experiência assinalável como atriz foi o filme Sonho de Uma Noite de Verão (1935), adaptação da peça de Shakespeare dirigida por William Dieterle e Max Reinhardt em estilo de grande produção. Rapidamente entrou na órbita de Hollywood e atravessou a sua história com pulso firme e muita elegância. Talvez seja essa característica, associada a uma sofisticação dramática e graciosidade, que marcou a sua presença na grande tela. Aí, preferiu sempre interpretar as boas raparigas, porque dizia que exigiam mais trabalho do que as más.

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