O futuro de Sérgio Moro está no Eixo Monumental, a avenida central de Brasília onde se situam, a uma distância de meros 500 metros, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, opinam a maioria dos observadores políticos brasileiros. Se depender de Jair Bolsonaro, soube-se agora, o seu ministro da Justiça vai sentar-se entre os juízes da mais alta corte do Brasil já a partir de 2020 e não na cadeira de presidente da República do país. Se depender do próprio Moro, não se sabe..Num intervalo de poucas horas, o presidente disse que combinou com ele indicá-lo ao STF à primeira oportunidade. O ministro negou qualquer acordo nesse sentido.."A primeira vaga que tiver no STF, eu tenho esse compromisso com o Moro, eu vou indicá-lo, e pretendo, pretendo não, se Deus quiser, nós vamos cumprir esse compromisso", disse Bolsonaro em entrevista à Rádio Bandeirantes na noite de domingo. "Eu fiz esse compromisso com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura. Eu falei-lhe: 'A primeira vaga que houver lá está à sua disposição'.".Bolsonaro afirmou que Moro no STF "será um grande aliado" do país e que será "aplaudido pela nação". Ele sublinhou, no entanto, que todos os indicados à suprema corte têm de ser ouvidos e aprovados pelo Senado. "Sei que não lhe falta competência para ser aprovado lá mas é uma sabatina técnica e política.".Horas depois de vir a público esta entrevista de Bolsonaro, o ministro da Justiça deu uma versão diferente do suposto compromisso entre ambos durante uma palestra em Curitiba. "Ele foi eleito, fez-me o convite e fui até à casa dele no Rio de Janeiro. Não vou receber um convite para ser ministro e estabelecer condições sobre as circunstâncias de um futuro que não se pode controlar. O que eu levei ao presidente foi: 'Presidente, eu quero trabalhar contra a corrupção, o crime organizado e o crime violento. Esse tem fr ser o foco do Ministério da Justiça e Segurança Pública'. E houve uma convergência de pautas."."Quando surgir a vaga isso vai ser discutido, antes não, fico extremamente honrado com a posição do presidente, claro, fui magistrado durante 22 anos, todo o magistrado tem o sonho de compor o STF, mas isso não é algo com o que eu me preocupe no momento. No fundo, foco apenas no trabalho do Ministério da Justiça e Segurança Pública.".Nos próximos dois anos, duas vagas devem ser abertas no STF: os juízes Celso de Mello, em novembro de 2020, e Marco Aurélio Mello, em julho de 2021, completam 75 anos, idade limite para estar na casa. Pelas contas de Bolsonaro, logo após a saída de Celso, entraria Moro por indicação presidencial..No entanto, o Senado estuda incluir no texto da reforma da previdência, em discussão no Congresso Nacional, uma cláusula que aumenta para 80 anos a idade de aposentadoria dos juízes da suprema corte. Caso seja aprovada, atrasaria a promoção de Moro em cinco anos. Ou seja, seria decidida pelo próximo presidente - que pode ser Bolsonaro, se for reeleito, ou outro..E no que depender da classe política de Brasília, que não morre de amores por Moro, a quem acusa de perseguição na Lava-Jato, esse aumento da idade da reforma será mesmo aprovado..O objetivo da declaração de Bolsonaro, entretanto, é visto sobretudo como uma forma de sossegar o seu ministro mais mediático e com mais potencial eleitoral. Surge dias depois de, em discussão num comissão na Câmara dos Deputados, o governo e o PSL, partido do presidente, terem abdicado de manter o COAF, órgão de controlo financeiro, sob a alçada de Moro, que era uma exigência do ex-juiz..Essa derrota de Moro, talvez a mais pesada desde que assumiu o cargo, junta-se a outras em que o ex-chefe da Lava-Jato não terá sentido a proteção do presidente. Como o pacote anticrime que a sua equipa redigiu, cuja discussão continua sem avançar no parlamento, mais uma vez por falta de coordenação e esforço do PSL. E naquele pacote, por ordem do Planalto, a criminalização da caixa dois (saco azul, em Portugal) será votada separadamente, contrariando a opinião do ministro..Por outro lado, no caso do decreto sobre a facilitação de armas, liderado pelo próprio Bolsonaro, as sugestões de Moro, no sentido de haver mais moderação, não foram levadas em conta. Finalmente, a nomeação, pelo ministro, de uma especialista em segurança pública conotada com a esquerda para sua conselheira acabaria vetada pelo próprio presidente..Há quem leia na vontade de Bolsonaro de colocar Moro no STF uma tentativa também de manter fora da órbita da presidência um eventual concorrente de peso ao próprio presidente. Enquanto a aprovação a Bolsonaro cai nas sondagens a ritmo apressado, a de Moro permanece mais sólida. O ministro já antes das eleições de 2018 era considerado um candidato poderoso ao Planalto, caso concorresse..No entanto, Bolsonaro disse em Israel, num desabafo, que não pretende recandidatar-se. No seu campo, o nome de Moro, do atual ministro da Economia Paulo Guedes e de João Doria, governador de São Paulo com convergência de opiniões com o atual presidente, são os mais falados. Além do de Hamilton Mourão, o vice-presidente com quem Bolsonaro mantém uma relação turbulenta.