Moro condena Cunha a 15 anos de prisão na Lava-Jato

Ex-presidente da Câmara acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Sem nada a perder, antigo aliado de Michel Temer pode tornar-se ameaça ao presidente
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Sergio Moro prendeu Eduardo Cunha mas soltou uma bomba-relógio em Brasília. O antigo todo- poderoso presidente da Câmara dos Deputados do Brasil e figura nuclear do processo de impeachment de Dilma Rousseff foi condenado pela primeira vez ontem à tarde pelo juiz coordenador da Operação Lava-Jato a 15 anos e quatro meses, que deve cumprir em regime fechado, por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas.

Aliado político de longa data do presidente Michel Temer, colega no Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), e em particular durante o impeachment, Cunha é tido agora como potencial ameaça nos corredores do Palácio do Planalto.

"A condenação de Cunha é vista como a abertura de caminho para um pedido de delação premiada", afirma a comentadora de política da Globonews Cristiana Lôbo. "A questão agora é se o pedido é aceite ou não por Sergio Moro que a esta altura já tem muitas outras fontes de informação sobre a corrupção que permeou o mundo político nos últimos anos", continua.

A eventualidade de Cunha envolver Temer em delação ficou exposta quando em novembro do ano passado, já detido, nomeou o presidente da República sua testemunha de defesa e lhe enviou 41 perguntas desconfortáveis sobre questões relacionadas à Lava-Jato, das quais Moro vetou cerca de metade por considerá-las "meras ameaças e chantagens". Diz a propósito a colunista da Globonews que "desde que chegou a Curitiba que Cunha dá demonstrações de que não iria cair sozinho e um sinal claro foi quando indicou o presidente Michel Temer e preparou 41 perguntas, muitas delas com o claro objetivo de constranger o presidente da República".

Até à hora do fecho desta edição, o Palácio do Planalto não havia comentado a condenação de Cunha. O Partido dos Trabalhadores e Dilma Rousseff também não.

Também outros membros da cúpula do PMDB no Congresso Nacional e no governo ficam em alerta com a condenação de um político considerado feroz quando é contrariado. "É aquele temor de "ser o Cunha amanhã", ou seja, de também perder o mandato e cair nas mãos de Sergio Moro em primeira instância", nota Lôbo.

Moro justificou a sua sentença num depacho de 109 páginas em que sublinha que "o condenado recebeu vantagem indevida no exercício do mandato de deputado em 2011, a responsabilidade de um parlamentar federal é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes, não pode haver ofensa mais grave do que a daquele que trai o mandato parlamentar e a confiança que o povo nele deposita para obter ganho próprio". Cunha foi condenado apenas por ter recebido subornos da Petrobras em contrato assinado para exploração de petróleo no Benim - seguem outras ações contra ele na Lava-Jato.

Os seus advogados já anunciaram que vão recorrer para uma instância superior por "causar perplexidade a velocidade com que a sentença foi proferida uma vez que a defesa protocolou as suas alegações finais na noite de segunda-feira (...) isso é lamentável e demonstra a forma parcial com que aquele juízo julgou a causa".

Eduardo Cunha, de 58 anos, é economista de profissão, radialista evangélico nas horas vagas e foi considerado o deputado federal mais poderoso do Brasil até ao fim do processo de impeachment de Dilma, comparado frequentemente com Frank Underwood, a maquiavélica personagem interpretada pelo ator Kevin Spacey na versão americana da série House of Cards. Terminado esse processo, que conduziu na Câmara de Deputados arregimentando votos favoráveis à queda da ex-presidente e à ascensão do então vice-presidente Michel Temer, passou a estar na mira da justiça, acabando detido em outubro do ano passado.

EM SÃO PAULO

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