Moreira quer repetir 2013. Oposição diz que autarca não tem obra

A cidade na moda que faz capa em publicações internacionais apresenta problemas na habitação, nos transportes ou na limpeza. Candidatos da oposição apontam o dedo à atual gestão do independente que ganhou com surpresa a câmara em 2013. Caso Selminho é sombra para Moreira
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Quem olha o rio, ali entre a Praça da Ribeira e o Cais da Estiva, esquece por momentos o pesadelo de toldos brancos e cadeiras e mesas em que se transformou a praça, abafando o "Cubo da Ribeira", que o escultor José Rodrigues criou junto ao chafariz almadino do século XVII. O casario que se estende até ao mar continua ali, mantendo o ar grave e sério do rosto de cantaria, que cantou Rui Veloso, mas o Porto (também ele) se atrapalha com o turismo crescente.

É este postal ilustrado que (quase) todos os principais candidatos às eleições autárquicas querem recuperar como cartaz da cidade do Porto: a habitação é a prioridade apontada no discurso de socialistas, sociais-democratas e monárquicos, comunistas e bloquistas. Rui Moreira, o atual presidente e que encabeça uma lista independente, com o apoio do CDS e MPT, manifestou-se indisponível para falar com o DN.

O cabeça de lista do PS, Manuel Pizarro (que até maio iria coligado com Rui Moreira) quer "promover um programa de habitação de renda acessível", para permitir à classe média e jovens que continuem ou vão morar para a cidade. Trata-se de disponibilizar três mil casas a preços acessíveis (um T4 custará 400 euros). E puxa dos galões do seu trabalho como vereador da Habitação e Ação Social para dizer que não deixa para trás os bairros sociais, recordando o investimento de 41 milhões de euros neste mandato que está a terminar.

João Teixeira Lopes - que assumiu a candidatura do BE em substituição de João Semedo, por motivo de doença deste - explica que esse investimento veio diretamente do pagamento das rendas, apontando o dedo ao escasso apoio social do mandato do atual executivo (de "Moreira e Pizarro", como repete várias vezes). "Só 3% [do orçamento] foi para apoio social."

Para o candidato bloquista, a solução passa também por "criar uma taxa turística", que "não existe porque Moreira e Pizarro tiveram como única preocupação estimular" o turismo, e que seja diretamente aplicada na reabilitação do "edificado da câmara municipal".

Álvaro Almeida coloca à cabeça das propostas do PSD/PPM "a construção de um Porto para as famílias, onde as famílias possam viver sem ter que se separar", para que "avós, filhos e netos" possam viver na cidade, num discurso mimético da candidata do PSD em Lisboa, Teresa Leal Coelho. E propõe-se a "criar condições que reduzam o custo de viver na cidade", também pela devolução do IRS aos portuenses.

Ilda Figueiredo recorda que a CDU apresentou 14 linhas programáticas, incluindo também a necessidade de "melhorar as condições de habitabilidade", invertendo a perda de população na cidade, o que "implica apostar em habitação social e a preços controlados, designadamente no centro da cidade".

O socialista Manuel Pizarro reconhece que o turismo "fez implodir" o tímido mercado de arrendamento que existia. Sem "diabolizar" esta atividade económica, o candidato do PS aponta no entanto o dedo a Moreira, "que se recusa a ver que o enorme afluxo turístico traz problemas acrescidos à cidade", "desde logo" com reflexos nos resíduos urbanos, na mobilidade e na especulação imobiliária.

Já a candidata comunista toma nota também dos "interesses especulativos" que tomaram conta do Porto, "situação que se agravou", apontando o dedo ao atual executivo camarário, que é como quem diz a Rui Moreira e a Manuel Pizarro (o socialista teve pelouros até maio).

Na avaliação deste mandato de Rui Moreira, o olhar do PSD, CDU e BE é negativo. "Não tem feito nada a não ser gerir o dia-a-dia", aponta Álvaro Almeida, que diz que das 22 obras prometidas pelo autarca independente, "16 não saíram do papel, em cinco fez-se alguma coisa e só uma foi feita". "Não deram resposta aos problemas da cidade, nem sequer cumpriram as promessas feitas", diz Ilda Figueiredo.

Rui Moreira trocou um debate na TVI24 (o primeiro na televisão entre candidatos no Porto) por um jogo da seleção e futebol e dispensou os cartazes de rua. Não precisa, acusa João Teixeira Lopes. "O atual mandato não tem obra, Rui Moreira tem uma máquina de propaganda muito bem oleada, utiliza despudoradamente os meios da câmara", acusa.

Só Manuel Pizarro diz que o mandato "foi globalmente positivo". "Não vou mudar de opinião", só porque Moreira "resolveu romper com o PS", diz o vereador. Mas sublinha que, das 111 medidas apresentadas pelos socialistas em 2013, "87,4% foram executadas ou estão a ser executadas". Ou seja, a gestão independente de Moreira tem travo rosa, argumenta Pizarro.

Uma empresa de Rui Moreira esteve sob os holofotes dos seus adversários no debate televisivo a que o presidente da câmara recandidato faltou. A Selminho Imobiliária (que levou o candidato a queixar-se do DN junto da Comissão Nacional de Eleições pelo teor de uma notícia) tem um conflito com a autarquia dirigida por Moreira, sobre os direitos de construção numa escarpa do Douro.

Os adversários não poupam a censura pública ao presidente da câmara: "Mesmo que não tenha uma consequência criminal, é gravíssimo do ponto de vista ético e político", sintetiza Teixeira Lopes. Álvaro Almeida diz que esta questão é importante: "Rui Moreira já tinha um diferendo com a câmara em 2013 e não disse nada a ninguém." Manuel Pizarro recorda que parte dos terrenos são da autarquia, mas não pretende "fazer do caso tema de campanha".

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