Morchella. Estes cogumelos custam 300 euros/kg e estão na mira das autoridades
De sabor requintado, delicado e de formato cónico, os cogumelos Morchella são muito procurados e apreciados pelos chefes de cozinha, mas agora são notícia pelas piores razões. Suspeita-se que a sua ingestão seja a causa de morte de uma mulher em Espanha.
No sábado, depois de almoçar arroz com cogumelos no restaurante valenciano Riff, que tem uma estrela Michelin há 10 anos, Maria Jesús Fernández Calvo, de 46 anos, sentiu-se mal, com vómitos e diarreia, acabando por morrer. Também o marido e o filho estão entre os 18 clientes deste restaurante que se sentiram mal dispostos, escreve o El País.
Mas serão estes cogumelos, de nome científico Morchella, fatais? Os especialistas são cautelosos, mas adiantam ao jornal espanhol que este tipo de cogumelos nunca foi considerado mortal. Estes cogumelos são, no entanto, tóxicos se consumidos crus. Devem ser deixados a secar para posteriormente serem reidratados e depois cozinhados. Os tóxicos destes cogumelos não são totalmente eliminados, mas são controlados quando bem cozinhados.
Ao DN, Manuel Joaquim Moredo, presidente da associação micológica A Pantorra explica que há vários tipos de Morchella. Todas são tóxicas, mas há uma que pode causar mais problemas, a Gyromitra. Mas tudo depende da quantidade que é consumida e do estado de saúde de quem a ingere, explica.
Sem saber qual foi o tipo de cogumelo que a mulher espanhola comeu e se, de facto, foi a causa da sua morte, Joaquim Moredo refere que Morchella Esculenta ou a Conica são as espécies mais consumidas e procuradas "Estes cogumelos selvagens são muito saborosos". E caros. "Um quilo de cogumelos secos, o que corresponde a 10 quilos de cogumelos frescos, custa cerca de 300 euros", explica Joaquim Moredo.
Segundo o presidente de A Pantorra, este tipo de cogumelo selvagem só aparece em Portugal na primavera, no fim de março ou princípio de abril, "depende das condições climatéricas". "É muito usado em molhos" para acompanhar pratos de carne, acrescenta.
De acordo com Vicente Sevilla, professor de micologia - especialidade da biologia que estuda os fungos -, ouvido pelo El País, os Morchella podem destruir os glóbulos vermelhos, mas só no caso de se consumir dois quilos. O especialista considera que este cogumelo pode, no entanto, afetar o sistema neurológico, mas não o digestivo, que é o que se suspeita ter acontecido à cliente do restaurante valenciano.
Este fungo em causa pode, de facto, conter substâncias tóxicas, conclui um estudo realizado pelo médico Josep Piqueras, especialista em hematologia do Hospital General Vall d' Hebron. Mas cozinhado de forma adequada não é perigoso, desde que seja "consumido com moderação a partir de exemplares conservados em seco".
Após almoçar arroz de cogumelos, que estava na carta com o custo de 85 euros por pessoa, Maria Jesús Fernández Calvo, morreu na madrugada de domingo, depois de ser acometida por diarreia e vómitos. A responsável pelo departamento de saúde de Valência, Ana Barceló, afirmou que foram questionadas 49 pessoas, que comeram no referido restaurante entre os dias 13 e 16 de fevereiro e 18 deles, além da vítima mortal, apresentaram "uma situação clínica de diarreia e vómitos". A responsável adianta que os sintomas são leves e apresentam uma boa evolução.
As autoridades recolheram amostras que vão ser alvo de um exame de toxicologia para se tentar apurar se existe uma relação direta entre a morte da cliente e os produtos que são servidos no restaurante, cujo responsável é o chefe alemão Bernd Knöller. O estabelecimento está encerrado até "que as causas do sucedido sejam apuradas e se possa retomar a atividade com todas as garantias de segurança, tanto para o pessoal como para todos os clientes", disse, em comunicado, Knöller.