Montenegro tem que fazer pela vida

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Se, Montenegro me pedisse um conselho, eu dir-lhe-ia para olhar para a frente e ter muito cuidado na escolha dos candidatos às europeias. Ignorar o burburinho, centrar-se nas próximas eleições europeias e na oposição ao governo.

Procurar perceber porque as propostas sobre IRS, habitação, saúde e ensino, que são boas não passam para os portugueses. Mal comunicadas? Mudar algo no grupo parlamentar que as veicula? Mudar o formato como são comunicadas?

O maior mal, dos últimos anos, no PSD é estar constantemente a olhar para dentro de si mesmo, tornando -se autofágico.

O grande desígnio do PSD como partido do poder (em tempos) é procurar vencer as europeias, a seguir as autárquicas, ter ou não candidato próprio para as eleições presidenciais e, por fim, vencer as eleições legislativas e ser governo.

Montenegro tem que marcar terreno é a Antonio Costa, não ao seu futuro. Assim não vai a lado nenhum.

Dizer, antecipadamente, que é candidato de novo a líder do PSD, preocupando-se inconscientemente com o regresso de Passos Coelho, ou que Carlos Moedas avance, fragiliza-o aos olhos dos apoiantes e simpatizantes do PSD, e o mais preocupante, dá uma imagem de insegurança e debilidade para possíveis eleitores, em futuras eleições.

O dever de um líder é pôr os interesses do partido acima dos seus interesses pessoais. Por maioria de razão, perante as sondagens já deveria ter ido embora. Por tudo que se passou no governo, de trapalhadas em trapalhadas, ensino, saúde, justiça, TAP, entre outras. Montenegro não se afirma nem galvaniza.

O autismo político é apanágio do PSD. O PSD é o grande culpado da maioria das instituições públicas estarem dominadas pelos socialistas, para qualquer lado que se olhe, seja escolas, bombeiros, juntas de freguesia, câmaras municipais, institutos, está um socialista.

Em vez de urdir um programa de futuro para ser poder, anda a brincar às coligações. O PSD não sabe muito bem o que quer. Faz-me lembrar aquele velho rico, que julga que não precisa de ninguém, porém está a ficar pobre e mal-agradecido.

Sá Carneiro para ascender ao poder fundou a AD (Aliança Democrática), percebeu que Portugal é, tendencialmente, de esquerda, para se criar um bloco vitorioso à direita do PS, só em coligação. O PSD deveria criar uma plataforma com o CDS, IL e abster-se de tecer considerações do Chega. Pode um dia precisar do Chega, assim como, o PS precisou do BE e PCP.

Dava um sinal claro aos portugueses como poderia ascender ao poder. O PSD ainda pensa que sozinho vai lá e com jeitinho vai cada vez mais, tornar-se menos relevante.

A insatisfação do PSD só acaba se for poder e puder dar lugares. Atualmente, um presidente de câmara PSD tem mais poder que o líder do PSD. Carlos Moedas tem mais poder que Luís Montenegro que vive num espartilho do aparelho do partido.

Porém o aparelho do partido é ingrato e não conhece dono, vai com quem lhe der mais jeito.

Um líder não é refém de ninguém.

Fundador do Clube dos Pensadores

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