Montenegro com vitória histórica. "O princípio do fim da hegemonia do PS"

O novo líder social-democrata conseguiu uma vitória esmagadora, com 73% dos votos, sobre Jorge Moreira da Silva. "Com o partido unido", prometeu ser oposição firme e alternativa ao governo. "Estou cá para ser candidato a primeiro-ministro em 2026."
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Não foi à primeira contra Rui Rio em 2020, foi agora à segunda e de forma esmagadora. Luís Montenegro foi ontem eleito líder do PSD com 73% dos votos contra apenas 27% de Jorge Moreira da Silva. "Sai daqui um sinal de vitória!", garantiu no discurso da noite destas eleições internas que lhe deram um resultado histórico.

Em Espinho, Luís Montenegro inverteu a lógica dos discursos de vitória e, em vez de falar primeiro para o partido, dirigiu-se aos portugueses, sabendo que o PSD está ávido de oposição ao PS. "O dia de hoje é o princípio do fim da hegemonia do PS em Portugal", disse. E porque sabe que, perante uma maioria absoluta dos socialistas, o "caminho vai ser difícil e com muitos obstáculos para ultrapassar", quer aproveitar "os próximos anos" para construir uma alternativa ao PS.

De tal maneira que, questionado pelos jornalistas sobre os dois anos de mandato que terá pela frente, foi perentório sobre a intenção de se recandidatar em 2024. "Vim para me candidatar a primeiro-ministro em 2026", frisou. Mas também se propõe a vencer as europeias de 2023 e assumirá "as responsabilidades" que tiver na altura.

Com uma sala cheia de apoiantes, Luís Montenegro prometeu fazer uma oposição séria e vigilante ao governo socialista, porque "no PSD não vamos ser cúmplices ou condescendentes neste caminho de empobrecimento". Acusou mesmo António Costa de ter como "marca de água" do seu governo esse empobrecimento do país. Quer ser a "voz" de "todos os que esperam por hospitais e postos de saúde, dos jovens que não encontram resposta para as suas qualificações no mercado de trabalho, dos que trabalham e dos reformados e da maioria que ganha o ordenado mínimo, cada vez mais perto do salário médio". "Estamos todos a ser nivelados por baixo", disse.

Garantiu que o PSD vai "construir um projeto alternativo para retirar Portugal da cauda da Europa e colocá-lo na linha da frente".

Só depois Montenegro olhou para o PSD, que lhe deu uma vitória acima de todos os que correram em diretas, incluindo, como frisou, os que avançaram para a liderança sem opositores. Por isso mostrou-se irritado quando questionado sobre o peso da abstenção alta nestas diretas - 39,5% e num universo de votantes já baixo de 44 628 militantes. "Este resultado revela que no PSD temos uma maioria expressiva e que secunda esta liderança para ter unidade e coesão no PSD. Enviámos uma mensagem ao país".

Montenegro assegurou que conta com o "companheiro e amigo" derrotado, Jorge Moreira da Silva - "um quadro altamente qualificado e com capacidade de servir o país". "No que depender de mim não vamos prescindir do seu talento e dos que o apoiaram nesta eleição", assegurou.

O líder eleito respondeu ainda às dúvidas dos jornalistas sobre a continuidade da liderança parlamentar de Paulo Mota Pinto, eleito ainda sob a direção de Rui Rio. Luís Montenegro afirmou já ter falado com o presidente da bancada social-democrata e que reunirá com ele na próxima semana para "articular" o trabalho entre as duas direções.

E, embora não tenha mandato de deputado, lembrou que "conhece muito bem" a Assembleia da República, onde também dirigiu a bancada do PSD na altura do governo de Pedro Passos Coelho, e prometeu que estará presente no Parlamento para falar com os deputados e com os jornalistas.

A renovada pergunta sobre o eventual diálogo com o Chega de André Ventura, a que nunca fechou a porta, motivou um novo pico de irritação: "Nunca foi meu tema de campanha, jamais será o tema hoje!"

As garantias de unidade de Montenegro já tinham sido dadas pelo derrotado da noite eleitoral laranja. No Tagus Parque, em Oeiras, Jorge Moreira da Silva assumiu a "vitória expressiva" do opositor e foi claro: "Podem continuar a contar comigo. Não tenho feitio para andar na guerrilha, contribuirei para a unidade do PSD".

Com "51 anos" não quis fechar a porta a uma eventual recandidatura ao cargo, até porque "tendo um plano para Portugal não me peçam para dele abdicar". Tal como nunca irá abrir mão da sua "liberdade e autonomia de pensamento", mesmo tendo perdido umas eleições em que, à partida, sabia que jogava contra todas as probabilidades.

Jorge Moreira da Silva, que deixou um cargo de diretor na OCDE para avançar para a corrida à liderança, garantiu que teria feito tudo outra vez: "Não desisto de Portugal. Não me conformo nem me resigno com o definhamento de Portugal. Não podia deixar de dizer presente quando sentia que o PSD estava perante um problema estrutural".

Descartando qualquer possibilidade de entrar na direção que Luís Montenegro escolher para os próximos dois anos, Jorge Moreira da Silva também não revelou se tenciona apresentar uma lista ao Conselho Nacional no congresso de legitimação da nova liderança, que se realiza no Porto a 1, 2 e 3 de julho.

paulasa@dn.pt

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