Moniz Pereira e os jornalistas
Moniz Pereira foi professor, treinador, mas também escreveu para jornais. Durante anos assinou, no jornal A Bola, notícias, reportagens, crónicas que tinham sempre um denominador comum: a capacidade de ver o lado positivo do "seu" atletismo. Os seus princípios desportivos vinham do seu mestre, José Salazar Carreira, atleta, jornalista e dirigente desportivo, que lhe havia dado a conhecer, ainda muito jovem, o jornal L"Équipe, pelo qual aprendeu a ver o mundo do desporto. Não aceitava o "nosso" negativismo, o complexo de inferioridade, a crítica pouco fundamentada. Isso era, talvez, das coisas que mais o colocavam à beira de um ataque de nervos. Vem isto a propósito da minha relação com Moniz Pereira e a relação do professor com os jornalistas, que tão bem conhecia. Uma relação de admiração e respeito que se iniciou em 1977, era ele diretor do Estádio Nacional. Não passava eu de um promissor fundista e era já ele um consagrado treinador, que acabava de levar Carlos Lopes à prata nos 10 000 metros nos Jogos de Montreal"76. Uma amizade que se reaproximou em 1992 quando iniciei a minha carreira de jornalista no DN. Uma relação que frequentemente entrava em rota de colisão. A chamada telefónica era sempre esperada quando escrevia sobre o "seu" Sporting, como foi o caso da transferência de Francis Obikwelu, em 1996, do Restelo para Alvalade, e que o DN terá dado em primeira mão. Do outro lado da linha, o professor, esbaforido, questionava "onde tinha apurado aquela notícia?". Que não tinha sido "oficializada" pelos leões. "Que nada estava acertado". Eu transpirava agarrado ao telefone, tremia e temia mais uma vez o fim de uma relação de amizade e de admiração. No outro dia, como amiúde acontecia, encontrámo-nos no Jamor. Falámos de atletismo, como sempre, menos da transferência de Francis Obikwelu - que acabaria por correr de leão ao peito -, como se nada, rigorosamente nada, se tivesse passado no dia anterior. Moniz Pereira era assim.
Ex-atleta e ex-jornalista do DN