MMA. Vale quase tudo na luta que matou João 'Rafeiro' Carvalho

Desporto recente, que junta várias técnicas de luta, causou 14 mortes desde que é oficial. Autoridades irlandesas investigam caso do português. Árbitro defende-se
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No octógono (o ringue) não vale tudo, mas quase. As artes marciais mistas (MMA, do inglês mixer martial arts) são provavelmente o desporto de combate mais completo, juntando técnicas de luta de várias modalidades. O espetáculo - para apreciadores - é garantido. No entanto, por vezes, revela-se fatal: o português João Rafeiro Carvalho, falecido na segunda-feira, em Dublin (República da Irlanda) tornou-se a 14.ª vítima mortal desde que esta disciplina se oficializou, em 1993.

Esta é uma história recente: a de um desporto inspirado no wrestling e nos combates brasileiros de vale-tudo (onde valia mesmo tudo, exceto morder e atacar olhos...), que ganhou dimensão mundial desde a criação da liga norte-americana Ultimate Fighting Championship - UFC, há 23 anos. Nas MMA, misturam-se golpes e técnicas de imobilização de vários desportos de combate e artes marciais (como boxe, muay-thai, karaté, judo ou jiu jitsu). E, embora não valha tudo, pode-se usar pés, punhos, cotovelos ou joelhos para atacar o adversário.

No octógono, há linhas que não podem ser ultrapassadas: é proibido atacar virilhas, coluna, garganta, olhos e nuca, assim como morder, puxar o cabelo ou dar pontapés e joelhadas na cabeça do rival, se ele estiver caído no ringue. Um lutador é desqualificado caso desrespeite estas regras por três vezes ao longo do combate - composto por cinco assaltos de cinco minutos, quando está em discussão um título, ou três rounds, quando não está.

Isso não impede que os incidentes aconteçam, como foi o caso da morte de João Carvalho (nome de guerra: Rafeiro), vítima das lesões cerebrais sofridas no seu combate de estreia internacional em MMA, no sábado, contra Charlie The Hospital Ward, num evento de Total Extreme Fighting, em Dublin. A contabilidade não oficial aponta para 14 mortes de lutadores durante ou após combates, desde que as regras das artes marciais mistas se uniformizaram, com a criação da UFC.

As imagens do português, de 28 anos, caído no chão a ser alvo de sucessivos murros do rival correram mundo - com o árbitro Mariusz Domasat a ser criticado por não ter terminado o duelo mais cedo. Os lutadores apenas se defendem competindo com luvas de dedos abertos, boquilha (proteção bocal) e coquilha (proteção genital). Contudo, fãs e atletas garantem que as artes marciais mistas não são mais violentas do que outros desportos de luta.

Os números suportam essa tese. "A média de lesões sofridas em competições de MMA é similar às de outros desportos de combate, incluindo boxe. E a média de KO é menor nas competições de MMA do que no boxe", concluiu um estudo de Gregory Bledsoe e Edbert Hsu, publicado em 2006 no Journal of Sports Science and Medicine.

Árbitro defende atitude correta

Ainda assim, e embora Vítor Nóbrega, responsável da equipa de João Rafeiro Carvalho, garanta que "foram cumpridas todas as regras de segurança" e que "a arbitragem seguiu todos os procedimentos corretos e habituais", o caso da morte do português continua a dar que falar. Ontem foi noticiado que o incidente está a ser alvo de duas investigações por parte das autoridades irlandesas. E o árbitro veio defender a sua postura no combate.

"Toda a gente que conhece minimamente as MMA sabe que parei o combate na altura correta. Podem ver claramente que não existia razão para terminar mais cedo. Parei o combate na altura em que existiu uma razão para o parar, quando o lutador já não estava a combater", explicou Mariusz Domasat, ao jornal Daily Star.

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Ao mesmo tempo, o ministro do Desporto da República da Irlanda, Michael Ring, prometeu endurecer as regras dos combates de MMA no país. E o caso está a ser alvo de duas investigações, uma da Gardaí, a polícia local (aplicada em todos os casos de morte súbita, por motivos desconhecidos), e outra da Autoridade de Segurança e Saúde, que está a fazer um inquérito preliminar, para ver se há motivo para uma investigação mais ampla.

Homenagem de Conor McGregor

Entretanto, a Associação Irlandesa de Lutas Amadoras anunciou que está a promover uma campanha de angariação de fundos a favor da família de João Carvalho, para "ajudar nos custos do funeral e outras despesas". A autópsia do lutador estava marcada para ontem.

Também ontem, Conor McGregor, o lutador de MMA mais famoso da atualidade, juntou-se ao coro de condolências pela morte de Rafeiro. "Ter um jovem a fazer aquilo que ama, a competir por uma chance de uma vida melhor, e vê-lo partir desta forma é verdadeiramente de partir o coração. Somos apenas homens e mulheres que fazem aquilo que amam, na esperança de uma vida melhor para eles e para as suas famílias. Perdemos um de nós", escreveu nas redes sociais.

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