MLB. A liga que serve de palco ao "melhor líder do mundo"

Theo Epstein, o executivo que terminou com a maldição dos Chicago Cubs, foi eleito pela revista Fortune o melhor líder mundial. Cubs partem como favoritos para a nova época
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Pode um título de campeão de basebol servir de argumento na hora de escolher o melhor líder do mundo? A revista norte-americana Fortune achou que sim e elegeu Theo Epstein para o topo da lista anual dos 50 maiores líderes mundiais, à frente de figuras como Jack Ma, o presidente executivo da gigante empresa chinesa de e-commerce Alibaba, ou o Papa Francisco.

Na verdade, Epstein, de 43 anos, não ganhou um mero título qualquer. O presidente executivo dos Chicago Cubs conseguiu que a equipa colocasse ponto final à mais famosa maldição do desporto profissional dos Estados Unidos, ganhando em 2016 o título da Major League Baseball (MLB) pela primeira vez em 108 anos.

Isso poderia até ser só um golpe de sorte ou uma favorável conjugação do destino, não fosse o currículo de Epstein conter já outras façanhas, como ter liderado os Boston Red Sox, outra histórica equipa de basebol, a terminar também com um longo jejum de 86 anos. Ou ter-se tornado, aos 28 anos, o mais jovem diretor geral da MLB. Theo Epstein converteu-se na "estrela pop" dos executivos do desporto profissional nos EUA. The curse-breaker (o quebra-maldições), assim lhe chamam, passou também a ser um dos principais focos de atração de uma liga que tem vindo a perder alguma da popularidade que em tempos fez do basebol o "passatempo preferido da América" - mas que na época passada, graças à epopeia do título dos Cubs, alcançado num dramático jogo 7 das World Series em novembro passado, viu aumentar em 50% as audiências televisivas.

Por isso, é nos escritórios em frente ao Wrigley Field, o histórico campo dos Cubs em Chicago, que se encontra a grande figura da MLB atual, cuja nova época arranca hoje. O melhor líder do mundo. Theo Epstein, "o puto-maravilha dos executivos, que percebeu que tinha de crescer como líder para conseguir replicar nos Cubs o sucesso que teve nos Red Sox", justificou a revista Fortune sobre a sua escolha, acrescentando que Epstein percebeu que "além das estatísticas, há outro fator fundamental para o sucesso: as qualidades humanas dos jogadores".

Essa foi uma lição aprendida pelo jovem ainda em Boston, no seu úl-timo ano nos Red Sox, em 2011, quando um balneário minado por vários choques de egos fez a equipa entrar em colapso. Por isso, quando se mudou para os Cubs, as primeiras instruções à equipa de scouting foram para procurar todas as informações possíveis sobre a personalidade e caráter dos atletas - como eles reagiam às adversidades dentro e fora de campo, a situação familiar, como tratavam as outras pessoas, enfim... muito mais do que basebol.

Mais do que uma compilação de dados, Epstein queria que os rela-tórios fossem uma espécie de storytelling em formato longo, "co-mo os romances russos que o pai o fazia ler na juventude", descreve a Fortune. Foi assim que foram descobertos jogadores-chave no título que os Cubs ganharam na época passada.

O destino aos 12 anos

Filho do escritor Leslie Epstein - e neto e sobrinho-neto de Philip G. Epstein e Julius J. Epstein, respetivamente (argumentistas de um dos maiores clássicos de Hollywood, Casablanca) -, Theo fintou o destino de família em prol do basebol. Uma conjugação de fatores, quando tinha 12 anos, acabaria por ter influência no trajeto do atual presidente executivo dos Chicago Cubs: foi quando, no intervalo de meses, recebeu não só o primeiro jogo de estratégia de basebol para computador como também o seu primeiro "Bill James Historical Baseball Abstract", uma espécie de Bíblia sobre a modalidade, e viu os Red Sox perderem as World Series de 1986 - o que o fez mergulhar no jogo de computador para "vingar" a realidade.

A obsessão acompanhou-o até à Universidade de Yale, onde se formou em Estudos Americanos mas sempre com o sonho de trabalhar no basebol. Por isso, enquanto frequentava o curso escreveu cartas para várias equipas a manifestar o interesse em trabalhar com elas e acabou por ser chamado pelos Baltimore Orioles. Aí começou a amizade com Larry Lucchino, então CEO dos Orioles, que se deixou encantar pela paixão de Epstein e pela sua abordagem revolucionária à estatística. De tal forma que o levou com ele depois para os San Diego Padres e, a seguir, para os Boston Red Sox, onde Theo se tornou em 2002 o mais jovem diretor geral da história da MLB, com 28 anos, na equipa dos seus sonhos de infância.

A desconfiança generalizada não demorou mais de dois anos a ser ultrapassada, quando os Red Sox conquistaram, em 2004, o título de campeão que não festejavam desde 1918. Com mais outro ganho entretanto (em 2007), Epstein mudou-se para Chicago, em 2011, e a troco de quatro milhões de dólares (3,7 milhões de euros) anuais, para tentar acabar com a mais famosa maldição do desporto dos EUA, a dos Cubs. E foi essa proeza, em novembro, que lhe valeu esta distinção da revista Fortune: o melhor líder do mundo. "É ridículo. Eu nem consigo que o meu cão deixe de fazer chichi na porta. Os líderes sãos os jogadores", reagiu o dirigente que fez os Cubs deixarem para trás o epíteto de lovable losers e partirem para esta época como a equipa a abater.

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