Ministro da Defesa vaiado nas celebrações do Dia do Exército
Nas cerimónias oficiais do Dia do Exército, que decorrem este domingo em Aveiro, ouviram-se vaias ao ministro da Defesa, João Gomes Cravinho. Um grupo de dezenas de paraquedistas organizou o protesto nas redes sociais por não poder cantar o hino "Pátria Mãe".
"Estou aqui pelos meus irmãos que foram impedidos de cantar o 'Pátria mãe', desfilar à paraquedista, marchar à paraquedista. Alguém de esquerda disse que é um grito racista e então todos pagaram por tabela. Ninguém pode expressar garbosamente em desfile", afirmou à TVI José Espinhosa, soldado paraquedista que participou no protesto, acrescentando que as tradições militares não são negociáveis e ameaçando que, na próxima vez que sejam impedido de entoar o cântico, o protesto já não será ordeiro.
"A próxima vez que isto acontecer eu irei invadir o desfile. E atrás de mim irão todos estes irmão", disse.
"O que está aqui em causa vale muito para nós. Tivemos muito suor e lágrimas para adquirir o que temos hoje, a boina verde", afirmou um outro paraquedista à SIC.
Enquanto decorriam os discursos no palanque, os paraquedistas apupavam o ministro com palavras de ordem, como "demissão", "vai-te embora", "deixa os homens cantar" e "palhaço", e erguiam as boinas, que estavam proibidos de usar.
"A nossa boina verde custou a ganhar. Nós fizemos missões em nome de Portugal e este senhor general não merece estar no lugar em que está. Isto é um insulto para os paraquedistas que perderam a vida em nome de Portugal", disse um outro manifestante ouvido pela TVI referindo-se ao Chefe do Estado Maior do Exército (CEME), general José Nunes da Fonseca.
Carlos Barbosa, representante da associação de paraquedistas de Vale d'Este, de Barcelos, explicou à Lusa que nas paradas, "toda a gente adorava ver os paraquedistas pelos cânticos e pela forma de marchar", lamentando que, agora, tenham retirado isso.
"Não podem estar a fazer isto às tropas. Estão a acabar com os paraquedistas aos bocadinhos", disse este ex-paraquedista.
"O Exército não respeita os paraquedistas nem as oerações especiais, como os fuzileiros e comandos, e querem-nos calar. Mas não vão calar. Vamos até ao fim. Os nossos cânticos, as nossas marchas hão de se manter, sempre", afirmou à RTP um outro militar que integrou os protestos.
No final da cerimónia, a PSP identificou vários dos antigos militares que se encontravam no protesto.
No final das celebrações, o ministro João Gomes Cravinho preferiu não comentar os protestos, dizendo apenas que este tinha sido "um excelente dia de celebração e de agradecimento", segundo a Lusa.
"Este foi um ano extraordinário, muito difícil para as Forças Armadas e para o exército. Esta é a oportunidade de agradecer ao exército português, para mim foi um privilégio", afirmou.
Contactada pela Lusa, a porta-voz do Exército disse desconhecer a alegada proibição ou qualquer ordem interna nesse sentido e disse que o Exército não comenta os protestos.
O hino "Pátria Mãe" diz o seguinte:
Ó Pátria Mãe
Por ti dou a vida
Há sempre alguém
Que não te quer perdida
Ó Pátria Mãe
Reza a Deus por nós
Há sempre um alguém
Nunca estamos sós
Ó Pátria eu vou partir
Por essas terras de além
Quem sabe se torno a vir
Só Deus sabe e mais ninguém
Despedida amargurada
Com mil tristezas sem fim
Daquela que é minha amada
E tanto chora por mim
Ó Pátria Mãe
Por ti dou a vida
Há sempre alguém
Que não te quer perdida
Ó Pátria Mãe
Reza a Deus por nós
Há sempre um alguém
Nunca estamos sós
Há tristezas e amarguras
Nos lares de quem vai lutar
Tristezas daquelas tão duras
Difíceis de suportar
Tantos lares desamparados
Pois falta quem lá viveu
Tantos pais torturados
Pois o seu filho morreu
Ó Pátria Mãe
Por ti dou a vida
Há sempre alguém
Que não te quer perdida
Ó Pátria Mãe
Reza a Deus por nós
Há sempre um alguém
Nunca estamos sós
Há sempre um alguém
Nunca estamos sós