Militares precisam de meio ano para recuperar equilíbrio emocional após regresso a casa

Exército tem um núcleo de apoio e intervenção psicológica permanente para ajudar soldados e familiares antes, durante e após as missões no exterior.
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As alterações emocionais que afetam os militares no último dos seis meses de missão no estrangeiro só regressam à normalidade cerca de meio ano após o regresso a casa, explica o tenente-coronel Garcia Lopes ao DN.

Este oficial é um dos dois psicólogos militares do Exército que está na Madeira para acompanhar a família do soldado Comando Luís Miguel Lima, que morreu sexta-feira num aparente ato de suicídio pouco mais de seis meses após o regresso da missão na República Centro-Africana (RCA).

O chefe do Núcleo de Apoio e Intervenção Psicológica (NAIP) do Exército refere que todas as Forças Nacionais Destacadas (FND) recebem uma equipa de psicólogos no teatro de operações, durante o último dos seis meses da missão, "para fazer a preparação do regresso a casa".

Essee objetivo envolve nova avaliação psicológica, confrontando os resultados com os testes realizados antes do início da missão, e outras duas componentes: as "reuniões emocionais" e, na última semana, uma palestra dedicada ao chamado "ciclo emocional" vivenciado pelos militares no terreno e pelas famílias em Portugal.

Nas reuniões com grupos de 10 a 15 militares que duram cerca de uma hora, conta o psicólogo militar, procura-se que "todos falem sobre os impactos emocionais" sentidos durante o cumprimento da missão - seja na parte operacional ou envolvendo situações familiares.

"Começam com alguma inibição mas rapidamente os militares percebem o objetivo de partilhar as suas experiências, percebem que o que estão a sentir os outros também e que, às vezes, perante um problema há soluções diferentes", conta Garcia Lopes.

A última semana é dedicada às seis fases do referido ciclo emocional: o "entusiasmo crescente" da antecipação do regresso, "a lua de mel" da chegada e reencontro com a família, "a inquietação" associada às pequenas mudanças do quotidiano face à intensidade da vida operacional dos meses anteriores, "a do planeamento" e que corresponde ao período mais depressivo, a "tomada de decisão" em que se começa a melhorar emocionalmente e, por fim, a fase da "estabilização ou reintegração", sintetiza o psicólogo militar.

"A família também passa por esse ciclo, não se pode dizer se com mais ou menos intensidade", acrescenta Garcia Lopes.

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