Miguel Raposo cresceu a ver os pais na revista e agora está em 'Chicago'

O filho dos atores José Raposo e Maria João Abreu é um dos protagonista do musical que se estreia nesta semana no Teatro da Trindade, em Lisboa.
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Até mais ou menos aos 18 anos, Miguel Raposo nunca tinha pensado em fazer teatro. "Era muito tímido", recorda. "Quis ser paleontólogo, quis ser basquetebolista, quis ser músico e tinha uma banda com os amigos, tocávamos temas originais e tudo. Mas quando terminei o 12.º ano e tive de escolher não me via a fazer mais nada, percebi que queria mesmo tentar ser ator."

O filho dos atores Maria João Abreu e José Raposo - que a partir desta quarta-feira veremos a interpretar o papel do advogado Billy Flynn no musical Chicago, no Teatro da Trindade, em Lisboa - cresceu, literalmente, no teatro. "Para mim o teatro era o dia-a-dia. Durante sete anos era apenas eu, depois também o o meu irmão. Tenho ótimas memórias desses tempos. Os meus pais passaram muito tempo no Parque Mayer e eu também, adorava ficar na plateia durante os ensaios, os atores e as bailarinas brincavam comigo, andava pelos bastidores e pelos camarins."

Mas quando anunciou em casa que ia fazer a audição para entrar no Conservatório Nacional - levou um monólogo do Woody Allen, Confissões do Assaltante, "um texto muito non sense" - os pais ficaram surpreendidos. "Nunca tinha mostrado qualquer interesse em representar", conta. "Tinha entrado no Médico de Família, em criança, uma coisa pequena, e mais nada." Mesmo apanhados de surpresa os pais nunca lhe disseram para escolher outro caminho nem lhe falaram das dificuldades na carreira. Nem mesmo quando o irmão, Ricardo Raposo, também decidiu ser ator.

"Acima de tudo somos amigos, somos mesmo muito amigos uns dos outros. Eles sempre foram uns pais boa onda, sempre falámos de tudo, sem tabus, das namoradas, de sair à noite. E o trabalho tornou-se mais uma coisa que nos une", conta Miguel Raposo. Os pais são espectadores atentos do seu trabalho mas, sobretudo, são "bons colegas": "E fazem críticas sempre construtivas. Dão-me conselhos na mouche mas esses conselhos surgem naturalmente, enquanto tomamos um café."

O primeiro espetáculo em que participou, ainda durante o Conservatório foi Rir Tendo Consciência da Tragédia, com o grupo Há Que Dizê-lo, na Casa Conveniente, no Cais do Sodré. Era um espetáculo sobre o Mário Cesariny, que cruzava texto, dança, vídeo, música. Depois, Miguel Raposo criou um grupo com colegas do curso, que se chamava Teatro do Azeite: "Fizemos algumas encenações coletivas, encenei dois espetáculos, um deles com texto meu. Mas não ganhávamos dinheiro, pelo contrário, perdíamos."

A pouco e pouco e foram surgindo outras oportunidades, umas pequenas outras maiores, no teatro, na televisão, no cinema, e começou a fazer dobragens (é ele que atualmente dá a voz a Sungoku, da animação Dragon Ball).

2019 tem sido um ano em grande para Miguel Raposo. Em abril, a banda de que faz parte, os Bom Marido, lançou o seu primeiro disco, intitulado Pera Doce. Em maio, estreou o musical Sonho de Uma Noite de Verão, no Teatro Tivoli, em que pela primeira vez contracenou com o pai e a mãe. Em junho juntou-se novamente aos pais na série Golpe de Sorte. "Apesar de eu já saber que eles são dois atores supertalentosos, fico sempre babado a olhar para eles", diz.

Também podemos vê-lo no cinema, no filme Variações (interpreta o papel de Pedro Ayres Magalhães). E agora, aos 33 anos, conseguiu através de audição um dos papéis principais em Chicago, com encenação de Diogo Infante e em que volta a contracenar com José Raposo. Nos próximos meses ele é Billy Flynn, um advogado ganancioso e manipulador: "Gosto muito do Chicago. Vi o filme e vi o musical duas vezes em Nova Iorque, uma há 15 anos e outra já depois de saber que ia ficar com o papel. Não fui lá de propósito, já tinha a viagem marcada mas depois lá, sim, tentámos arranjar bilhetes", conta.

Para o futuro, Miguel Raposo tem muitos projetos e não exclui a hipótese de, um dia, criar espetáculos seus, mas neste momento está a divertir-se muito "a ser só ator": "Eu adoro os processos mas a parte melhor é quando se está com o público, aquele momento em que estamos no palco e não podemos deixar que a coisa falhe, não há volta a dar."

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