Miguel foi levar o sogro e trouxe cinco refugiados
Tudo começou com a vontade expressa do sogro de Miguel Stanley em regressar à Ucrânia para lutar pelo seu país. Mesmo tendo sido trazido para Portugal pouco tempo antes da invasão pela Rússia e apesar de ter 68 anos e problemas cardíacos. Perante a obstinação de Victor, o dentista português decidiu levar o pai da mulher até Cracóvia, junto à fronteira da Polónia com a Ucrânia, juntamente com material médico e bens de primeira necessidade. No domingo chegou a Lisboa, tendo trazido na viagem cinco refugiados, duas mulheres e três menores, que apenas falavam ucraniano, tendo recorrido a uma aplicação no telemóvel para comunicar. "Sinto-me completamente diferente. Estou completamente diferente. Isto tocou-me muito", confessa o português.
"Nos primeiros dois dias de viagem - tínhamos três crianças, o mais novo tinha 8 anos, tinham 8, 14 e 15 anos, com duas mães diferentes, eram duas famílias - praticamente não falaram. Só no terceiro dia é que eles começaram a brincar, claro que fui usando aquele aplicativo para tentar animá-los um bocadinho, para comprarmos uns happy meals e uns brinquedos. Por exemplo, comprei um brinquedo, um peluche, que dei à criança mal a conheci, ela não largou o boneco a viagem toda", recorda Miguel Stanley.
O português conta que a viagem de regresso foi longa e complicada, tendo atravessado Polónia, República Checa, Alemanha, França, Espanha e Portugal. E tiveram de fazer face às mais variadas regras contra a covid-19. "Por exemplo, na Alemanha, quem não tiver a máscara N95 não pode sequer entrar numa bomba de gasolina. Nós parámos num restaurante de fast food na Alemanha e não deixaram entrar uma das crianças, nem sequer para usar a casa de banho. Em França, era preciso ter o passaporte covid. Portanto, parar para comer em restaurantes com estas crianças e mulheres em França foi impossível, tivemos de recorrer ao take away. Vamos começar a fazer contas à vida, entre a gasolina, portagens, hotéis, porque as crianças não podem ficar a dormir no carro, mesmo que sejam dos mais baratos, depois é planear a viagem, é difícil. Eu tive uma criança que teve um ataque de vómitos, tivemos que parar o carro várias vezes", enumera o português.
É por este motivo, e com base na sua experiência, que Miguel Stanley aconselha aos portugueses que querem trazer para Portugal deslocados ucranianos - a expressão que prefere usar em vez de refugiados - para optarem pelas viagens de avião, pois ficam mais baratas e são menos traumatizantes e cansativas para quem está a fugir da guerra.
Uma das ucranianas e o seu filho, de 14 anos, ficaram em Barcelona, onde tinham amigos. A outra família veio para Portugal, tendo já tratado da sua documentação no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e estando agora alojados em Vila Nova de Milfontes, em casa da família portuguesa que emprega o marido.
Boas notícias ensombradas pela falta de notícias de Victor, em silêncio desde domingo. "A última vez que falámos com ele estava bem entregue, com uma equipa local, e temos fé que ele esteja bem. Ele estava a caminho de Lviv", desabafa Miguel Stanley.