Migrantes trocam a Grécia pela Espanha. Maioria ainda prefere Itália

Número de chegada de migrantes está a aumentar desde o início do ano e pode ultrapassar as entradas em território grego. Só em 2017 já chegaram 11 849.
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O vídeo de uma pequena embarcação de borracha a entrar a meio da semana pelas areias repletas de veraneantes da praia de Zahara de los Atunes, na Andaluzia, com cerca de três dezenas de pessoas a bordo documenta a mais recente tendência dos migrantes que tentam chegar à Europa: a escolha do caminho mais curto entre as duas margens do Mediterrâneo. Isto como alternativa a rotas que se estão a tornar impraticáveis, devido à crescente vigilância internacional, ou em que se tornou mais difícil a passagem para os países mais procurados pelos refugiados ou pelos migrantes económicos.

Reflexo desta tendência é o número de migrantes chegados a Espanha, que está a conhecer um significativo aumento face aos números de 2016. Assim, se a Itália continua a ser, de longe, o país preferido com um total de 96 861 entradas em 2017, seguindo-se a Grécia com 12 191, Espanha tem visto o número de migrantes aumentar, com 11 849 entradas até agora. O número total foi de 13 246 no ano transato, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Segundo dados da Guarda Civil e dos serviços de salvamento marítimo, só entre junho e início de julho foram resgatados ao largo da costa na região de Cádis, onde se situa Zahara de los Atunes, 900 migrantes que tentavam chegar a território espanhol, lia-se quarta-feira no El Mundo.

Para um porta-voz da OIM, Joe Millman, citado pelas agências, "a mudança resulta do facto que este trajecto está a ser considerado como o mais seguro", sendo "possível que a Espanha ultrapasse a Grécia este ano". O que representaria "uma grande mudança", disse Millman. A maior pressão de migrantes sobre Espanha resulta destes serem provenientes de países subsarianos e de o seu destino de partida ser, maioritariamente, Marrocos, mais próximo da costa espanhola do que, até aqui, tradicionais pontos de partida, como a Líbia, que estará a ser evitado atendendo ao grau de violência e instabilidade, ou mesmo a Tunísia e o Egito.

Ainda que seja da Líbia que tenha partido o maior número de pessoas para a Europa - 95 mil em 2017, na esmagadora maioria para Itália -, a nova tendência que está a afirmar-se resulta, por outro lado, da mudança de meios de transporte preferidos pelos migrantes. Há cada vez mais a escolherem pequenas embarcações de borracha, como a utilizada pelo grupo que desembarcou em Zahara de los Atunes, botes insufláveis e até motos de água, explicava na quinta-feira à Reuters um responsável da agência europeia de fronteiras, a Frontex, Krzysztof Borowski.

Este tipo de embarcações tem vantagens, na perspectiva dos migrantes, sendo mais difícil a sua deteção e também mais rápido, no caso das motas de água, que podem chegar da costa africana à europeia em pouco mais de 30 minutos, segundo o responsável da Frontex. Mas originam também situações mais perigosas para os migrantes, em caso de se voltarem. "O recurso a esta quase espécie de brinquedos é preocupante... basta uma onda mais alta para se voltarem e as pessoas ficarem em perigo", diz o elemento da Frontex, que revela outro risco da sua utilização, resultado das reduzidas dimensões: "É muito complicado detetar estas coisas no mar, o que dificulta as operações de salvamento". Ao longo de 2017, já perderam a vida ou ficaram desaparecidas 2408 migrantes no Mediterrâneo.

A preferência que se vem verificando por Marrocos como ponto de partida para a Europa tem uma vertente económica. Dados da Frontex, citados pela Reuters, indicam que, embora o preço da viagem sido multiplicado por dois no último ano (sendo agora, em média, de 900 euros), continua a ser mais barato do que noutros locais de partida. Por seu lado, as opções de meios de viagem - mais caros quanto mais rápidos - representam outro aspeto que atrai aqueles que querem deixar África por razões políticas, de conflito violento nos seus países ou em busca de melhores condições de vida. Como será o caso das cerca de 30 pessoas chegados esta semana às areias da Andaluzia.

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