Mestres vinagreiros querem mudar hábitos de consumo
Já pensou em preparar uma entrada de queijo de cabra com vinagre? E uma sobremesa, um crepe ou uma panqueca? A empresa que nasceu há 30 anos na terra dos cavalos, na Golegã, criou recentemente uma série de novos sabores e texturas de vinagre e reduções de vinagre que promete mudar os hábitos dos portugueses. A ideia é que os vários sabores em embalagens apelativas sejam levados para a mesa e possam ser escolhidos por qualquer convidado, conforme o gosto.
A inovação - que passa por uma linha de produtos de redução de vinagres com sabores tão diversos como o figo, a manga ou os frutos silvestres, e por uma outra linha de vinagres em spray, com sabores como o champanhe - é a mais recente aposta desta empresa familiar, pensada pelo pai de Carlos Gonçalves. A experiência por conta de outrem e em sociedades de produção de vinagre levou-o a criar o negócio por conta própria. Carlos tinha na altura 15 anos e começou logo a trabalhar. Hoje, aos 45, está à frente da empresa, ainda com a mãe e com a irmã. Começaram por ser eles nos serviços administrativos, com apenas mais dois funcionários a cargo. Hoje, a Mendes Gonçalves é a única empresa promotora de postos de trabalho do concelho.
Tudo começou nas instalações em que ainda agora se produz vinagre de figo de forma artesanal. "É uma matéria-prima que existe no concelho de Torres Novas. Alguns pequenos produtores só saem de casa para vir aqui entregar os frutos", explica Carlos, que apesar do desenvolvimento da empresa quer manter a tradição que a fundou. Prova disso é o pequeno espaço na fábrica dedicada ao embalamento manual. Neste canto embalam-se e colam-se etiquetas a centenas de garrafas por dia (500 a 1000).
Antes de surgirem as grandes superfícies em Portugal, o pai de Carlos vendia de norte a sul do País para o comércio tradicional e para pequenas cadeias de supermercado. Vendia também às comunidades portuguesas emigradas e para as antigas colónias. O aparecimento dos hipermercados obrigou a uma evolução no negócio e nas instalações. Por um lado, produziam-se as marcas próprias, como a Peninsular, por outro começou-se a produzir para as empresas de distribuição. Fazia-se vinagre de vinho e de figo, mais tarde de sidra e agora uma panóplia de sabores e texturas.
Mas Carlos não ficou por aqui. Apesar de alterações introduzidas no comércio do vinagre, decidiu em 2004 expandir a oferta e colmatar uma falha no mercado português: a produção de molhos. "Começamos a fabricar maionese, mostarda e ketchup, até porque o vinagre é matéria-prima desses produtos." Nesta altura, mais de 90% destes molhos eram importados, não se faziam em Portugal (quer para as empresas de distribuição quer para as marcas). "Hoje produzimos para praticamente todas as marcas. Metade da nossa facturação refere-se aos molhos outra aos vinagres É importante para o País exportar, mas se evitarmos importações, criamos mais trabalho e riqueza."
Ainda assim, algumas matérias-primas que usa nos molhos têm de ser importadas por não existirem dentro de fronteiras, como é o caso do ovo em pó. Compensa com as vendas para o estrangeiro, actualmente exporta para 21 países, em todos os continentes, e tem rótulos em várias línguas, do inglês ao árabe. "Por cá o consumo é reduzido, não há massa crítica. Temos de nos virar lá para fora."
Na fábrica há já uma equipa de investigação para analisar produtos e tendências. Os únicos produtos não produzidos aqui, apesar de comercializados pela Mendes Gonçalves, são os vinagres de champagne e o balsâmico. O primeiro vem de França, o outro de Itália (onde a empresa está registada e tem licença para o embalar). "São produtos típicos desta região e não vale a pena imitar", justifica.