Vinte e cinco anos casada com o magnata tecnológico da Microsoft não fizeram de Melinda a mulher de Bill Gates. Ela é muito mais do que isso: está ao lado do marido na tarefa de construir um mundo melhor e comanda a maior fundação dedicada a causas humanitárias que criaram para promover a saúde e combater a miséria extrema. Luta pela igualdade, pelo empoderamento feminino, e politicamente é habitual ouvi-la criticar as decisões de Donald Trump..Melinda casou com Bill Gates em janeiro de 1994 - tinham-se conhecido sete anos numa cerimónia da Microsoft, que ele fundou e ela também trabalhava. Desde então construíram uma vida de objetivos comuns e tiveram três filhos, que fazem questão de resguardar dos holofotes mediáticos: Jennifer (22 anos), Rory (19) Phoebe (16)..Nesta relação - que lida com uma fortuna 86,200 milhões de euros e que os colocou por 12 anos no top dos mais ricos do Planeta - Melinda não está na sombra: ela é uma mulher poderosa empenhada em resolver alguns problemas do mundo e para isso a fundação que o casal criou já doou mais de 36 milhões de dólares..A mulher do chefe não é bem-vinda. Melinda Ann French nasceu em Dallas, no Texas, a 15 de agosto de 1964 - tem 54 anos, Bil tem 63. É filha de um engenheiro e de uma dona de casa e desde pequena recebeu formação católica num colégio de freiras. Na Duke University, na Carolina do Norte, tirou o bacharelato e a especialização em apenas cinco anos. Destacou-se como a melhor aluna da turma e essa condição não terá sido alheia ao facto de ter conseguido entrar imediatamente na Microsoft em Seattle..O casamento com com Bill trouxe-lhe, contudo, alguns momentos de solidão no trabalho. Diz-se que passou meses a comer sozinha na cantina. Ser a mulher do chefe nem sempre é melhor para promover a socialização e as amizades no local de trabalho e Melinda sofreu as consequências, até com alguma hostilidade..Quando nasceu a primeira filha, Jennifer, deixou de trabalhar. Mas se abandonou a carreira na Microsoft, outra carreira se abriu para o mundo, a de filantropa. A mulher de Bill Gates definiu a sua própria agenda. A Forbes já a colocou várias vezes no ranking das mulheres mais poderosas do mundo e, em 2005, atribuiu-lhe o terceiro lugar..Viagem a África... e tudo mudou.A verdade é que Melinda já via o mundo com outros olhos desde que viajou com Bill, ainda namorado, à Tanzânia. Em África os dois contactaram com a pobreza extrema e viram como doenças erradicadas há muito tempo nos Estados Unidos eram impiedosas a matar crianças naquele continente. Em 2000 estava criada a Fundação Bill e Melinda Gates, a maior instituição filantrópica do mundo, com vista à promoção da saúde e redução da miséria nos países pobres. Segundo a Science Progress, Os milhões doados pela fundação já terão salvado a vida de mais de cinco milhões de crianças..É uma mulher que recusa a palavra caridade e que aposta na formação de grupos de trabalho e suporte, bem como parcerias governamentais. "Não se trata de generosidade. Só não podemos aceitar, como seres humanos, que crianças continuem morrendo de diarreia e rotavírus, algo que pode ser curado com um remédio barato comprado em qualquer farmácia dos Estados Unidos", disse Melinda, citada pela Isto É..O discurso de Melinda tem sido fundamental para convencer outros milionários a ajudarem os mais pobres - Warren Buffetr tornou-se um dos grandes apoiantes da fundação dos Gates e a ele também se juntou Mark Zuckerberg.."O dinheiro só tem valor se, de alguma forma, puder ajudar alguém a ter dignidade e uma vida melhor", disse Melinda à Dinheiro."Todos nós, com ou sem dinheiro, temos a capacidade de melhorar a vida de alguém.".Católica, Melinda tem feito tudo para a Igreja alterar os ensinamentos sobre o uso dos anticoncecionais, mas não conseguiu alcançar os seus intentos. "Trabalhamos muito intensamente com a Igreja Católica e houve muitas discussões, porque temos uma missão compartilhada em relação à justiça social e à luta contra a pobreza". Acho que o que este Papa vê é que, se vai tirar as pessoas da pobreza, tem que fazer a coisa certa pelas mulheres", disse em 2017, quando a fundação patrocinou em Londres uma conferência internacional sobre o acesso à contraceção no mundo em desenvolvimento..Viver entre duas realidades: o luxo e a miséria.A realidade em que vive é, no mínimo, estranha: num dia Melinda está em África a ajudar mulheres e crianças pobres a sacar água de um poço ou a falar de conceção, no outro está na sua mansão de Seatlle que dispõe de tudo o que a casa de um magnata pode ter: tecnologia, 24 casas de banho, um ginásio com mais de 200 metros quadrados, sala de cinema..Ela diz que ultrapassa a diferença destes dois mundos com meditação e filosofia, mas também com a definição de regras rigorosas e que causam supresa. Uma delas é a decisão de que os seus filhos não herdarão mais do que 10 milhões de dólares - o resto da fortuna reverterá para a fundação e para outras organizações de solidariedade.."A melhor forma de lidar com isto é viver a vida familiar como gostaríamos", contou a própria numa recente entrevista ao jornal britânico The Times..Mas sempre com regras, sem grandes concessões: na casa dos Gates, os telemóveis desligam-se a certa hora da noite e os filhos são orientados paea a vida, ensinados a detetar quem se aproxima deles por interesse: "Geralmente percebe-se logo como são as pessoas. Ensinei os meus filhos a acionarem um radar rápido para saber quem os ama por si mesmos e quem está interessado em conhecer a casa deles, o pai...".Em casa, adaptou as dinâmicas familiares em prol da igualdade, Bill também lava a louça. Melinda costuma dar o exemplo de que quando já se sentia cansada de perder 45 minutos no trajeto para ir levar e buscar a filha Jennifer ao colégio, disse ao marido que ele também o deveria fazer. O resultado disso foi que outras mulheres conseguiram igualmente passar a tarefa aos maridos. Uma mãe contou a Melida: "Quando o vimos, dissemos aos nossos maridos 'se o Bill Gates leva a filha ao colégio, tu também podes fazê-lo'.".São 25 anos de casados, em que Melinda se tem mantido como uma rocha ao lado do marido, na família e na fundação. "Chegámos a um ponto da nossa vida em que Bill e eu podemos rir-nos das mesmas coisas, E acreditem, houve dias muito duros no nosso matrimónio em que nos questionámos: 'aguentamos isto?'"