Meio século de TV com a mesma juventude de sempre

Faz hoje cinco décadas que as personagens de Charles M. Schulz ganharam vida no pequeno ecrã. Desde então, <em>A Charlie Brown Christmas</em> é emitido todos os anos nos EUA.
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"Época de neve, de inverno, de Natal. A época dos doces, do Pai Natal e, finalmente, daquelas crianças adoráveis dos Peanuts." O anúncio que a CBS colocava no ar em 1965 tinha um minuto de duração e, apenas com acordes de piano como som de fundo - por Vince Guaraldi -, apresentava as personagens principais da próxima série de animação do canal. "Veja a sua tira de banda desenhada favorita ganhar vida", prosseguia a voz off.

O dia chegou a 9 de dezembro desse mesmo ano. A estreia da curta-metragem A Charlie Brown Christmas, há precisamente meio século, foi também a primeira aparição do amante de Beethoven, do seu cão Snoopy e dos seus amigos no pequeno ecrã. A passagem da banda desenhada satírica de Charles M. Schulz para a televisão aconteceu depois de quase 20 anos de presença em jornais norte-americanos. Uma presença que, desde a sua estreia em 1947 no regional de Minneapolis St. Paul Pioneer Press (então com o nome de Li"l Folks) até aos dias de hoje se estima ter aparecido em mais de 2600 jornais em todo o mundo. "Os Peanuts são as pessoas mais grandiosas de todo o planeta. Todas as crianças são Peanuts. São deliciosas, engraçadas, irresistíveis e maravilhosamente imprevisíveis. Odeio vê-las crescer e sair dessa fase de Peanuts", disse Schulz.

Na sua primeira história em televisão, o grupo tem de lidar com o espírito materialista do Natal. Tudo começa quando Charlie Brown não entende esta época do ano. "O Natal está a chegar e eu devia estar feliz, mas não estou", reclama. Quando foi para o ar, este A Charlie Brown Christmas conseguiu críticas positivas, boas audiências - conquistou nesse dia 15,4 milhões de espectadores (por exemplo, o arranque da segunda temporada de Empire, em setembro, foi visto por 16 milhões) - e ainda um Emmy. Aliás, foi desde então emitido todos os anos por esta altura na CBS (até 2000) e depois na ABC (de 2001 até à atualidade).

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O sucesso inegável - tanto que a ABC emitiu, no passado dia 30 de novembro, a retrospetiva It"s Your 50th Christmas, Charlie Brown!, na qual participou o presidente dos EUA, Barack Obama - trouxe, no entanto, alguns dissabores. Como quando Schulz impediu a CBS de colocar risos como voz off ou teve de batalhar com o produtor Lee Mendelson para incluir uma passagem inteira do Novo Testamento como diálogo, ou ainda encontrar crianças "reais e não atores" para dar voz às personagens, o que fez que quase nenhuma delas, de tão novas eram, conseguisse ler o guião.

Com o patrocínio da Coca-Cola (mais tarde retirado), A Charlie Brown Christmas foi o primeiro de 44 especiais até agora emitidos em televisão, aos quais se acrescentam 28 documentários, 23 videojogos, dois musicais e cinco filmes. Destes, o mais atual estreou-se nos Estados Unidos a 6 de novembro deste ano, chegando aos ecrãs portugueses na véspera de Natal.

Antes de morrer, em fevereiro de 2000 com 77 anos, Charles M. Schulz fez um pedido: que os seus desenhos continuassem com os traços originais. O recente The Peanuts Movie, realizado por Steve Martino, é fiel a este legado.

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