Megaoperação da PJ. Buscas nos Comandos por suspeita de tráfico de droga, diamantes e ouro

Estão a decorrer mais de 100 buscas em todo o país e há cerca de 10 mandados de detenção nesta megaoperação da PJ. As Forças Armadas prometem tomar "as devidas medidas sendo absolutamente intransigentes com desvios aos valores e ética militar".
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A Polícia Judiciária (PJ) está a realizar, esta segunda-feira, mais de 100 buscas em todo o país, nomeadamente no regimento de Comandos, na Carregueira, Sintra. Em causa estão suspeitas de tráfico de diamantes, ouro e droga por parte de militares portugueses nomeadamente comandos e ex-comandos em missões militares ao abrigo da ONU, sobretudo na República Centro Africana (RCA), avança a SIC Notícias.

Nesta megaoperação há cerca de 10 mandados de detenção assinados pelo juiz Carlos Alexandre. Estão em curso buscas em Lisboa, Porto, Bragança e Vila Real.

As Forças Armadas fizeram saber, entretanto, que prometem tomar "as devidas medidas sendo absolutamente intransigentes com desvios aos valores e ética militar.

Em comunicado do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), enviado às redações, as Forças Armadas "repudiam totalmente estes comportamentos contrários aos valores da Instituição Militar".

As suspeitas recaem em militares e ex-militares portugueses que terão recorrido a aviões militares, cuja carga não é fiscalizada, para o tráfico de pedras preciosas e droga, segundo a SIC. Há também suspeitas de branqueamento de capitais, através da utilização de bitcoins

O inquérito dura há um ano e está a cargo do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa.

Há suspeitas de que a prática da atividade criminosa dure há vários anos, segundo a TVI 24. O esquema, adianta a estação de televisão de Queluz de Baixo, assenta no tráfico de pedras preciosas, nomeadamente os denominados diamantes de sangue, cuja extração é feita em zonas de conflito, recorrendo muitas vezes ao trabalho forçado de crianças.

As pedras preciosas seriam transportadas em aviões militares e depois levadas para a Bélgica, onde eram vendidas a preços milionários. Está também a ser investigada a ocultação destes valores ilícitos - branqueamentos de capitais -, com recurso a testas de ferro na abertura de contas bancárias e à aquisição de bitcoins.

De acordo com o comunicado do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), em dezembro de 2019 "foi reportado ao comandante da 6ª Força Nacional Destacada (FND), na República Centro Africana (MINUSCA), o eventual envolvimento de militares portugueses no tráfico de diamantes".

A situação foi prontamente relatada ao EMGFA, "tendo esta sido de imediato denunciada à Polícia Judiciária Militar (PJM) para investigação".

A PJM fez, depois, a respetiva denúncia ao Ministério Público que nomeou como entidade responsável pela investigação a Polícia Judiciária, esclarece o comunicado..

"O que está em causa de momento é a possibilidade de alguns militares que participaram nas FND, na RCA, terem sido utilizados como correios no tráfego de diamantes, ouro e estupefacientes. Estes produtos foram alegadamente transportados nas aeronaves de regresso das FND a território nacional", confirma o EMGFA.

"Além da denúncia imediata, o EMGFA mandou reforçar os procedimentos de controlo e verificação à chegada dos militares das FND e respetivas cargas", lê-se ainda na nota, na qual é referido que "os inquéritos militares e respetivas consequências estão pendentes das investigações em curso" e que o processo está em segredo de justiça.

Segundo a TVI, trata-se da maior operação do ano da PJ, que envolve cerca de 200 inspetores. Suspeita-se que tenha sido criada uma rede criminosa envolvendo comandos e ex-comandos, alguns dos quais hoje são agentes da PSP e militares da GNR.

"Não afeta a nossa imagem internacional. Se as autoridades judiciais entendem que há indícios que exigem investigações, essas investigações devem ser feitas. Vigora o princípio da separação de poderes, portanto, não tenho nada a dizer sobre investigações judiciais em curso", começou por dizer Augusto Santos Silva.

"A imagem internacional de Portugal muito beneficia do facto de sermos, como costumamos dizer, um contribuinte líquido para a segurança internacional e o facto de, em particular, nas missões de paz das Nações Unidas, mas também nas missões da NATO ou nas missões da União Europeia, o papel desempenhado pelos militares portugueses ser unanimemente reconhecido", acrescentou o ministro aos jornalistas, em Coimbra, à margem da conferência anual da AICEP.

"Quer como ministro da Defesa quer agora como ministro dos Negócios Estrangeiros, não oiço de nenhum meu interlocutor internacional que fale de missões portuguesas destacadas em missões de paz internacionais outra coisa senão o pedido que continuemos e que reforcemos a nossa presença", concluiu Santos Silva.

O secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional afirmou esta segunda-feira que "as investigações são muito importantes" para a credibilidade das instituições militares, ao comentar a operação que visa militares por alegado envolvimento em tráfico de diamantes e ouro.

"Como é evidente, vivendo nós num Estado de direito e existindo separação de poderes, estas questões devem ser investigadas de uma forma absolutamente clara, para defender o interesse público, e, portanto, desse ponto de vista, nós observamos com toda a atenção no Governo como é que estas investigações estão a ser feitas, porque elas são muito importantes, nomeadamente para mantermos com toda a credibilidade e com todo o bom-nome todas as instituições militares", disse aos jornalistas Jorge Seguro Sanches, na Marinha Grande, distrito de Leiria.

Vários órgãos de comunicação social noticiaram hoje que a Polícia Judiciária está a fazer buscas no Regimento de Comandos, e noutros cerca de 100 locais, por suspeitas de tráfico de diamantes e ouro em missões militares noutros países, como na República Centro-Africana.

As operações decorrem, de acordo com a SIC, em Lisboa, Porto, Bragança e Vila Real.

Reconhecendo que, "por vezes, em todas as organizações, pode haver uma situação menos clara ou outra", o secretário de Estado salientou que é "nessas situações que as autoridades devem investigar".

Jorge Seguro Sanches garantiu que, "logo que houve algumas suspeitas sobre esta situação, os órgãos próprios passaram a fazer essa investigação e este resultado está agora a funcionar", referindo desconhecer dados mais específicos sobre a operação policial em curso.

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