O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) olha para o Serviço Nacional de Saúde como "uma vergonha". Por sua vez, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) diz que o "governo tem mostrado uma total insensibilidade para com as propostas dos médicos"..Em vésperas da reunião com a ministra da Saúde, Marta Temido, o DN foi ouvir os responsáveis pelas duas estruturas sindicais que esta quarta-feira têm um encontro crucial para definir as relações entre governo e médicos até às legislativas. Caso não se consigam firmar acordos, os sindicatos já prometeram endurecer as formas de luta. O secretário-geral do SIM considera a hipótese de uma greve nacional - passado quase um ano desde a última (maio de 2018). Já o presidente da Fnam rejeita para já a hipótese da paralisação, mas não concretiza propostas sem falar com os profissionais de saúde.."Só sei que isto é uma vergonha." João Proença, presidente da Federação Nacional dos Médicos.Que exigências vão levar para a reunião? São as mesmas de que temos vindo a falar. Eu convenci-me, com a entrada da senhora ministra, de que se ia alterar qualquer coisa, mas não foi isso que aconteceu. Só sei que isto é uma vergonha, porqueos serviços estão a fechar, não há concursos, os médicos de medicina geral diminuíram de 1900 para 1500. Depois há a questão das horas, da passagem para as 12 horas. Neste momento, o que existe são muitos médicos perto da reforma, três ou quatro com 40 anos e depois tudo o resto com vinte e tal, trinta anos. Claro que isto faz que os privados floresçam. Não recebi nenhuma informação prévia de que vamos ter alguma cedência para mudar alguma coisa, portanto....O que é que vão fazer caso realmente não haja cedência da parte do Ministério da Saúde? Isso não sei. Toda a gente está a falar em greve, mas falar em greve não é suficiente para se resolver o problema. Sinceramente não sei..A greve não é uma opção? Não podemos dizer que vamos fazer greve e depois temos mil pessoas a fazer greve e não resolvemos nenhum problema..Quais serão as outras hipóteses de formas de luta? Sinceramente não faço ideia. Vamos perguntar aos médicos nos locais de trabalho e nas reuniões. Eu prefiro negociar para resolver, mas vai depender da atitude negocial do ministério. Se não houver calendarização [das reivindicações], vamos reunirmo-nos e propor formas de luta..A greve "é uma hipótese séria", apesar de ser "a última das armas para sensibilizar o governo". Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos.Que exigências vão levar para a reunião? Este governo tem mostrado uma total insensibilidade para com as propostas que os médicos têm feito no sentido de facilitar o acesso dos cidadãos ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Este é o investimento no SNS mais baixo, mesmo comparado com o do tempo da troika. De 2012 a 2014, a transferência para o SNS foi de 26,3 mil milhões. De 2015 a 2017 foi de 24,7 mil milhões, segundo o Tribunal de Contas. Este investimento está cada vez mais longe daquilo que acontece no privado. E muito longe de repor os médicos que foram saindo. Por isso, o que pedimos é a passagem das 18 horas para as 12 horas de trabalho no Serviço de Urgência. Estamos a falar de mais seis horas para cirurgias e para consultas programadas. Organização e disciplina do trabalho médico, garantindo tempo para a investigação e para fazer formação de médicos mais novos. Queremos um acordo para pôr ordem àquilo que acontece no Instituto Nacional de Emergência Médica, onde cerca de 90% dos médicos são prestadores de serviço. A valorização da autoridade de saúde essencial para garantir a saúde pública no país. Concursos para o topo da carreira que possam colmatar os 2100 médicos que entretanto se reformaram, fazendo que exista uma progressiva degradação da profissão e da qualidade do ato médico..Como classifica a atitude do governo nos últimos três anos face às vossas reivindicações? Apesar das belas palavras, um profundo desprezo pelo desenvolvimento do SNS e de preocupação pela saúde, principalmente dos mais desfavorecidos. Com esta falta de respeito, o que nos parece é que querem empurrar os médicos para a greve..Voltar à greve é uma hipótese? É uma hipótese séria, apesar de a última ter sido há menos de um ano. Para nós a greve é mesmo a última das armas para sensibilizar o governo - infelizmente o dano é feito não ao governo mas à população.Portanto, com esta atitude de não querer resolver os problemas, o Ministério da Saúde e o governo estão a querer que as condições sejam agravadas..Que outras formas de luta estarão em cima da mesa caso não consigam chegar a um acordo na quarta-feira? Continuaremos a fazer tudo para identificar e denunciar todas as situações de ausência de cuidados de saúde da nossa população. Continuaremos a denunciar equipas que estão muito abaixo dos resultados e que põem em perigo a saúde dos utentes e dos profissionais. Continuaremos a ser solidários com todos os médicos que estão em posições de responsabilidade e em cargos de chefia e que têm colocado o seu lugar à disposição por falta de condições de trabalho. Continuaremos a tentar criar as condições mínimas para que os médicos não saiam para o estrangeiro, para o privado ou mesmo para uma reforma antecipada.