Os cigarros eletrónicos assumiram-se como alternativa ao tabaco tradicional, sob o argumento de que a composição não seria tão prejudicial à saúde. No entanto, "não temos informação suficiente para indicar se é melhor ou se é pior", segundo José Pedro Boléo-Tomé, pneumologista no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca e um dos autores do estudo sobre cigarros eletrónicos, publicado recentemente na revista Acta Médica Portuguesa..A informação já disponível aponta para efeitos nocivos, que poderão ser superiores no caso dos cigarros eletrónicos (dispositivos, líquidos, cápsulas de enchimento e cartuchos) com sabores, alertam os especialistas, depois de conhecida a possibilidade de este tipo de tabaco ser um ponto comum entre mais de quatro centenas de pessoas hospitalizadas nos Estados Unidos com uma doença respiratória grave.."Não podemos deixar que a população se deixe seduzir por novos produtos sem segurança comprovada a longo prazo", advertem os autores do estudo "O médico, o doente fumador e o desafio dos cigarros eletrónicos" da revista da Ordem dos Médicos..Se os muitos estudos realizados em fumadores de tabaco tradicional já contam com largas dezenas de anos, os riscos associados a esta nova forma de fumar ainda não são óbvios. "Apesar disto já há alguns estudos que mostram que os cigarros eletrónicos têm compostos perigosos, cancerígenos, que danificam diretamente o pulmão e as células respiratórias. E também já sabemos, porque apesar de tudo já temos mais de dez anos de utilização, que aumenta o risco de as pessoas terem cancros e acidentes vasculares cerebrais", indica José Pedro Boléo-Tomé..Mas mesmo entre os poucos ensaios científicos que existem, nem todos são imparciais, alertam os pneumologistas. "Na ciência é preciso mais do que um estudo, feito com tempo, por cientistas isentos para comprovar que os resultados são mesmo assim. Ora se alguns destes investigadores são funcionários das empresas tabaqueiras ou de alguma forma recebem compensações por parte destas empresas, a sua isenção cientifica está logo comprometida", diz o médico do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca..Cigarros com sabor aumentam desconfiança.Podem saber a fruta, baunilha, pastilha elástica, donuts, algodão-doce. "Há para todos os gostos e feitios", ironiza José Tomé. E por a oferta ser diversificada e atrativa, torna-se um convite para os mais novos, que veem nos cigarros eletrónicos uma porta de entrada para o tabaco tradicional ou até drogas inaláveis, como a canábis.."Muitos destes aromas são substâncias que foram aprovadas para a industria alimentar, o que não faz mal por via digestiva. O problema é que não sabemos o que acontece se aquecermos essas substâncias a alta temperatura ou se as vaporizarmos. Em alguns casos já se sabe que emitem compostos perigosos, cancerígenos alguns", explica o pneumologista..Os Estados Unidos preparam-se para banir do mercado os cigarros eletrónicos com sabor, confirmou nesta quarta-feira o secretário da Saúde e dos Serviços Humanos, Alex Azar, na sua conta oficial deTwitter. A decisão terá sido tomada na sequência de um pedido das autoridades sanitárias norte-americanas para que fossem feitas restrições neste sentido, depois de lançada a suspeita de que estes cigarros poderiam estar na origem de uma doença pulmonar que levou ao hospital mais de 400 pessoas e que fez pelo menos cinco mortos..Na sequência deste caso, a Sociedade Portuguesa de Pneumologistas (SPP) elaborou um comunicado em que indica que "até ao momento não são conhecidos casos semelhantes fora dos Estados Unidos. No entanto, dada a grande disseminação destes produtos e fácil acessibilidade, é provável que surjam noutros países, incluindo Portugal"..Por isso, a SPP sugere aos médicos que comuniquem às autoridades de saúde casos de doentes com sintomas respiratórios agudos que suspeitem estar ligados ao consumo do cigarro eletrónico e aos consumidores que desenvolvam estes mesmos sintomas que os reportem aos médicos..Manifestam ainda "a convicção de que a melhor forma de proteger a saúde respiratória é respirar ar limpo" e que "a inalação de compostos químicos presentes no vapor dos cigarros eletrónicos representa um risco real", principalmente se os dispositivos forem "adquiridos fora do comércio regulado, a sua utilização modificada ou a adição de líquidos ou óleos contendo derivados da canábis ou outros aditivos"..Líder polémica de cigarros eletrónicos dos EUA chega a Portugal em outubro.JUUL, a mais importante fabricante de cigarros eletrónicos nos Estados Unidos, que tem sido acusada de aliciar crianças para fumarem estes cigarros com sabores, começa a operar em Portugal a partir do próximo mês, foi anunciado nesta quinta-feira..A empresa tem sido ainda alvo de investigações por parte das autoridades norte-americanas, mas garante que não contribuiu para o surto da doença desconhecida e que pretende apenas contribuir para "melhorar a vida dos mil milhões de fumadores adultos em todo o mundo e, consequentemente, eliminar os cigarros", oferecendo um produto "menos nocivo", de acordo com as informações prestadas no site do fabricante..Está previsto que os seus cigarros sejam comercializados em quatro mil postos de venda espalhados por todo o país e que tenham um custo associado entre 29,99 e 34,99 euros.