Médico recomendou tratamento psiquiátrico para copiloto que fez cair avião

Relatório sobre queda do aparelho da Germanwing, há cerca de um ano, confirma que esta foi provocada voluntariamente por Andreas Lubitz.
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Os especialistas aeronáuticos franceses defendem um reforço do controlo médico dos pilotos, no relatório final sobre a catástrofe da Germanwings, da qual resultaram 150 mortos há cerca de um ano, no sul dos Alpes franceses.

Este relatório, hoje divulgado numa conferência de imprensa em Bourget, perto de Paris, confirma definitivamente que a queda do avião foi provocada voluntariamente pelo copiloto alemão do aparelho, Andreas Lubitz, que sofria de problemas psíquicos.

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O documento indica também que um médico recomendou tratamento psiquiátrico para o copiloto, apenas duas semanas antes do incidente. Andreas Lubitz começou a apresentar sintomas de depressão psicótica em dezembro de 2014 e consultou vários médicos nos meses seguintes. No entanto, nenhum deles alertou as autoridades da aviação ou a companhia aérea.

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"Regras mais claras devem ser exigidas para saber quando é que é necessário levantar o segredo médico", declarou Arnaud Desjardins, um dos especialistas encarregados pela investigação deste acidente.

O documento final da investigação de segurança mantém que o alemão Andreas Lubitz modificou intencionalmente os ajustamentos do piloto automático para que o aparelho descesse e não respondeu às chamadas dos controladores nem às pancadas na porta da cabine.

Os investigadores pedem, entre outras medidas, que se exija um seguimento médico dos pilotos com antecedentes psicológicos ou psiquiátricos e que se alcance um "melhor equilíbrio" entre a manutenção do segredo médico e a segurança pública.

O BEA (Bureau d'Enquêtes et d'Analyses) defende que são necessárias regras mais claras para saber quando é preciso levantar o segredo médico, perante a constatação de que vários especialistas privados conheciam os transtornos de Lubitz e a profissão deste e, contudo, não fizeram chegar a informação às autoridades aeronáuticas nem à empresa.

O organismo afirma que está consciente da reticência dos pilotos à hora de declarar os seus problemas e procurar ajuda médica por temerem perder a licença devido ao "elevado investimento financeiro e ao atrativo associado à sua profissão" e, por isso, insta os operadores a adotar medidas para mitigar os riscos socioeconómicos relacionados com a perda da licença por razões médicas.

Os investigadores também recomendam a promoção da aplicação de grupos de apoio para os pilotos para poderem falar dos problemas e definir modalidades sob as quais a normativa da União Europeia permitiria que sejam declarados em condições de voar enquanto estejam a tomar medicamentos antidepressivos.

O BEA não aponta para a presença obrigatória de duas pessoas na cabine, mas sublinha que esta medida "vai no bom sentido", porque não pode garantir que se evitem os acidentes, especialmente em caso de suicídio.

"Estamos conscientes de que se trata de um problema difícil. No podemos pretender que sejam medidas 100% eficazes", concluiu na conferência de imprensa o diretor do BEA, Rémi Jouty.

O avião fazia a ligação entre Barcelona e Dusseldorf quando embateu nos Alpes franceses, a 24 de março de 2015.

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