O Centro de Saúde de Odemira, distrito de Beja, tem quatro médicos nos quadros, mas apenas um ainda faz urgência. Sem recursos médicos na unidade, já pediu escusa de responsabilidade das urgências, que funcionam 24 horas, e que se encontram ainda mais lotadas no verão, quando a população do concelho triplica, de acordo com o presidente da câmara municipal.."É um quadro médico quase eventual. Há três ou quatro médicos, mas estamos na eminência de ficar só com um a partir do próximo ano, porque os outros estão em situação de aposentação. Isto quando devíamos ter um quadro com 13 ou 14 médicos. O resto são prestadores de serviços e que a qualquer altura podem deixar de cá estar. Estamos a falar de uma situação que, sendo preocupante, se pode tornar dramática", diz o presidente da Câmara Municipal de Odemira, José Alberto Guerreiro, eleito pelo PS..Independentemente da possibilidade de três dos quatros elementos que constituem o corpo médico efetivo se reformarem, isso não altera a situação em que as urgências da unidade de cuidados primários se encontram. Uma vez que os três profissionais em causa têm mais de 55 anos e por isso não estão, por lei, obrigados a cumprir serviço de urgência e escolhem não o fazer. O coordenador das urgências é assim o único médico do quadro que trabalha neste serviço e que agora se quer demitir dessa responsabilidade por não existir, durante as 24 horas, outro efetivo a coordenar o departamento..As escalas de urgência do Centro de Saúde de Odemira são praticamente preenchidas por prestadores de serviços, que muitas vezes não conhecem o trabalho da instituição, garante quem lá trabalha. As mesmas fontes, que preferem não ser identificadas, admitem ainda que há dias em que o número de médicos é inclusivamente inferior ao estipulado por lei. Em vez de dois profissionais, está apenas um. Um risco que se revela superior tendo em conta o tipo de serviço ali prestado: aberto 24 horas, todos os dias da semana, dirigem-se ao centro de saúde habitualmente grávidas em trabalho de parto, pessoas com enfartes, vítimas de afogamentos nas praias próximas. .A situação não é de agora. Há já vários anos que os profissionais da unidade de saúde alertam para a falta de recursos humanos. Numa foto do arquivo do DN, captada em 2007, neste centro de saúde, podia ler-se, num cartaz colocado na porta de acesso aos gabinetes médicos: "Tempo de espera muito demorado. Atendimento por um só médico.".No entanto, segundo o autarca, a falta de médicos têm-se agravado nos últimos três anos. "Se há quatro anos havia mil e tal pessoas sem médico de família [no concelho], agora são mais de seis mil.".Verão agrava os problemas das outras estações.Outro fator de pressão é a época balnear. De acordo com o presidente da câmara municipal, o concelho triplica a sua população (26 066 pessoas, segundo o Census de 2011) durante o verão. Seja porque procuram as praias, o turismo rural, os festivais ou até trabalho temporário, "estamos a falar de cerca de 80 mil pessoas".."Todos eles [quem vem para o concelho no verão] acarretam preocupações e essa sobrecarga junta-se à falta que já existe na população residente. Não são só os médicos, também há falta de enfermeiros e de administrativos", refere José Alberto Guerreiro..O DN enviou perguntas à Administração Regional de Saúde do Alentejo sobre a falta de profissionais no Centro de Saúde de Odemira e sobre o que está a ser feito para a colmatar, mas até ao momento ainda não recebeu resposta. No entanto, o presidente da câmara indica que foi informado, durante uma reunião com outros autarcas da região e com o secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, a 9 de julho, de que estaria a ser preparado um concurso com vagas para a unidade de saúde.."Isto não basta", diz José Alberto Guerreiro. O mesmo aconteceu em anos anteriores, mas os lugares ficaram por preencher. "Um dos lamentos do senhor secretário de Estado foi que o Estado paga pouco aos médicos e enfermeiros e eles preferem ir para o privado. Isso tem de ser resolvido. Temos de pensar se queremos um Serviço Nacional de Saúde no papel ou se queremos meios para o pôr em prática", acrescenta o autarca.