Media conservadores do Irão saúdam agressor de Salman Rushdie
O jornal ultraconservador iraniano Kayhan saudou este sábado o homem que esfaqueou o escritor britânico Salman Rushdie - alvo de uma fatwa iraniana de 1989 a pedir a sua morte.
Rushdie está ligado a um ventilador após o ataque durante um evento literário no estado de Nova Iorque na sexta-feira, mais de 30 anos depois da fatwa decretada pelo falecido líder supremo aiatola Ruhollah Khomeini.
"Bravo a este homem corajoso e consciente do dever que atacou o apóstata e depravado Salman Rushdie em Nova Iorque", escreveu o jornal, cujo diretor é nomeado pelo atual líder supremo aiatola Ali Khamenei. "Beijemos as mãos daquele que rasgou o pescoço do inimigo de Deus com uma faca", acrescentou o diário.
Com exceção da publicação reformista Etemad, os diversos media iranianos seguiram uma linha semelhante, descrevendo Rushdie como um "apóstata" .O jornal estatal Iran disse que o "pescoço do diabo" foi "cortado por uma navalha".
As autoridades iranianas ainda não fizeram nenhum comentário oficial sobre o ataque com faca contra Rushdie.
Mas Mohammad Marandi, um conselheiro da delegação iraniana para as negociações sobre o acordo nuclear, em Viena, escreveu no Twitter: "Não vou derramar lágrimas por um escritor que jorra ódio e desprezo sem fim pelos muçulmanos e pelo Islão".
"Mas não é estranho que, à medida que nos aproximamos de um possível acordo nuclear, os EUA façam alegações sobre um ataque a Bolton... e então isto aconteça?" questionou.
O ataque ocorreu depois de o Irão dar a entender na sexta-feira que pode aceitar um compromisso final para reviver o acordo nuclear de 2015 com as potências mundiais. Isto seguiu-se à apresentação de um "texto final" pela União Europeia em Viena.
O Departamento de Justiça dos EUA disse na quarta-feira que indiciou um membro da Guarda Revolucionária do Irão por alegações de que ofereceu 291 mil euros (300 mil dólares) a um indíviduo para matar o ex-assessor de segurança da Casa Branca John Bolton. O Irão rejeitou as alegações como "ficção".
Rushdie, de 75 anos, foi lançado para o centro das atenções com o seu segundo romance "Midnight's Children" em 1981, que ganhou elogios internacionais e o prestigioso Prémio Booker da Grã-Bretanha pelo seu retrato da Índia pós-independência, onde nasceu.
Mas o seu livro de 1988 "Os Versículos Satânicos" transformou a sua vida, quando Khomeini emitiu um decreto religioso a ordenar a sua morte. Em 1998, o governo do presidente reformista do Irão, Mohammad Khatami, garantiu à Grã-Bretanha que o Irão não implementaria a fatwa.
No entanto, Khamenei disse em 2005 que ainda acreditava que Rushdie era um apóstata cujo assassinato seria autorizado pelo Islão.