O futebol sempre teve a sua dose de dirigentes intempestivos, gestores de "gatilho fácil" que encurtam os prazos de entrega de resultados até ao limiar do absurdo. O espanhol Jesús Gil y Gil, por exemplo, famoso presidente do Atlético de Madrid que contratou Paulo Futre nos anos 1980, foi um dos mais excêntricos, acumulando 30 treinadores em 16 anos de presidência..Mas até Gil y Gil correria o risco de passar a imagem de um sensato líder na comparação com Maurizio Zamparini, o irascível empresário italiano que é presidente do Palermo e já vai em 33 mudanças de treinador desde que adquiriu o clube siciliano em 2002 - uma contabilidade que aumenta para 58 se juntarmos os 15 anos anteriores em que foi presidente do Veneza..Ora, após a jornada deste fim de semana na Série A, na qual o Palermo perdeu mais um jogo, na visita ao Inter de Milão (3-1), ficando com apenas um ponto de vantagem sobre a zona de descida, Zamparini anunciou um novo recorde no campeonato italiano: a sexta mudança de treinador desta época..E, como quase sempre, a história tem contornos irracionais. O presidente do Palermo acusou o técnico Giuseppe Iachini de ter "enlouquecido" e querer "abandonar o clube", apenas três semanas depois de ter assumido o cargo. "Ele não quer falar com ninguém no clube. Enlouqueceu, não é a mesma pessoa. Um presidente já não pode dizer nada sobre a equipa?", questionou Zamparini a uma rádio local, ainda esperançado em ver o técnico voltar atrás..Então e o que disse Zamparini sobre a equipa e o treinador após a derrota contra o Inter? "Iachini é um idiota que faz a equipa jogar mal e que só sabe perder jogos. E depois não sabe aceitar críticas. Tem uma mentalidade de perdedor e não quero saber dele." Humm, pois....Para acrescentar mais uma pitada de surrealismo, refira-se que Iachini, de 51 anos, regressou ao comando técnico do Palermo no dia 15 de fevereiro, três meses depois de ter sido o primeiro treinador despedido por Zamparini nesta temporada..Na altura, a meio de novembro, Iachini deu lugar a David Ballardini. Este durou dois meses, até janeiro, saindo por "se recusar a falar com os jogadores". Seguiu-se o argentino Guillermo Barros Schelotto, mas a contratação ficou sem efeito por falta de licença de treinador da UEFA. E sucederam-se, de forma temporária, Fabio Viviani, Giovanni Tedesco e Giovanni Bosi até o Palermo voltar à fórmula inicial, recontratando Giuseppe Iachini..Agora, Maurizio Zamparini, de 75 anos, considera-se injustiçado pelos críticos e adeptos que o acusam de ser o fator desestabilizador do Palermo. E ameaça sair em junho. O extraordinário é que, no meio deste caos, a equipa ainda resista acima da linha de água, em 17.º lugar.