"Estamos num ano sobre o qual os historiadores vão escrever dentro de um século", disse Martin Wolf, do Financial Times, falando "num ano de potencial mudança mundial". Martin Wolf refere que este ano está a ser particularmente complicado, não só por causa do brexit, mas também o resultado eleitoral nos EUA..Wolf, que falou na conferência Luzes e Sombras da União Europeia, que decorre hoje e amanhã na Fundação Gulbenkian, fala sobre se "será que a União Europeia vai sobreviver às suas crises", avisando logo ao inicio do discurso que será "um comentário depressivo"..O editor do Financial Times começou por falar do renascimento dos populismos, de esquerda e de direita na Europa, para depois se debruçar sobre a crise económica mundial, particularmente grave na Europa, falando também de uma "divergência" interna entre os diferentes países..Em relação ao PIB, por exemplo, referiu como o da Alemanha subiu mais de 10% nos últimos anos, ao contrário do da Grécia, que caiu 27%. "A crise gerou uma divergência massiva", sendo que os países que foram menos afetados são os "relativamente ricos"..Outra forma de ver essa divergência é no aumento da dívida pública, verificado por exemplo em Portugal, Espanha ou Irlanda, ao contrário por exemplo da Alemanha. "Não era uma crise fiscal, mas tornou-se numa", explicou ainda Wolf, apontando para a mesma divergência em relação ao desemprego. "A zona euro tornou-se numa máquina geradora de divergência", indicou, falando num "falhanço da zona euro de conseguir a convergência"..Os grandes desafios da União Europeia passam por regressar à estagnação ou prosperidade, mas também pelas relações internacionais, desde logo por causa da "revolução" que está a ocorrer nos EUA, afirmou, referindo-se ao resultado das presidenciais e à eleição do republicano Donald Trump..A nível interno, há um desafio incrível, nomeadamente com o brexit, com Wolf a apostar num "hard brexit", mas isso não tornará a vida mais fácil na União Europeia. "A UE já não é uma entidade coerente", indicou, referindo que a sua sobrevivência está em risco..Teria sido muito sensato que vários países do sul da Europa não tivessem aderido à moeda única, defendeu Wolf, que deixou claro: "Fui contra o euro não porque era anti-europeu, mas porque era pro-europeu e achava que ia separar a Europa." Agora, defende, a "separação é um pesadelo", que poderá levar ao fim da União Europeia.