Marta Temido descarta confinamento total mas "não exclui medidas sectoriais mais gravosas"

A ministra da Saúde afirmou que há 511 camas em unidades de cuidados intensivos para adultos, cuja "ocupação é de 68%" com covid-19.
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No dia em que Portugal ultrapassou, pela primeira vez, a barreira dos dois mil casos de covid-19 diários, e foi anunciado que o país vai entrar em estado de calamidade a partir das 00:00 de quinta-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, exclui um confinamento total, mas admite "medidas sectoriais mais gravosas", em função da situação epidemiológica do país.

Voltar a ter um país fechado, com escolas e estabelecimentos encerrados, como aconteceu na primavera, não é uma possibilidade para o Governo numa altura em que o número de infeções continua a aumentar e que se prevê que a situação possa agravar-se com os novos casos a atingirem os três mil diários nos próximos dias, tendo em conta cálculos matemáticos. Em entrevista ao Jornal das 8, da TVI, Marta Temido, rejeita um confinamento total. "É um cenário que todos os governos tudo farão para o evitar, porque hoje todos sabemos que é uma opção extrema, tem efeitos secundários terríveis para os mais desfavorecidos", justificou.

A responsável pela pasta da Saúde no Governo de António Costa disse, no entanto, que "isso não exclui medidas setoriais mais gravosas em função da situação epidemiológica".

Aliás, Marta Temido afirma que é o que se tem feito sempre que a situação o exige, recordando as medidas restritivas que vigoraram nos cinco concelhos da Área Metropolitana de Lisboa durante o verão. Agora, após reunião do Concelho de Ministros, realizada esta quarta-feira, António Costa referiu que a pandemia em Portugal está a registar uma "evolução grave" e que o país passa de situação de contingência para situação de calamidade. Costa fez saber que o Governo vai apresentar no Parlamento um projeto de lei que torne obrigatório o uso de máscara na via pública e que a aplicação da aplicação StayAway Covid seja também obrigatória em determinadas situações, como num contexto laboral, escolar e académico.

A decisão de decretar "um patamar acima do nível de alerta em que estávamos e um conjunto de medidas" tem como objetivo "agir naquilo que afiguram ser os principais fatores de transmissão da doença, os ajuntamentos pouco regrados, a necessidade de uma fiscalização adicional, a necessidade que em determinados eventos sociais sejam cumpridas regras restritas de número de indivíduos que está presente", referiu Marta Temido.

Medidas que são acompanhadas por um conjunto de outras que pretendem aliviar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), fez questão de destacar a ministra da Saúde ao jornalista José Alberto Carvalho. "Dou-lhe um exemplo, a possibilidade que vamos ter novamente a partir da próxima semana de a linha SNS 24 poder prescrever testes, o reforço das unidades de saúde pública com profissionais especificamente contratados para o apoio aos inquéritos epidemiológicos", enumerou a ministra referindo que o total de camas em cuidados intensivos polivalente adultos à data de ontem é de 511 e que neste momento "a ocupação é de 68%", incluindo os doentes com covid-19.

Com Portugal a registar esta quarta-feira mais 2072 novos e sete mortes, Marta Temido referiu que "estamos numa nova fase de crescimento" e que o risco de transmissibilidade (RT), entre os dias 5 e 10 de outubro, varia entre 0,91 no Algarve e 1,2 na região Norte.

A ministra também descarta a possibilidade de ser implementado um regime de semáforos locais ou regionais, tendo em conta os diferentes cenários epidemiológicos que o país apresenta. "A questão dos semáforos tem um risco de estigmatização elevado", considerou. "Colorir uma área e associar os seus residentes de uma forma direta ou indireta a problemas não é compatível com uma abordagem de saúde pública", acrescentou. Privilegia-se o trabalho de proximidade, refere a ministra.

Questionada sobre a carta aberta do atual e de ex-bastonários da Ordem dos Médicos dirigida à ministra sobre a necessidade urgente de existir uma cooperação efetiva entre o SNS e outros setores, como o privado, Marta Temido garante que essa cooperação já existe. "Há preocupação, entendo. Esta colaboração é programada. A colaboração entre o SNS e o setor privado existe", disse.

"Mantém-se tudo igual em termos de necessidades assistenciais", garantiu a ministra. "Se for necessário [os privados] estão cá para nos ajudar", reforçou, mas alertou: "Não podemos encostar metade do SNS ao lado e dizer que vai ocupar-se apenas de uma parte, porque há muitas respostas que só o SNS tem".

Percebe a preocupação dos signatários da carta aberta que lhe foi dirigida, mas questionou: "porque é que nos estão a empurrar?" A ministra lembrou que "todos os dias" o SNS já envia doentes para realizar, por exemplo, exames laboratoriais nos privados.

Na entrevista, Marta Temido, afirmou que em 2021, como está inscrito no Orçamento de Estado para o próximo ano, o Serviço Nacional de Saúde terá mais 4200 profissionais de saúde. Garantiu que se trata de um número "líquido", ou seja, real, em resposta à pergunta que o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, deixou no ar, em entrevista ao DN, sobre quantos profissionais iriam sair em 2021.

Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta quarta-feira, no total, desde que a pandemia começou, registaram-se 91 193 infetados, 54 493 recuperados (mais 446)​, e 2117 vítimas mortais no país.

Neste momento, há 34 583 casos ativos, mais 1619 do​​​​​​ que na terça-feira. Destes, 97% encontram-se a recuperar "em ambiente domiciliário", informou a ministra da Saúde, Marta Temido, durante a conferência de imprensa desta tarde.

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