Marta Pereira da Costa. O encontro que já tardava

Pode compatibilizar-se a chegada de novidades e de surpresas com um "fim de ciclo"? A guitarrista portuguesa vai mostrar que sim. E explica antes de subir ao palco
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Em palco, sem rede ainda que a protagonista prefira "o ensaio que vai permitir a improvisação à aventura e ao acaso", não faltará o retrato da Viagem que Marta Pereira da Costa iniciou há anos e que esta noite ganha um novo passo fundamental, "o maior desde o lançamento do disco". Não é difícil prever um serão em Movimento, perpétuo, em função da coragem de uma instrumentista e compositora se mostrar em pleno - Minha Alma, afirmará, com a ajuda das cordas da guitarra, a entrega à música, tal como Terra dará conta do contexto geográfico e cultural da artista. Que, à semelhança do que aconteceu no disco que a apresentou mais formal e sistematicamente a quem a ouve, não precisará de se esforçar para ultrapassar as fronteiras do fado, nem vai necessitar de colheradas de purismo para nele - no fado - aparecer mergulhada.

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Marta Pereira da Costa diz ao DN sentir-se "ansiosa", sem que este seja um sintoma de insegurança. Bem pelo contrário, depois de "muito trabalho, muitos ensaios, meses de ensaios", a ânsia vem precisamente da vontade de que chegue a hora de subir ao palco de "uma sala emblemática", rodeada de músicos e convidados para a ocasião, podendo "partilhar com os parceiros e com o público" aquilo que foi preparando à sua maneira, ou seja, metodicamente, mas sem jamais esquecer a importância do improviso. Incoerência? Contradição? Nada disso: é sobre o que está bem estudado e modelado que nascem os grandes repentismos, de alguma maneira "amparados" para nunca soarem como manifestações de exibicionismo, antes como prolongamentos da sedução que a música de Marta já carrega naturalmente, de raiz. Sempre com a certeza de que não é momento de poupanças, nem pensar: "Por um lado, quem conhecer o disco, vai perceber que nos esforçámos para não ir para este espetáculo reproduzir, simplesmente, os temas. Há mudanças, há evolução, há novidades..." E pelo outro? "Pelo outro, quis aproveitar este momento para estrear temas." Por outras palavras, para nos começar a fornecer os sinais de trânsito que vão balizar e orientar a próxima fase artística e profissional de Marta. "Talvez seja um fim de ciclo, sim... Mas sinto que é a ocasião certa para refletir, fazer o balanço do que se passou até agora e, com base nisso, planear, desenhar aquilo que será o meu caminho daqui em diante..."

Engenho e arte

De repente, parecia estar de volta a sra. engenheira, com desenhos e planeamentos. Mas a arte - com que Marta conviveu desde criança e que a levariam ao (a)braço da guitarra portuguesa, em que assume inicialmente destaque pelo género e, desde há algum tempo, pela qualidade e pela intensidade "unissexo" - também vive deste tipo de "engenho", como sabe quem a escolheu como modo de vida e, com essa opção, se viu forçada a enfrentar dificuldades, preconceitos (desfeitos com trabalho e com talento) e longas temporadas de aprendizagem. Não custa perceber, contas feitas, que Marta Pereira da Costa esteja a atravessar o momento mais feliz do romance que vive com a música.

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O concerto desta noite assume um papel central na contribuição para esse "estado de graça". Basta pensarmos nos músicos que acompanham a primeira figura: António Pinto na guitarra clássica, Nelson Cascais no baixo e no contrabaixo, Alexandre Dinis nos teclados, André Sousa Machado na percussão, José Quaresma na voz e na viola de fado. Como se não bastasse, há os convidados, como os instrumentistas João Frade, acordeão, e Pedro Jóia, guitarra, ambos já presentes no disco de Marta. Há mais repetentes, como Dulce Pontes, que junta o piano à voz, e Rui Veloso, que soma a guitarra ao canto. Hélder Moutinho, voz, é uma novidade absoluta. Depois, há uma convidada que merece a saliência, por vir de longes terras e de "percurso próximo": Tara Tiba, cantora. Marta explica: "É muito importante a presença dela, que decidiu vir da Austrália de propósito. Quis estar presente e dar uma ajuda importante, sabendo que não sairá daqui materialmente recompensada, uma vez que este concerto já tem despesas elevadíssimas... Mas, para mim, é fundamental que tenha decidido vir, até porque há alguns pontos de coincidência nos nossos percursos, no que toca a dificuldades e a sofrimentos... Só posso ficar agradecida e corresponder - quando ela lançar o seu segundo disco, lá irei eu até à Austrália..."

Tudo a postos para uma noite irrepetível. Para os ausentes, dois premiozinhos de consolação: o concerto será filmado e será gravado (pela Antena 1). Ainda assim, nada como tentar um lugar entre as testemunhas "oculares".


Marta Pereira da Costa

31 de maio, 21.30

Teatro Tivoli BBVA, Lisboa

Bilhetes de euro 10 a euro 20

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