Marinheiro português retido há seis meses em navio
"As autoridades apreenderam o navio e estamos nesta situação desde 16 de julho", referiu em declarações por telefone à Lusa.
"Não pagaram, estão em dívida, também não pagaram à tripulação. Está tudo em dívida, estamos aqui e não podemos sair sem receber o nosso dinheiro", precisou o marinheiro de dupla nacionalidade portuguesa e cabo-verdiana numa referência à empresa de transportes marítimos Naveiro, proprietária do navio.
Emídio Fonseca insiste que não pode abandonar o barco sem receber os seis meses de salários em atraso, e que também não foram pagos à restante tripulação, três homens de nacionalidade russa.
"No barco éramos cinco tripulantes, mas agora somos quatro, três russos, e eu que sou português. O comandante, um engenheiro, um primeiro-oficial e eu, que era marinheiro e agora faço de marinheiro e cozinheiro", indica.
Emídio Fonseca admite que no início passaram dificuldades -- "passámos mal", sublinha -- mas as condições melhoraram.
"Agora uma organização alemã vem entregar-nos comida, combustível e água, estamos melhor. Mas não temos dinheiro, a família está a passar fome em Cabo Verde, e a família deles está a passar fome na Rússia", revela o marinheiro, antes de referir que o capitão do navio não recebe o salário há oito meses.
Apesar de uma situação perto do desespero, Emídio Fonseca ainda não contactou com qualquer responsável consular português em França.
"Não falei com ninguém, não sei onde fica o consulado, acho que fica longe. Estou aqui com os meus companheiros à espera de receber e ir embora", justifica.
O capitão do navio prefere remeter todos os esclarecimentos sobre este impasse para os responsáveis da empresa portuguesa, que já foram contactados por Fernando Oliveira, um português que vive num apartamento frente ao porto de Bayonne e tem acompanhado a situação dos quatro retidos.
"Se o navio for apanhado abandonado torna-se mais complicado para a empresa recuperar o navio perante as autoridades", explica em declarações à Lusa.
"Hoje à tarde falei com o comandante do porto de Bayonne, disse-me que a autoridade francesa pode agir contra a companhia, e mesmo apreender o navio", acrescenta.
Fernando Oliveira tem-se deslocado diariamente ao navio. Oferece "café e bagaço de Portugal" aos quatro tripulantes, filmou-os, fotografou-os, contactou com um dos responsáveis da Naveiro, mas até agora sem resultados.
"Aqui [no barco] nem estão assim tão mal. Lá fora estão quatro graus negativos, aqui dentro estão 19, 20 graus. Têm aquecimento, têm tudo, aqui estão bem. Não têm é dinheiro para nada, mesmo para telefonar, estão num impasse. A resposta é sempre que é para a semana...", lamenta.
A administração da empresa de transportes marítimos Naveiro, contactada pela Lusa, afirmou que não tem comentários a fazer sobre o assunto.
Na terça-feira, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, disse que o Governo está a apoiar dois portugueses retidos no navio de carga "MV Penafiel", em Marselha, e a acompanhar o repatriamento de outros três de um cruzeiro arrestado na Grécia. O cargueiro arrestado em Marselha é também propriedade da Naveiro-Transportes Marítimos.
José Cesário disse ainda que outros seis portugueses retidos em dois navios de cruzeiro da empresa Classic International Cruises, em Marselha, já regressaram a Portugal com o apoio da empresa.
Quatro navios portugueses da Classic International Cruises (CIC) estão arrestados em portos europeus por dívidas.