Marido de deputada brasileira foi morto e suspeitos estão entre os seus 55 filhos
O Brasil foi abalado nesta semana pela notícia do assassinato de Anderson do Carmo de Souza, um bem sucedido pastor evangélico, casado com a também pastora, cantora gospel e deputada federal Flordelis dos Santos Souza, eleita pelo PSD do Rio de Janeiro nas eleições gerais de outubro passado. Mas o espanto maior chegou dias depois: primeiro, quando a polícia mandou prender dois dos 55 filhos do casal, acusados de terem planeado e executado o assassinato e, depois, quando em depoimento um outro filho implicou a própria deputada e três de suas irmãs no crime.
Anderson, 42 anos, foi morto por volta das 04.00 do último domingo, na garagem de sua casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói, na região metropolitana do Rio, pouco depois de regressar, acompanhado de Flordelis, de uma festa. Momentos antes, a deputada alertara o marido para o facto de o carro em que seguiam estar a ser seguido por duas motos. Após estacionar a viatura e entrar em casa, Anderson voltou à garagem porque se esquecera de um objeto. Foi nessa altura que os condutores das tais motos, encapuzados, dispararam cerca de 15 tiros (outras versões falam em mais de 30), a maioria na região genital da vítima.
Horas depois de ter seguido de urgência para um hospital em Santa Rosa, outro bairro da cidade, foi anunciada a sua morte. Os atiradores teriam dopado o cão da família para que não alertasse ninguém da presença de pessoas estranhas, segundo as primeiras investigações da polícia, cinco horas depois da execução, e saíram sem levar nenhum pertence da família. Testemunhas, na sua maioria moradores do mesmo condomínio de casas em que Anderson e Flordelis habitam, falam em três atiradores e não dois, como inicialmente fora noticiado.
A notícia comoveu a vasta base de fiéis de Anderson. A assessoria do casal imediatamente emitiu um comunicado: "O pastor Anderson estava cumprindo um ministério maravilhoso de redenção de almas, numa luta diária para evitar que o ódio continue a ceifar vidas por falta de Deus no coração dos seres humanos. Hoje é um domingo muito triste, muito triste em nossas vidas. Pedimos as orações de todos".
Entre as reações imediatas, destacou-se a da atual ministra dos Direitos Humanos Damares Alves, amiga do casal e também pastora evangélica. "Estou profundamente abalada com a notícia do assassino do meu querido amigo e pastor Anderson Carmo, esposo da minha também amiga deputada Flordelis. Uma pessoa ímpar, exemplo para tanta gente. Pai de 55 filhos, a maioria adotivos". Outros pastores e políticos se solidarizaram imediatamente com Flordelis, demonstrando choque com a notícia.
Mais chocados ficaram quando, no dia seguinte ao homicídio, dois dos 55 filhos do casal - apenas quatro biológicos - foram detidos por outros crimes, embora a polícia admitisse que não passavam de pretextos, já que os considerava suspeitos da morte do pastor.
A prisão de Flávio dos Santos Rodrigues, 38 anos, filho biológico de Flordelis e enteado de Anderson, decorreu em pleno enterro e teve como base o incumprimento de uma ordem judicial para se manter afastado 500 metros da ex-mulher que o acusava de violência doméstica. Já Lucas Cezar de Santos Souza, de 18 anos, adotado pelo casal, foi preso por envolvimento com tráfico.
A polícia acredita que Flávio e Lucas mataram Anderson por causa de um suposto romance fora do casamento do pastor - razão pela qual apontaram sobretudo para o órgão genital. Flordelis desmentiu categoricamente essa teste durante o enterro do marido: "Isso é ridículo, acusar alguém sem provas". Para ela, Anderson foi morto durante uma tentativa de assalto, num latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte. "É nisso que eu acredito: que foi um assalto e que ele morreu defendendo a família".
No entanto, a arma do crime foi encontrada dentro da casa da famíilia.
Logo no mesmo dia, até Wilson Witzel, o governador do Rio de Janeiro, se pronunciou: "A morte causa-nos muita perplexidade, estive com o secretário de polícia civil e ele disse-me que há suspeita de que um dos filhos adotados, não sei se formalmente ou informalmente, teria praticado o crime, estamos nessa linha de investigação, entendemos que é um fato lamentável e esperamos que tudo seja rapidamente esclarecido. Vamos acompanhar a investigação".
Horas depois, foi noticiado que Flávio, o mais velho dos suspeitos, confessara que disparara seis vezes contra o padrasto. E que a sua advogada, Luciene Suzuki, se havia retirado do caso na sequência.
Quinta-feira os dois acusados tiveram pedido de prisão preventiva formalmente pedida pela justiça do Rio.
Nessa mesma noite, entretanto, o jornal O Dia revelou que um outro filho, que estava em casa, disse à polícia na condição de testemunha que não ouviu ruídos de carros ou de motos naquela noite, e que Flordelis e três de suas irmãs já haviam tentado envenenar Anderson, razão pela qual o pastor vinha apresentando saúde debilitada. Para ele, a reação de tristeza das quatro nas cerimónias fúnebres são encenação.
O caso seguirá, portanto, na ordem do dia.
Pastora, cantora gospel com disco de ouro desde 2010 e deputada desde 2018, Flordelis, que no mês de março equacionou concorrer à liderança da poderosa bancada evangélica - também conhecida como Bancada da Bíblia - na Câmara dos Deputados, cresceu na favela do Jacarezinho, no Rio, e adotou 37 crianças (dos quais 14 bebés) de uma vez só, em 1994. Eram moradores de rua sobreviventes de uma chacina na cidade. Mais tarde adotaria outras 14 crianças.
O caso inspirou até um filme com elenco repleto de atores da TV Globo, como Deborah Secco, Bruna Marquezine, Letícia Sabatella ou Cauã Reymond, chamado "Flordelis - Basta uma Palavra para Mudar".