Maria José Valério morre aos 87 anos, vítima de covid-19

A cantora, que deu voz à "Marcha do Sporting", morreu no Hospital de Santa Maria, onde se encontrava internada. Tinha 87 anos. Marcelo e ministra da Cultura já reagiram à morte da artista.
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A cançonetista Maria José Valério, que deu voz à "Marcha do Sporting", morreu hoje em Lisboa, aos 87 anos, vítima de covid-19, disse fonte da Casa do Artista. A intérprete de "Menina dos Telefones" (1961) morreu no Hospital de Santa Maria, onde se encontrava internada.

De seu nome completo Maria José Valério Dourado, nasceu a 3 de maio de 1933 na Amadora e protagonizou outros êxitos como "Olha o Polícia Sinaleiro" e "As Carvoeiras".

Sobrinha do compositor Frederico Valério (1913-1982), logo na década de 1950 participou em vários espetáculos de variedades da então Emissora Nacional, e nas emissões experimentais da RTP, na Feira Popular, em Lisboa, depois de ter frequentado o Centro de Preparação de Artistas da Rádio da Emissora Nacional.

Já em 2000, participou na série televisiva "Casa da Saudade", de autoria de Filipe la Féria, tendo contracenado com Carmen Dolores, Anita Guerreiro, Virgílio Teixeira, Raul Solnado, João d'Ávila, Helena Rocha e Artur Agostinho, entre outros.

Dez anos antes, participou na série televisiva "Um Solar Alfacinha" ao lado de Deolinda Rodrigues, Pedro Pinheiro, Carlos Cabral, Natalina José e Natália de Sousa, entre outros.

No cinema, participou no filme "O Homem do Dia" (1958), de Henrique Campos e Teresita Miranda, protagonizado pelo ciclista Alves Barbosa (1931-2018).

Segundo a "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX", a sua "interpretação vocal privilegia a emancipação do texto com uma voz aberta, do peito, potente, com um timbre rouco", e destaca "a sua gestualidade como forma de potenciar a dimensão emotiva do texto".

Na década de 1960, foi eleita rainha da Rádio de Goa, território então sob administração portuguesa.

Em 1962, casou com o matador de touros José Trincheira, que marcou a atualidade da época, com transmissão em direto pela RTP. O casamento foi celebrado pelo então cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Cerejeira, na igreja do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, tendo o Papa mandado tocar os sinos em Roma, em sinal de bênção.

A artista gravou, em homenagem ao marido, do qual se veio a separar, o 'pasodoble' "Trincheira", no qual exalta as suas qualidades toureiras. O toureiro despediu-se das arenas em 1989.

Em 2004, recebeu a Medalha de Mérito da Cidade de Lisboa, grau ouro. Em maio de 2009, o município da Amadora inaugurou um centro cultural com o seu nome, na freguesia da Venteira.

Em 2017, liderou, com o cantor António Calvário, o espetáculo "Do musical à revista".

O seu repertório, dividido entre o fado e a canção ligeira, inclui temas como "Cantarinhas", "Fado da Solidão", "Expedicionário", "Um Dia", "Casa Sombria", "Deixa Andar", "Férias em Lisboa", "Longos Dias", "Lisboa, Menina Vaidosa", "Nunca Mais", muitos da dupla de autores Eduardo Damas e Manuel Paião, que assinam também a "Marcha do Sporting".

Nos inícios da década de 1970 realizou uma temporada de cerca de um ano no Brasil, um dos vários países onde atuou, além de Angola, França, Espanha, Canadá e África do Sul.

O Sporting Clube de Portugal, em nota de condolências no seu site, "manifesta o seu pesar pela morte de Maria José Valério Dourado"

"A artista, Sportinguista de coração, marcava presença em Alvalade sempre que podia e participava em várias das festas Leoninas espalhadas pelo País", refere a mesma nota. "Aos familiares e amigos, o Sporting CP manifesta o seu mais profundo pesar, não deixando de enaltecer e agradecer os anos de amor e dedicação ímpar de Maria José Valério ao Clube".

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte da cantora Maria José Valério, a voz da "Marcha do Sporting", que destacou como "exemplo da sua paixão clubística e do seu estilo emotivo".

Maria José Valério morreu hoje, aos 87 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde se encontrava internada, vítima de covid-19.

"Apresento as minhas condolências à família de Maria José Valério, com quem tive o gosto de conversar muitas vezes", escreveu Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem de pesar publicada no portal da Presidência da República na Internet.

Nesta nota, refere-se que Maria José Valério se notabilizou "como intérprete de fado, de música ligeira e de marchas", com êxitos como "Menina dos Telefones", "Olha o Polícia Sinaleiro", "As Carvoeiras", e a célebre "Marcha do Sporting", apontada "exemplo da sua paixão clubística e do seu estilo emotivo".

"Sobrinha do compositor Frederico Valério, cujas canções gravou, a sua carreira como cantora e atriz fez-se sobretudo na Emissora Nacional e na RTP (desde os anos das emissões experimentais)", lê-se no texto.

Nesta mensagem de pesar, assinala-se ainda que Maria José Valério foi distinguida com a Medalha de Mérito pela Câmara Municipal de Lisboa, em 2004.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou a morte da cançonetista Maria José Valério, recordando-a como uma "figura inesquecível da canção portuguesa".

"Entre as várias vozes que animaram a canção portuguesa, Maria José Valério manteve sempre um lugar de especial afeição junto dos públicos, sendo os temas por si popularizados cantados e recordados entre várias gerações", lê-se na nota de pesar.

Graça Fonseca recorda que, "da rádio ao teatro de revista, a intérprete faz parte de uma galeria de artistas que contribuíram para o imaginário popular português, sendo a sua persistência na prática profissional um exemplo de dedicação ao público que sempre admirou a sua irreverência e a alegria contagiante, que passava nas suas interpretações".

As cerimónias fúnebres da cançonetista Maria José Valério realizam-se no sábado, em Cascais, disse à agência Lusa fonte da Casa do Artista.

A cerimónia de cremação de Maria José Valério realiza-se no sábado, dia 06, às 18.00, no Centro Funerário de Cascais, distrito de Lisboa.

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