Maria João Bastos, uma espia feminista em estreia na RTP

Um dos pratos fortes da ficção da RTP 1 para 2020 tem já estreia marcada para esta quarta-feira. Maria João Bastos é a estrelas de <em>A Espia</em>, oito episódios de espionagem pura na Lisboa da Segunda Guerra Mundial. A atriz respondeu ao DN via mensagem de vídeo.
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Maria João Bastos é por estes dias omnipresente e, enquanto não estreia a reposição da telenovela da TVI Destinos Cruzados, é um dos rostos da novela Na Corda Bamba. Também vamos vê-la nesta semana como nunca a vimos: uma espia luso-britânica em A Espia , a série de espionagem que reimagina Portugal como cenário de jogos de poder e da caça ao volfrâmio em plena Segunda Guerra Mundial.

Com Daniela Ruah, a atriz protagoniza esta história de espias entre Lisboa e Porto e em que factos históricos se cruzam com noções de ficção que envolvem o imaginário do Estado Novo, forças secretas dos Aliados e agentes nazis. Tudo embrulhado numa grande produção que retrata com fidelidade a sociedade portuguesa do começo dos anos 1940, cruzando figuras reais com vilões misteriosos.

Além de Ruah e de Bastos, o elenco tem também Diogo Morgado, um luso-germânico que tem um fraquinho pela personagem de Daniela Ruah; Marco d'Almeida, António Capelo, Luís Filipe Eusébio, Sisley Dias e Adriano Carvalho, um mau-da-fita composto com uma tangível sensação de ameaça.

A série foi concebida pelos próprios produtores, Pablo Iraola e Pandora da Cunha Telles, e tem nos créditos argumentistas como José de Pina, Rui Cardoso Martins, Raquel Palermo, Martim Baginha Cardoso e a cineasta Cláudia Clemente. A realização é Jorge Paixão da Costa, embora 30% dos episódios tenham cenas realizadas por Edgar Pêra e João Maia, fresco da aclamação de Variações. Acima de tudo, é uma série com uma pretensa dimensão de cinema.

Aliás, depois de Três Mulheres e especialmente Sara, a ficção televisiva portuguesa parece ter entrado numa escala mais ambiciosa e que pode eventualmente ser benéfica para a implementação de uma rotina industrial de um cinema narrativo com aspirações mais comerciais, embora essa seja sempre uma questão de divisão. Maria João Bastos vinca esse suposto olhar cinematográfico.

A ideia da Ukbar Filmes, a produtora da série, era também criar um potencial para a internacionalização desta história. Numa altura em que as plataformas de streaming não olham tanto para o selo anglo-saxónico, uma história com estes ingredientes de memória da guerra e de jogo de espionagem global é bem possível que possa ter apelo internacional.

Com valores de produção generosos, aos quais não serão estranhos a coprodução com Espanha, é um produto televisivo que está precisamente a ser negociado para ser emitido lá fora. De lembrar que Auga Seca, coprodução entre Portugal e Espanha, está neste momento no menu da HBO Portugal.

A Espia vive muito do carisma das duas atrizes principais. Daniela Ruah, com uma firmeza e elegância muito portuguesas, e Maria João Bastos a brilhar numa personagem que usa o seu poder de sedução para conseguir informação.

Duas sedutoras que se aliam numa trama cheia de jogadas sombrias. Movem-se de Lisboa ao Porto entre salas de jogo requintadas, hotéis finos e casas de classe alta. Isto num tempo em que um guarda-roupa impecável e solene era código de condutas e respeitabilidade. Maria João Bastos confessa mesmo ser fascinada pelo período...

Para dar o tal contexto histórico, a produção recorreu à consultoria de Margarida Magalhães Ramalho, historiadora e autora de Lisboa - Uma Cidade em Tempos de Guerra, embora o embrulho seja sobretudo o de entretenimento puro, mesmo estando em foco o papel das mulheres neste período. De alguma forma, os autores de A Espia quiseram salientar um esforço de emancipação feminina.

Em tempos de #MeToo, a ficção portuguesa não fica de fora... E as mulheres foram sempre importantes nos meandros da espionagem nesta guerra, de Josephine Baker a Nathalie Sergueiew, por muito que tenham tido menos protagonismo histórico. Aqui são as heroínas e tabuleiro vital entre as forças opressivas da PVDE (a polícia antecessora da PIDE), a Legião Portuguesa, os serviços criados pelo MI6, a Special Operation Executive (onde Ian Flemming operava), a rede alemã da GESTAPO, a SD-Sicherheitsdienst e os espiões não nazis da Abwehr. A Espia revela o papel escondido do nosso país no teatro da guerra e por que razão ganhámos a alcunha de twenty-four land...

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