Maria Bethânia foi eleita a rainha do Carnaval 2016

Escola de samba da Mangueira, que homenageou a cantora baiana, foi a vencedora do desfile carioca. Críticos consideraram justo o triunfo da originalidade sobre o luxo
Publicado a
Atualizado a

Maria Bethânia, que completará 70 anos em 2016, foi a grande vencedora do Carnaval do Rio de Janeiro. A escola de samba que a homenageou no desfile na Marquês do Sapucaí, a popular Mangueira, conquistou o 19º título da sua história, após intensa luta na contagem dos votos dos jurados na quarta-feira. Depois de ter sido desaconselhada a participar da festa na favela da Mangueira por motivos de segurança na quarta-feira à noite, Bethânia participará amanhã no tradicional Desfile das Campeãs.

"Fico honrada e muitíssimo feliz pelo facto da Mangueira ter recebido este prémio", exclamou a cantora e compositora, que festejou no ano passado 50 anos de carreira e é considerada um dos maiores ícones da música popular brasileira. "A Mangueira é a minha escola desde 1965, quando cheguei ao Rio, levaram-me na altura às cinco horas da manhã para ver as escolas, entrou então em mim algo verde e rosa [as cores da escola] e hoje a escola faz isto, homenageando o meu orixá [divindade afro-brasileira]".

Com o nome "A Menina dos Olhos de Oyá" o desfile foi um tributo não só a Bethânia mas também a Oyá, o orixá de devoção da cantora baiana. A comissão de frente teve mulheres negras de seios nus, num carro abre-alas surgiu a representação de Oyá como "a senhora mãe da tempestade", o casal composto por mestre-sala e porta-bandeira aludiu a deuses afro-brasileiros e outros setores traziam referências a cultos religiosos baianos.

Mas o lado profissional da cantora, como os seus principais sucessos enquanto intérprete do irmão Caetano Veloso, de Chico Buarque ou de Roberto Carlos também foi sublinhado no desfile.

Os críticos exaltaram a originalidade e a emoção da Mangueira mesmo sem adereços tão luxuosos como as concorrentes.

Outro dos vencedores foi o carnavalesco (principal responsável pelo enredo) Leandro Vieira. "O juri, tal como o povo, achou que a Mangueira devia ganhar e ganhou!", disse Vieira, que, aos 31 anos, é o mais novo carnavalesco da avenida. O presidente da escola, Chiquinho da Mangueira, destacou que "o público se rendeu ao desfile e ao refrão do samba 'quem me chamou, chamou para sambar/não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá'".

Com dificuldades financeiras, a Mangueira, fundada em 1928, pensou em realizar um enredo patrocinado mas decidiu-se no final por uma tradição da escola: a homenagem. Homenageara Braguinha (1984), Dorival Caymmi (1986), Carlos Drummond de Andrade (1987) e Chico Buarque (1998) e ganhara sempre. A última vitória, porém, datava de 2002, quando celebrou a região Nordeste, de onde é natural Bethânia.

"A Mangueira é onde o Rio é mais baiano, então tinha de ganhar com a Maria Bethânia", resumiu Caetano Veloso nas redes sociais, hora depois de divulgados os resultados.

A vitória da Mangueira só foi decretada na última votação, após intensa luta com as também tradicionais Portela, terceira classificada, e Salgueiro, quarta. A Unidos da Tijuca acabou em segundo e a Beija-Flor em quinto. "Os jurados devem entender mais de enredo e fantasia do que nós, pelas notas que deram", desabafou Farid David, presidente da Beija-Flor, irritado com as notas. "Jurado é feito para julgar e nós para aceitar", conformou-se Regina Fernandes, líder do Salgueiro.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt