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A Câmara Municipal de Marco de Canaveses está falida. Até agora, a dívida da autarquia chegou aos 71 milhões de euros. O actual presidente do município diz que o montante não é definitivo. Ainda falta contabilizar algumas parcelas, mas a informação disponível é mais do que suficiente para se perceber o caos. O autarca Manuel Moreira, recém-chegado à responsabilidade de gerir este descalabro, começou por avaliar a verdadeira dimensão do prejuízo herdado do seu antecessor. E consegui-lo não tem sido fácil. Fornecedores, juntas de freguesia e colectividades resistem a responder à solicitação da câmara de também eles revelarem o deve/haver. Esta resistência, à partida contra natura, resulta da ampla teia de negócios sombrios e dos compromissos espúrios tantas vezes impunes.

Avelino Ferreira Torres é o autor deste atentado aos munícipes de Marco de Canaveses. Durante muitos anos governou a autarquia conjugando um estilo arrogante e insultuoso com uma gestão em que confundiu interesse público com o seu interesse particular. A herança que deixou aos 52 mil habitantes é uma hipoteca do concelho por uma geração. Nos próximos 20 anos a autarquia está impedida de contrair novos empréstimos. A falência corre o risco de ficar impune, apesar das tardias inspecções e auditorias e dos processos judiciais que nunca impediram o livre curso de um político ruinoso. Avelino Ferreira Torres fez questão de exibir a prepotência e o desrespeito pelas instituições. As instituições hesitaram sempre em aclarar suficientemente a sua administração. É impressionante que ainda hoje não se conheça com rigor o património da autarquia nem as suas responsabilidades financeiras. Como ainda impressiona que tantos responsáveis políticos tenham favorecido, nem que seja com o silêncio, os desmandos de um político que abusou sistematicamente da confiança dos eleitores.

Na desgraça de Marco de Canaveses fica o alívio de estar agora entregue a gente séria. E fica também uma lição: o escrutínio dos poderes é insuficiente. Há muito a fazer para que a actividade política não seja confundida, como sarcasticamente fazia o americano Ambrose Bierce no seu Dicionário do Diabo, com uma "luta de interesses disfarçada de disputa por princípios". Olhar para um político como uma enguia no lodaçal foi sempre uma tentação. Hoje e sempre há uns mais iguais do que outros. Importa estar atento e vigilante.

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