Agustín Marchesín, 31 anos, guarda-redes argentino que joga no América, do México, foi o eleito da SAD do FC Porto para suceder a Iker Casillas, que devido a um enfarte sofrido em maio decidiu fazer uma pausa na carreira e assumir outras funções fora do campo. Curiosamente, o argentino tem precisamente como ídolo o espanhol, como confessou numa entrevista a um site mexicano, em março, ainda longe de saber que meses depois estaria nos planos do FC Porto.."Casillas foi sempre o guarda-redes de que mais gostei, desde jovem. Tenho uma tremenda admiração por ele. Cresci com o Iker a defender a baliza do Real Madrid e o que mais admiro nele é a forma como consegue defender bolas impossíveis. É muito difícil conseguir estar tantos anos a jogar ao mais alto nível", disse..A transferência foi oficializada na quarta-feira à noite através das redes sociais do América. "O Clube América chegou a acordo para a venda definitiva do guarda-redes argentino Agustín Marchesín a uma das equipas mais importantes de Portugal e da Europa, o FC Porto", podia ler-se no comunicado do clube mexicano. Numa mensagem na sua página oficial noInstagram, Marchesín disse que esta "é uma grande oportunidade". "Sei que é uma grande oportunidade a que vou poder viver no Porto, o sonho de qualquer futebolista", escreveu o guarda-redes, dizendo que esta "é a despedida mais dolorosa" da sua carreira..Em setembro de 2018, Agustín Marchesín foi notícia pelos piores motivos. Durante um treino agrediu com um pontapé um jogador dos juniores do América, do México, num lance perfeitamente normal em que o adolescente apenas o pressionou na área. O incidente foi gravado e por isso tomou proporções maiores, sobretudo nas redes sociais, com o vídeo a correr o mundo. No mesmo dia, o guarda-redes retratou-se: "Todos podemos cometer erros e eu errei. Na vida aprendemos e crescemos com os erros e, lamentavelmente, o que eu fiz não foi bonito. Já pedi desculpas ao Arturo, são coisas que acontecem no calor dos treinos.".Um acidente de percurso numa carreira em que não existem outros casos ou polémicas. Marchesín, aliás, é conhecido pela sua forte personalidade e por ser um jogador com princípios, características que ficaram bem vincadas já neste ano, num episódio que envolveu um colega de equipa..Num jogo do América frente ao Lobos BUAP, da liga mexicana, os adeptos assobiaram Nicolás Castillo, ex-jogador do Benfica. E no final do jogo, Marchesín não se conteve: "Sou um dos jogadores mais importantes desta equipa. Num clube existem duas classes: os que se querem dar bem com toda a gente e os que defendem os seus até à morte. Eu pertenço a este grupo, os que defendem os colegas até à morte. Por isso deixem o Nico em paz. Prefiro que assobiem a mim do que a um colega." Esta característica de líder e as boas qualidades como guarda-redes terão sido decisivas para convencer o treinador Sérgio Conceição..A sua forte personalidade ficou também demonstrada no ano passado, quando desabafou publicamente a sua dor por ter ficado fora do lote de convocados de Jorge Sampaoli da seleção argentina que participou no Mundial da Rússia. "Fiquei muito magoado. Foi um dos golpes mais duros da minha carreira. Sampaoli disse-me que eu ia estar na lista do Mundial. Aliás, não foi só a mim. Disse a outros jogadores e depois não os convocou. É duro quando te criam ilusões e depois te puxam o tapete", atirou..Marchesín nasceu em San Cayetano, uma pequena povoação a sul de Buenos Aires. Até aos 15 anos alimentou o sonho de jogar como avançado, "como número 9", posição em que ainda atuou nas camadas jovens do clube da cidade onde nasceu. Até que um dia o guarda-redes estava lesionado e o treinador resolveu pô-lo à baliza. E nunca mais saiu de entre os postes. Aliás, uma das características de Marchesín, além dos bons reflexos, é precisamente o jogo com os pés, uma qualidade que desenvolveu por ter jogado vários anos como atacante..Em agosto de 2016, o guarda-redes foi protagonista de uma situação curiosa. Quando representava o Santos Laguna, do México, lesionou-se na mão direita a poucos minutos do final do jogo com o Puebla. Mas como a equipa não podia fazer mais substituições, falou com o treinador e rapidamente encontrou-se uma solução:um dos seus colegas foi para a baliza e Marchesín foi atuar como avançado. Não marcou, mas a sua equipa também não sofreu golos: a partida terminou sem golos..Do clube de bairro onde jogou até aos 15/16 anos, o guarda-redes rumou ao Huracán de Tres Arroyos e daí ao Lanús, clube da 1.ª divisão argentina, onde permaneceu até 2015 - pelo meio foi internacional sub-20 pela Argentina. Foi precisamente ao serviço do Lanús que se destacou e em março de 2011 se estreou pela seleção argentina, entrando na segunda parte de um jogo particular frente à Venezuela. Teve de esperar mais três anos para voltar a representar a seleção do seu país, novamente num particular, e outra vez 45 minutos na goleada por 7-0 a Hong Kong. Disputou mais dois jogos pela seleção das Pampas, mas sempre particulares..Em 2014 aceitou uma proposta do Santos Laguna, do México, onde chegou a ser treinado pelo português Pedro Caixinha. Aliás, o agora técnico do Cruz Azul, grande rival do América, teve há dias de vir desmentir uma informação que correu no México, de que teria aconselhado o guardião ao FC Porto. "Quem faz recomendações são os agentes. Não sou empresário, sou treinador de futebol. Em todos os lugares que conheço, onde haja uma relação de amizade e nacionalidade, se há um interesse de um clube português num jogador da Liga mexicana, quem será a primeira pessoa que vão contactar a pedir informações? É verdade que fui contactado para dar informações. Mas a questão da recomendação é totalmente falsa", referiu Caixinha..Em dezembro de 2016 assinou pelo América, clube pelo qual se sagrou campeão mexicano no ano passado - durante esta passagem foi considerado duas vezes o melhor guarda-redes do campeonato mexicano. Antes de assinar pelo América, teve a possibilidade de rumar ao Boca Juniors, clube pelo qual torce toda a sua família. Mas optou por ficar no México. Aliás, nessa altura chegou a confessar que se um dia regressasse à Argentina, o destino seria outro: "Escolhia o Lanús, um clube que me deu tudo. Sei que não sou um jogador importante a nível nacional na Argentina, mas sei que para os adeptos do Lanús seria um golpe duro assinar pelo Boca. Por isso, se tiver de jogar na Argentina, será no Lanús."."Sempre foi um rapaz da bola. Estava todo o dia a jogar à bola e a partir vidros junto dos outros rapazes do bairro. Teve uma infância feliz sempre ao lado de uma bola", contou em 2015 ao jornal El Universal o pai do guarda-redes, garantindo que o filho é o grande orgulho dos 8000 habitantes de San Cayetano: "O Lanús deu-lhe a oportunidade de chegar à 1.ª divisão, foi onde ele começou a despontar. Para nós, que vivíamos a 500 quilómetros, foi uma alegria enorme, não só para os familiares como para os habitantes de San Cayetano, porque nunca ninguém desta zona se tinha tornado um jogador profissional de futebol.".Agustín Marchesín deverá viajar para o Porto acompanhado, já que os dragões pretendem fechar a contratação de Matheus Uribe, médio colombiano que também atua no América do México. A operação conjunta - Marchesín e Uribe - deve rondar os 17 milhões de euros..O guarda-redes vê no FC Porto uma oportunidade para lhe abrir de vez as portas da seleção argentina, sobretudo se os dragões conseguirem o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões. A vontade de o guardião se transferir para o FC Porto era tanta que terá mesmo abdicado de uma percentagem de 10% a que tinha direito da transferência para facilitar as negociações entre o América e a SAD portista.